Por Mariana Ceccon
Despartar para a música
Renato Borghetti e as crianças da Fábrica participaram de apresentação no Multipalco do Theatro São Pedro
Os gaiterinhos da fábrica fazem uma hora de aula semanal. Os critérios para participar é ter entre sete e 15 anos e estar estudando o ensino regular. Inclusive, Borghettinho ressalta que os alunos da fábrica apresentaram melhora no rendimento escolar após o começo das aulas de música.
— Nós percebemos que as crianças melhoram muito no rendimento escolar em razão do projeto, principalmente na matemática. Porque a música é mais matemática. Além disso, as turmas estimulam muito a coletividade e o espírito de grupo e eles acabam rendendo mais na escola — conta orgulhoso Renato Borghetti.
O adolescente João Gabriel Almeida Lisboa, 16 anos, herdou do pai a paixão pela gaita-ponto e já participa do projeto há seis anos. Ele faz aulas todas as quartas-feiras à tarde.
— O projeto me aproximou muito da música. Eu gosto muito de rock, de música clássica e folk. Esse ano eu comecei a aprender a tocar violão também e já estou tentando fazer composições no violão. Na gaita eu já compus uma música. É uma valsa chamada Tempestade.
Pablo Almeida Lisboa, 10 anos, é o irmão mais novo de João e ingressou no projeto aos sete anos. A música que mais gosta de tocar é Pra ti, guria, de Gilberto Monteiro.
— Eu me sinto melhor agora tocando gaita, principalmente nas amizades na escola. Fico muito feliz.
Parceiro de turma dos irmãos, o adolescente Eduardo Susin Cardeal, 13 anos, conta que a paixão pela música começou muito cedo, mas já havia tentando tocar outros instrumentos, como violão, mas foi a gaita-ponto que despertou o encanto do jovem gaiteiro.
— A gaita é mais difícil e mais legal de tocar. Preciso de mais conhecimento para lidar com o instrumento. O maior desafio é continuar nesse ritmo e aprender a tocar cada vez melhor, porque considero que ainda tenho pouco conhecimento sobre música. De repente eu até viro um músico profissional — revela o aluno, que gosta de rock, clássico e música irlandesa.
Borghetti explica que o objetivo é despertar a gurizada para a música, mas que não está preocupado com a profissionalização dos alunos.
— Os alunos é que vão definir se querem ou não querem seguir adiante. O que eu acho bonito é que para aprender a tocar não precisa ter o dom. Todo mundo toca. Quem entrar e se dedicar, vai tocar e já vai conseguir entreter um churrasco com a família.
Prédio histórico
A fachada original foi mantida com o intuito de preservar a memória do prédio
A sede da Fábrica de Gaiteiros é um pavilhão de 1932 (mesmo ano em que nasceu Rodi Pedro Borghetti, pai do Borghettinho), localizado às margens do Guaíba, na Barra do Ribeiro. Inclusive, a fachada original foi mantida com o intuito de preservar a memória do prédio. É lá que são fabricados os instrumentos usados para o aprendizado dos gaiteirinhos. Também são realizadas aulas no local.
As salas da Fábrica são envidraçadas, o que permite os visitantes acompanhem as etapas dos processo de produção
O projeto arquitetônico foi desenvolvido por Emily Borghetti, filha de Renato. As salas de fabricação são envidraçadas, o que permite que quem subir no mezanino tenha uma visão aérea da fábrica e das etapas dos processo de fabricação.
— Quanto o visitante entra na fábrica, ele pode ver à esquerda toda a parte de fabricação. Começa pela marcenaria, onde concentra a parte de corte de madeira. Depois vem a sala do fole, onde ocorre a dobra do papelão e são colocadas a cobertura de tecido e as cantoneiras do fole. Depois vem a estamparia, que é parte de metal, onde são feitas as palhetas. A próxima fase é montagem e, por fim, a última etapa é a sala de afinação — explica a arquiteta.
O prédio também conta com um "bolicho". No mezanino, foi construído um auditório de 85 lugares. O diferencial do local é que a parede ao fundo do palco é de vidro e funciona como uma grande janela com vista para o Guaíba.
A parede ao fundo do palco do auditório é de vidro e funciona como uma grande janela com vista para o Guaíba
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