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sábado, 23 de dezembro de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior




BAILE PERFUMADO


Depois de um bom tempo sendo instado, quase coercitivamente, a ter em casa o NetFlix, acabei me rendendo ao tal canal múltiplo e infinito, segundo seus defensores e entusiastas.

Não sou daqueles que vai à primeira sessão de Star Wars – os últimos Jedi, à meia noite do primeiro dia.

Não substituo celulares com a ansiedade de quem está ganhando o primeiro presente de Papai Noel. Esta norma vale para quase tudo.

Gosto de ver os aficionados descobrirem que o n° 8 e XX não são tão avançados assim. E que perderam dinheiro com a ansiedade. Adquiro um tempo depois e após muito convencimento.

Bem, falo destas facetas do consumo para dizer que depois de alguns anos de – “Macedo, você tem que ter um”, – “tem tudo”, é “quase de graça”, resisti enquanto pude.

Instalado, treinado e quase todo pronto para usar (faltam algumas conexões) o danado do Netflix, que tem tudo.

Fui direto ao ponto: aprendiz de cinéfilo como sou, puxei da memória 3 filmes, que, sem buscar eventuais curtas desconhecidos da Coréia do Norte, imaginei seriam clássicos de home-page no tal canal sabe tudo.

Busquei “M”, o vampiro de Dusseldorf”, de Fritz Lang; “Blow-up”, de Michelângelo Antonioni; e Decamemon, de Pasolini. Para mim, o tal do canalzinho estaria reprovado no quesito filme clássico, cult e categoria óbvio.

Mas sou new Netflix e resolvi navegar pelas outras demandas que o dispositivo criou para nós preenchermos as horas vagas. É bonzinho, com ele e o Yoube, podemos ver filmes em ótima qualidade, músicas variadas, uma gama de opções de entreter…

Ainda xingando com minha mulher: “que é que esse Netflix” acrescenta em alguma coisa, ela uma das entusiastas e promotoras da aquisição da coisa.

Quando, na quarta tentativa, só para me desmentir, apareceu “O Sol É Para Todos” (To kill a Mokinbird), uma das obras-primas do cinema, com história de racismo, direitos das pessoas e costumes mediáveis, que teve seu livro, no qual baseou-se o filme, adotado em todas as escolas dos EUA. Hoje, já há uma grande discussão sob a permanência da obra nos colégios americanos.

Trata-se de um dos melhores, senão o melhor trabalho de Gregory Peck, como o advogado viúvo, dois filhos, referência de dignidade e coragem, numa cidadezinha cruel do Alabama.

Pois foi maravilhoso vê-lo pela terceira ou quarta vez. Para mim, uma película marcante, tanto quanto uma pintura de Rembrandt ou de Monet, uma escultura de Rodin ou Abelardo da Hora, o urbanismo e o paisagismo de Lucio Costa e Burle Marx e as letras dos grandes romancistas e pensadores.

Rever filme destes, a cada ciclo, é reapreciar uma obra de arte. Além de não fazer mal, é um exercício monumental de memória e emoção.

Faço uma introdução pouco alongada para despejar os ensinamentos revisados e incorporar a mudança que um fim de semana produz.

Netflix para lá, filme de TV para cá, um dvd/blue-ray no meio, contabilizei a assistência de três filmes muito bons: além de “O Sol é Para Todos”, “A Menina que Roubava Livros” e, o mais importante de todos para o momento: “A Hora e a Vez de Augusto Matraga”, de João Guimarães Rosa. Trata-se de um dos 12 contos/novelas tirados do livro Sagarana. Buscando histórias e conexões, li que Guimarães Rosa escreveu carta para João Condé, autor de Terra de Caruaru, para receber opiniões do pernambucano.

Luiz Carlos Vasconcelos e Zuleica Ferreira


Resolvi, a partir deste pacote, iniciar sequência de trilhas sonoras que ficam na cabeça, como grude, ou que se espaçam com o tempo. Não começarei com “A Hora e a Vez…”, mas com outra revisitação: o clássico “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas.


Sangue de Bairro – Chico Science e Nação Zumbi



Lançado em 1996 é considerado um marco da retomada do Cinema Pernambucano. Em novembro de 2015, o filme entrou na lista feita pela Abracine – Associação Brasileira de Críticos, dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos. A aludida retomada é consequência do chamado “Ciclo do Cinema do Recife – 1923-1932”, assunto a que voltarei noutra hora.

Conta a saga real do libanês Benjamin Abrahão, mascate responsável pelas únicas imagens de Virgulino Ferreira, o Lampião, quando viveu no sertão brasileiro.

Amigo íntimo de padre Cícero, Benjamin mascateava pelo sertão e exercitou seu espírito mercantilista, convivendo de perto com o bando de Lampeão. Infiltrou-se no grupo para colher imagens e vender os registros do famoso criminoso pelo mundo afora.

Baile Perfumado – Stela Campos

No elenco, Duda Mamberti, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Chico Dias, Jofre Soares, Claudio Manberti, Germano Haiut, Zuleica Ferreira.

A história é pontuada pelas imagens originais do protagonista, e apenas onze minutos do filme exibem um Lampião bem diferente do herói dos pobres: aburguesado, maravilhado com modernidades como a máquina fotográfica e a garrafa térmica, tomando uísque e banhando-se em perfume francês, além do bando que também ia aos bailes no meio do sertão, daí a origem do título do filme.

Para quem gosta de saber como foi feito o filme, aí vai um bônus imperdível:


Semana que vem, tem mais…

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