Maior bloco de Carnaval do Mundo toma as ruas do Recife neste sábado (10)
Por Nicole Simões
Já fazem 40 anos que pela primeira vez saía pelas ruas do Recife um bloco onde seu símbolo era um galo. Pequeno, sem muitas pretensões e acompanhado por 75 pessoas fantasiadas de almas penadas, o bloco foi desfilar com objetivo de reviver os antigos carnavais de rua e resgatar a tradição que disputava espaço com os bailes carnavalescos dos clubes sociais da capital pernambucana.
Por Nicole Simões
Já fazem 40 anos que pela primeira vez saía pelas ruas do Recife um bloco onde seu símbolo era um galo. Pequeno, sem muitas pretensões e acompanhado por 75 pessoas fantasiadas de almas penadas, o bloco foi desfilar com objetivo de reviver os antigos carnavais de rua e resgatar a tradição que disputava espaço com os bailes carnavalescos dos clubes sociais da capital pernambucana.
O dia era 4 de fevereiro de 1978. Com muitos confetes, serpentinas e ao som de uma orquestra de frevo formada por 22 músicos, aquele que mais tarde seria reconhecido como o maior bloco de Carnaval do Mundo, pisou nas ruas do bairro de São José pontualmente às 5 da manhã. Foi daí que surgiu o nome "O Galo da Madrugada", porque a agremiação deveria sair no Sábado de Zé Pereira, de madrugada, antes da abertura do comércio no centro da cidade.
Comandado pelo empresário Enéas Freire e um grupo de amigos, ali era o início do reinado de um fenômeno que não pararia mais de crescer. Entre os membros da família de Enéas que mais se envolveram nessa união, Rômulo Menezes, genro do fundador, pode acompanhar de perto essa trajetória:
Recorde
Um ano após a sua fundação, em 1979, o bloco recebeu seu primeiro estandarte e hino oficial, criados, respectivamente, pelo fundador Mauro Freire e pelo compositor José Mário Chaves. O crescimento constante do Galo fez com que em 1984 as orquestras de frevo saíssem do chão e passassem a desfilar em cima de caminhões. Mas a ideia não deu muito certo, e dois anos depois foi preciso mudar para os trios elétricos, onde o som do frevo conseguia alcançar toda a multidão que o acompanhava.
De um pequeno grupo de foliões, o Galo da Madrugada passou a arrastar mais de um milhão de pessoas pelas ruas da cidade. No 14º desfile, em 1991, 12 carros de som, duas orquestras e oito trios elétricos foram necessários para expandir mais ainda a agremiação.
Os anos seguintes foram suficientes para que o bloco tomasse seu posto de grandioso. Sendo, por isso, considerado, desde 1994, pelo Guiness Book (livro dos recordes), o maior bloco carnavalesco do mundo. E para referenciar o guardião do carnaval de rua, no ano seguinte, a Prefeitura do Recife colocou um Galo sobre as águas do Rio Capibaribe. Só em 1996, o gigante subiu na Ponte Duarte Coelho – onde fica todos os anos até hoje.
No desfile de 2009, outro recorde foi batido pela agremiação: o número de foliões já passava dos 2 milhões. Neste ano, a homenagem do bloco foi em reverência a fundador Enéas Freire – falecido em junho do ano anterior. Segundo a diretoria da agremiação, 2009 também foi ano que o Galo tornou-se Patrimônio Imaterial de Pernambuco. Outros nomes como Chacrinha, Alceu Valença e compositor Carlos Fernando também já foram um dos homenageados.
"Estar nesses 40 anos do Galo é um motivo de satisfação. É lindo poder ver uma realização de uma agremiação que tomou a dimensão que o Galo tomou. Mas ao mesmo tempo, nada disso foi pensado. Quando a gente criou o galo, ninguém planejava tudo isso. O Galo hoje já tem blocos que se espelham no Galo em 16 estados do Brasil e três países do mundo. Então, foi algo que surgiu independente da nossa vontade, do nosso controle", explica Rômulo Menezes, que é o atual presidente do Galo da Madrugada.
Por conta da dimensão do bloco, o trajeto por algumas ruas centrais da cidade, que permaneceu o mesmo por 32 anos, precisou ser alterado no seu percurso para garantir a tranquilidade e a segurança dos foliões. "Às vezes eu fico falando que se eu soubesse que o Galo teria essa dimensão de hoje, eu tinha deixado ele ficar do tamanho que ele era na década de 80, quando brincavam umas 300 pessoas. Sem ter essa preocupação e sem atrair essas pessoas do Brasil inteiro, até mesmo do mundo inteiro", brinca o genro de Enéas.
Passados 40 anos do primeiro desfile, hoje Rômulo vê a responsabilidade enorme de dar continuidade ao bloco. "A gente se sente com uma responsabilidade gigantesca, porque o Galo é uma entidade pública, ele está exposto ao mundo inteiro. Então, a gente tem o compromisso de fazer que tudo saia super bem, que todo mundo goste. E isso faz com que a responsabilidade da gente fique cada vez maior, mais estressante. Foi um trabalho duro para chegar até aqui e vai continuar sendo sempre", avalia.
O presidente que sempre esteve envolvido com o Galo, desde a sua criação, também diz que "a responsabilidade veio com todo o peso obrigação. Não só pelo que você tem que assumir, mas pelo que você tem que dar continuidade. A tradição, ao ícone que Neinha criou. Eu não poderia deixar que o Galo saísse da sua linha ética. Eu não podia impedir que ele crescesse".
Herança
Hoje, o Galo da Madrugada passou a não só fazer programações durante o carnaval, mas também tem eventos durante o todo o ano. Entre alguns deles estão: Quintas no Galo, Forrozão do Galo e Cantata de Natal. Além disso, o clube também faz trabalhos sociais com as comunidades vizinhas à sede (Coque, Coelhos, Joana Bezerra). Normalmente, as atividades são relacionadas a projetos de músicas, aulas de informática, entre outros.
Como o Galo da Madrugada sempre foi família, assim como seu Enéas e Rômulo, as outras gerações também acabaram se envolvendo durante as fases do bloco. Mas para o atual presidente, é uma herança pesada a se deixa para os filhos. "Eu não queria passar essa responsabilidade para eles. São muitas coisas para se fazer é um estresse. Mas paciência né, cada um recebe a herança que a família deixou. O Galo cresceu e agora começa as responsabilidades maiores", desabafa Rômulo.
O representante do maior bloco de carnaval de rua do mundo hoje já não consegue imaginar como será o futuro da agremiação. "O que é que o Galo vai ser daqui há 20 anos? Eu não sei. Depende do meu sucessor, depende das oportunidades, das circunstâncias. As coisas vão acontecendo dentro do seu tempo e a gente vai procurando aproveitar melhor as oportunidades e crescer sempre que possível. Não só no ponto de vista de tamanho, mais também em outras atividades culturais", afirma.
Em 2018, o homenageado do Galo da Madrugada é o jornalista Francisco José, que esteve no primeiro dia do desfile do bloco e conta como foi essa história:
Fonte: Leia Já
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