Projeto teve início em 2014, em parceria com o violonista Luiz Flavio Alcofra
Por Ana Clara Brant
O Cruzeiro/Arquivo EM - 24/5/1949 (foto: O Cruzeiro/Arquivo EM - 24/5/1949)
Nos últimos anos de vida, Aracy de Almeida (1914-1988) ficou marcada como jurada do programa de calouros de Silvio Santos e pelo indefectível bordão “vou mandar 10 paus”. Ainda hoje, poucos sabem que essa carioca, com seu jeito especial de cantar, marcou de forma especial a história da música popular brasileira.
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“As novas gerações, principalmente, ficaram com o registro dela como pessoa rabugenta e ranzinza, sempre a identificaram como aquela jurada. Uma das funções do nosso trabalho é justamente corrigir esse equívoco, jogar luz sobre uma das figuras mais importantes da música brasileira. Aracy foi revolucionária em todos os sentidos”, ressalta Marcos Sacramento. O cantor se refere à série de shows e ao disco Aracy de Almeida – A rainha dos parangolés (Acari Records), homenagem à “Dama do Encantado”, apelido que ela ganhou devido ao subúrbio onde viveu.
Idealizado pelo compositor e produtor Hermínio Bello de Carvalho – amigo e admirador da artista –, o projeto teve início em 2014, ano do centenário de nascimento dela. Na época, Marcos Sacramento e o violonista Luiz Flavio Alcofra se apresentaram em São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói e Curitiba.
O repertório traz canções eternizadas por Aracy, sobretudo as de Noel Rosa. Durante muitos anos, a carioca ficou conhecida como a intérprete favorita do sambista. “Ela carregou isso para o bem e para o mal. Apesar de realmente o Noel ter predileção pela Aracy, ela ficou com essa chancela. É uma impressão reducionista, pois Aracy de Almeida era muito mais do que isso”, ressalta Sacramento.
A ideia não é apenas revisitar o cancioneiro que a marcou – Triste cuíca (Noel Rosa e Hervê Cordovil), Onde está a honestidade? (Noel Rosa), Camisa amarela (Ary Barroso), Quando tu passas por mim (Antônio Maria/Vinicius de Moraes) e O orvalho vem caindo (Noel Rosa e Kid Pepe) –, mas buscar reinterpretar esse repertório. “Até porque ninguém canta como ela cantava. É uma aproximação da obra da Aracy, uma abordagem respeitosa, mas com a nossa assinatura, pois todos os arranjos são do Luiz Flavio. Ele traz toda a atmosfera do universo do Ary, do Noel e do Francisco Alves”, explica Sacramento.
O resultado dos shows foi tão surpreendente que surgiu a ideia de registrá-los em disco. Daniel Boechat (cuíca) se juntou a Sacramento e Alcofra. Hermínio Bello, que assina a produção do álbum, batizou o projeto como A rainha dos parangolés. Parangolé significa conversa fiada, falar besteira.
Nos anos 1940/1950, lembra Sacramento, artistas tinham apelidos que se tornaram famosos. Angela Maria é a “Sapoti”. Francisco Alves ficou conhecido como “O Rei da Voz”. Carmen Miranda virou “Pequena Notável”. Aracy era a “Dama do Encantado”.
“Porém, o Hermínio resolveu dar à velha amiga uma nova alcunha. Figura polêmica que convivia com boêmios e ia para a zona beber com Noel Rosa, ela era totalmente à frente de seu tempo. Hermínio misturou tudo isso e chamou de parangolé. Casou bem com o que a Aracy de Almeida representou”, conclui Sacramento.
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