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quarta-feira, 25 de julho de 2018

APÓS ANOS VIVENDO NO EXTERIOR, PERCUSSIONISTA AIRTO MOREIRA LANÇA PRIMEIRO DISCO FEITO EM SOLO BRASILEIRO

'Aluê' foi gravado por músicos do Brasil numa fazenda do interior de São Paulo

Por Ana Clara Brant 



Airto Moreira é daquelas poucas pessoas consideradas uma sumidade. E, mais do que isso, é unanimidade no mundo musical. Apontado como um dos grandes percussionistas do mundo, esse catarinense de Itaiópolis fez carreira nos Estados Unidos, onde vive desde o final dos anos 1960. Curiosamente, após meio século em solo norte-americano, o filho pródigo voltou ao Brasil para lançar o seu primeiro trabalho tocando só com músicos de seu país e gravado no Brasil. “Este é o meu primeiro álbum solo no Brasil, porque as gravadoras brasileiras alegavam que música brasileira tem no Brasil e jazz eles importam dos Estados Unidos”, justifica.

Aluê (Selo Sesc) traz, ao mesmo tempo, sonoridade bem abrasileirada, genuína, mas também sofisticada. Provavelmente influência do jazz, que o artista de 76 anos tanto conhece. Aliás, o percussionista e cantor tocou ao lado da lenda Miles Davis (1925-1991) e de outros músicos de primeira grandeza – Dizzy Gillespie, Chick Corea, Herbie Hancock, Paul Simon, Santana e Quincy Jones. “Tanto minha sonoridade quanto a música que toco chamo de brazilian jazz. O fato de ter gravado esse álbum no Brasil naturalmente influenciou na direção e no conteúdo do resultado final.”

A imagem da capa já causa impacto. Mostra um galo marrom em fundo colorido e é Brown rooster, pintura de Aldo Sampieri. A magistral Aluê é a faixa escolhida para batizar e abrir o disco. Composta com a parceira de vida e trabalho, a cantora e compositora Flora Purim, a canção define a tônica e o conceito do álbum, apresentando mistura de ritmos, instrumentos e vozes. Com direção artística do próprio Airto, ele conta que o nome nasceu numa “viagem psicodélica”, quando ele e Flora estavam em uma praia, na Califórnia dos anos 1970. “Para mim, Aluê significa bom dia e é como o galo cantando de manhã.”

Gravado em estúdio de uma fazenda no interior de São Paulo, o projeto começou com um telefonema do produtor e baterista Carlos Ezequiel. Foi dele a ideia de fazer o disco no Brasil. “Daí pra frente, as coisas foram se encaixando naturalmente, inclusive, a escolha do estúdio, lugar onde já gravaram grandes músicos brasileiros”, acrescenta. O CD conta com o próprio Carlos Ezequiel (bateria e produção), José Neto (guitarra), a filha Diana Purim (voz), Sizão Machado (contrabaixo), Fabio Leandro (piano), Vitor Alcântara (saxofones).

“Diana é o fruto do da minha união com a Flora e, desde criança, manifestou grande sensibilidade musical. O guitarrista José Neto já é meu parceiro há mais de 30 anos e, além de tocar, é um grande arranjador. Sua energia é altamente positiva. O baixista Sizão Machado tem a versatilidade de tocar acústico e elétrico e pode executar qualquer tipo de música. Ele contribuiu muito para o resultado final. Já o saxofonista e flautista Vitor Alcântara foi indicado pelo Carlos Ezequiel e nos conhecemos durante os ensaios. Ele se encaixou facilmente ao som e ao estilo de música que gravamos. Fábio Leandro toca piano e teclado e é muito bom tanto solando como acompanhando, o que é uma coisa muito difícil. E o Carlos Ezequiel conhece minha música a fundo. Além de tocar música brasileira, tem bom conhecimento de jazz”, analisa.

O “primeiro disco brasileiro” de Airto Moreira faz revisão de discos importantes de sua carreira. A própria música-título, Aluê, é do primeiro trabalho solo de Airto, Natural feelings (1970). Mas o álbum traz também três composições inéditas: Rosa negra, Guarany e Não sei pra onde, mas vai. Uma das mais belas é Lua Flora (Flora Purim e José Neto), com participação do pandeiro de Krishna Booker, casado com Diana e genro de Flora e Airto.

Airto Moreira – que teve como primeiro instrumento um pandeiro de plástico presenteado pela avó – se diz um cidadão do mundo, mas revela que quer passar os últimos dias de vida no Brasil. Considerado um dos músicos brasileiros mais influentes fora do país e vivendo nos Estados Unidos desde 1967, nunca se esqueceu de sua origem. “Sempre dava um jeito de tocar de uma maneira que expressasse minhas raízes. Aliás, nunca me naturalizei norte-americano e meu passaporte é brasileiro. Para mim, música é vida. Quando toco. sinto-me totalmente livre do mundo.”


Airto Moreira
Selo Sesc
8 faixas
Preço médio: R$ 20

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