Seguindo a tendência mundial, cantores preferem lançar uma música por vez, a se dedicar a produzir 10, 12 ou 14 faixas em um único 'pacote'
Por Pedro Galvão
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) é um marco da cultura pop. Dark side of the moon (1973), do Pink Floyd, e Thriller (1982), de Michael Jackson, são obras-primas do século 20. No Brasil, fizeram história Tropicália ou Panis et circensis (1968), de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Os Mutantes; Construção (1971), de Chico Buarque; Acabou chorare (1972), dos Novos Baianos; Clube da Esquina (1972), de Milton Nascimento e Lô Borges; Cabeça dinossauro (1986), do Titãs; e Da lama ao caos (1994), de Chico Science e Nação Zumbi. Álbuns marcados pela unidade, cujas canções, conectadas entre si, influenciaram outros artistas. Chegar a tal complexidade demanda semanas ou até meses de quase reclusão em estúdios, entre gravações, arranjos e ensaios – esforço nem sempre recompensado.
CULTURA - Gabriel O Pensador já avisou que, por enquanto, não pretende voltar a lançar álbuns. O último de seus sete títulos foi Sem crise, de 2012. “Demorei muito tempo para lançar esse disco. Tive a sensação de que as pessoas não estavam mais na cultura de ouvir o álbum todo. Fiquei triste, pois gravei muitas músicas boas que passaram despercebidas. Tinha uma com o Rogério (Flausino), do Jota Quest, e outra com o Nando Reis, mas o pessoal das rádios preferiu outras”, lamentou o rapper em entrevista ao EM, no início deste mês. Desde então, optou pela web para lançar os sucessos Chega (2016) e Tô feliz (Matei o presidente) II (2017).
Adepto do single, Gabriel defende também as características do formato álbum. Porém, ele pondera: “O problema é que, de repente, parece um produto velho. Enquanto algumas músicas fazem sucesso, outras ficam datadas. Se as lançasse hoje, poderiam ser legais, mas como estão naquele mesmo pacote, isso depõe contra elas. Sempre gostei de fazer disco, daquela estética, daquela unidade. Porém, hoje, estamos mais ligados a singles e clipes. Daqui a pouco, posso fazer uma compilação com Chega e Matei o presidente, mas não me vejo preocupado em lançar um disco inteiro”, afirma.
Principal nome do pop brasileiro, Anitta relegou o disco a segundo plano. “Não amo fazer álbuns, gosto mais de singles e clipes. Lá fora, a galera ainda tem o costume de ouvir um álbum inteiro. Aqui, não. O povo ouve o que é trabalhado na rádio. Quando você lança um álbum, perde as outras músicas”, declarou ela à revista Contigo!, em 2017.
Depois de lançar três álbuns entre 2013 e 2015, Anitta optou por “soltar uma bomba de cada vez”. Em dezembro, sacudiu o país com Vai malandra, um dos seis singles que a projetaram nos últimos dois anos. O clipe desse funk superou 205 milhões de visualizações no YouTube.
No Spotify, principal serviço de streaming musical do mundo, é possível acessar tanto álbuns completos quanto faixas avulsas. Em 2018, as cinco canções mais ouvidas nessa plataforma por brasileiros são singles. É o caso de Bailando, para marcar a volta da girl band Rouge, que encerrou a carreira há 10 anos.
A estratégia da faixa avulsa foi adotada especialmente por astros da música eletrônica, funk e do pop. No Spotify, entre as 20 músicas mais executadas no país em 2017, metade não faz parte de um álbum. É o caso de Despacito, dos porto-riquenhos Luis Fonsi e Daddy Yankee, e de Você partiu meu coração, parceria de Nego do Borel, Anitta e Wesley Safadão.
SERTANEJO - Porém, na outra metade desse top 20, há cinco canções de discos sertanejos no formato ao vivo. A tendência é evidente no ranking de álbuns mais ouvidos por brasileiros no Spotify em 2017. Entre os 10 mais, sete foram gravados durante shows. Apenas três saíram do estúdio: “÷” , do inglês Ed Sheeran; Vai passar mal, de Pabllo Vittar; e Anavitória, da dupla homônima.
Fora dessa lista dos mais ouvidos, artistas de renome da MPB se movimentaram para oferecer novidades. Gal Costa lançou a versão ao vivo de Estratosférica, álbum gravado em estúdio em 2015 – o material foi lançado com DVD. Chico Buarque quebrou o hiato fonográfico de seis anos com Caravanas, que chegou às lojas em agosto de 2017. Porém, antecipou faixas nas plataformas digitais, estratégia comum nos últimos anos para divulgar o trabalho que está por vir. No caso de São Valentin, de Jorge Ben Jor, trata-se apenas de uma canção isolada, sem vínculo com disco, operação patrocinada por uma operadora de celular.
Por sua vez, Caetano Veloso e Gilberto Gil prometeram novos álbuns para este ano. Fãs também aguardam por novidades sinalizadas por Rihanna, na seara pop, e Judas Priest no heavy metal. Entre um novo disco e outro, fica a certeza: YouTube, Spotify e redes sociais ficarão bastante movimentadas por sucessos solitários.
ENTENDA
>> Single
Lançamento isolado de uma única canção por meio de videoclipe ou apenas em áudio. Em alguns casos, o single é a faixa antecipada de um novo disco. Porém, pode conter duas ou três faixas.
>> Álbum
É o conjunto de pelo menos oito músicas. Pode ganhar formato físico (CD e vinil) ou digital, esse disponível em plataformas de streaming ou para download em mp3.
>> EP
Sigla de extended play, intermediário entre o single e o álbum. Geralmente, tem de quatro a seis faixas, adotando o formato físico ou virtual.
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