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domingo, 18 de março de 2018

MITO DA MPB, GERALDO VANDRÉ VOLTA AOS PALCOS EM SHOW GRATUITO APÓS 50 ANOS

Última apresentação do paraibano foi na véspera da publicação do AI-5


Por Luiza Maia



Geraldo Pedrosa de Araújo Dias na década de 1960 e em registro mais recente, de 2008. 


Uma das figuras mais intrigantes da música popular brasileira, dado o ostracismo que se impôs desde o retorno ao Brasil, em 18 de agosto de 1973, Geraldo Vandré, nome artístico de Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, voltará aos palcos para dois concertos nesta semana. O paraibano de João Pessoa se apresentará na terra natal nos dias 22 e 23, no Espaço Cultural José Lins do Rêgo, na capital paraibana. Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos em 21 de março.

A apresentação, já histórica, será composta por dois atos. O primeiro contempla seis peças para piano escritas em parceria com a pianista Beatriz Malnic. A dupla dividirá o palco. O segundo, com a Orquestra Sinfônica da Paraíba, será dedicado a canções de Vandré. O repertório, adianta texto enviado à imprensa, resgata a clássica Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando), cujas estrofes foram emblemáticas para as lutas pela democracia nos tempos de ditadura, À minha pátria, Mensageira e Fabiana. 

Ícone da geração dos festivais de música, Vandré fez o último show no Brasil em 12 de dezembro de 1968, véspera da publicação do Ato Institucional nº 5, responsável por ceifar vários direitos dos cidadãos brasileiros e expulsar compatriotas. Exilou-se e voltou ao país em 1973, quando, no aeroporto, concedeu entrevista, escoltado por militares, e prometeu fazer "canções de amor e paz a partir dali".

Silenciou. Não mais lançou inéditas e se negou a responder questionamentos sobre sessões de torturas ou acordos com o governo para não mais lançar músicas com teor político ou de protesto. O último disco foi de 1971, Das terras de Benvirá, gravado com o Quinteto Violado, na França. O último livro, publicado em 1973 no Chile, ganhará primeira edição brasileira com lançamento na quarta-feira. 

Em 2014, Vandré alimentou as esperanças de um retorno: participou de um show de Joan Baez e comentou a possibilidade de um projeto em espanhol, mas nada passou das palavras jogadas ao vento. "Pode ser ainda que entre uma apresentação e outra eu recite alguns de meus poemas. Vai depender da emoção do momento. Eu tenho noção da importância desse concerto para o país", diz o artista, em material divulgado pela imprensa pela Secretaria de Cultura da Paraíba.

Em uma rara entrevista, concedida ao Viver às vésperas dos 80 anos, em 2015, ele revelou ter guardadas muitas composições em espanhol, mas não garantiu divulgá-los: "Isso aí nem eu sei". "Não é voltar atrás. É mais à frente", corrigiu, à época, sobre a chance de "voltar atrás" quanto à decisão de não mais atuar como artista. Menos de três anos após respostas misteriosas sobre a possível retomada da trajetória artística , enfim, Geraldo Vandré rompe o silêncio. O Brasil muito mudou e viveu desde a véspera do AI-5, mas ainda enfrenta ameaças à democracia e aos direitos básicos de seus filhos. Os versos dele, quiçá, podem trazer esperança.

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