Por Mauro Ferreira, G1
A rigor, Caravanas é um show de 2017, ano em que estreou na cidade de Belo Horizonte (MG) em curta temporada que manteve Chico Buarque em cena na capital mineira de 13 a 17 de dezembro. Mas é neste novo ano de 2018 que o show do cantor, compositor e músico carioca vai percorrer o Brasil em turnê que recomeçou na última quinta-feira, 4 de janeiro, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde o show orquestrado com produção de Vinicius França ficará em cartaz até dia 4 de fevereiro na casa Vivo Rio. O show Caravanas é marcante e já se impõe como momento antológico da trajetória do artista nos palcos brasileiros. Eis dez motivos para seguir as Caravanas de Chico Buarque pelo Brasil ao longo de 2018:
1. Sem jamais adotar discurso panfletário, Chico manda recados para os haters através de versos das músicas do cancioneiro essencialmente autoral do roteiro de fina costura. Tanto que evidencia, em tom quase rapeado, os versos "Mas se alguém me desafia e bota a mãe no meio / Dou pernada a três por quatro e nem me despenteio / Que eu já tô de saco cheio", de Partido alto (Chico Buarque, 1972). "E qualquer desatenção / Faça não / Pode ser a gota d'água...", reitera 22 números depois, já na parte final do show, ao cantar Gota d'água (Chico Buarque, 1975). O aviso está dado.
2. De chapéu panamá, como visto na foto de Leo Aversa, Chico samba no palco em Grande hotel, saudando Wilson das Neves (1936 – 2017), a quem o show Caravanas é dedicado, ao cantar o samba de 1997 que compôs com a Chefia, baterista dos shows anteriores do cantor.
3. O engenhoso desenho de luz de Maneco Quinderé valoriza o cenário em que Hélio Eichbauer usa cordas, hélices e outros elementos recorrentes na obra do artista visual. A projeção da luz de Maneco nos elementos cênicos de Eichbauer provoca espetáculo de luzes e cores que faz com que o cenário adquira formas variadas ao longo do show.
4. No único momento em que se desvia do trilho autoral do roteiro, Chico canta um samba de Assis Valente (1908 – 1958), compositor baiano de fundamental importância na música brasileira dos anos 1930 e 1940, nome relevante na discografia de Carmen Miranda (1909 – 1955), cantora que lançou em 1934 Minha embaixada chegou, samba alocado por Chico na abertura e no fecho (antes do bis) do roteiro. Os versos de Minha embaixada chegou são a senha para o entendimento do recado político do show.
5. Apagando a má impressão deixada por claudicante interpretação de As vitrines na última edição do Prêmio da Música Brasileira, em 2017, Chico interpreta lindamente a canção que lançou em 1981.
6. Algumas músicas do roteiro, como Retrato em branco e preto(Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968), são bissextas nos palcos na voz do cantor e compositor.
7. Os encadeamentos das músicas no roteiro são sagazes. A propósito, o roteiro do show Caravanas é exemplar. Uma aula de como dar novos sentidos a músicas já antigas.
8. A banda orquestrada com elegância pelo maestro, arranjador e violonista Luiz Claudio Ramos é excepcional. Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), João Rebouças (piano), Jorge Helder (contrabaixo), Jurim Moreira (bateria) e Marcelo Bernardes (flauta e sopros) estão entrosados e à vontade no tradicionalista universo musical de Chico.
9. Os aplausos do público enquanto Chico canta os versos mais controvertidos de Tua cantiga (Chico Buarque, 2017) absolvem o artista nos julgamentos insanos dos tribunais do feicebuqui (para usar termo mordaz cunhado pelo tropicalista Tom Zé).
10. A simples presença em cena de Chico Buarque, aos 73 anos de vida, já justifica por si só a ida ao show Caravanas.
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