O fato é que ouvir e compreender a música é algo de subjectivo e pessoal, cujo resultado é condicionado por alguns factores, tais como aptidão e informação musical, coeficiente de inteligência e temperamento. No ato da criação o compositor pode compor uma peça com a qual procure evocar este ou aquele cenário ou que venha a fazer sentir no ouvinte um sentimento de profunda melancolia. No entanto, quando o compositor se torna intérprete, o seu comportamento transfigura-se. Deixa de ser o criador passando a ser ator. Já não é o próprio; é alguém que o representa e que apenas tem em comum a parecença física. Sente a peça de modo único e é assim que a interpreta, quer esteja de acordo, ou não, com a ideia do compositor. Haverá algum meio que aproxime o processo criador do processo de apresentação pública? Talvez seja uma interrogação retórica, mas o que é certo é que a interpretação condiciona a percepção que se tem de uma peça musical. A performance só pode ser analisada relativamente ao que é sugerido pelo compositor, não esquecendo que quer a obra musical em si mesma, quer a interpretação que fazem dela, ambas são criadas por forma a obter determinados significados musicais.
Convém referir que o mesmo executante os pode utilizar de forma diferente numa
segunda execução da peça, o que levará certamente a dois momentos singulares.
Música e poesia são duas artes da comunicação que vivem do som, da articulação, da
expressão... Com valor em si mesmas, e não necessitando uma da outra para poder subsistir,
os seus caminhos cruzam-se no universo fascinante da canção. O texto, outrora recitado,
recebe uma nova roupagem e é articulado com sons definidos musicalmente. Por outro lado, a
música recebe mais um componente, cuja articulação de vogais e consoantes vai contribuir
para o enriquecimento do resultado final.
Consequentemente, são levantadas algumas questões: quando de faz a fusão de ambas
as artes, quem ganha com isso? Quem perde? Uma música com texto é mais rica, é de mais
fácil entendimento, ou, contrariamente, desvirtua-se da sua natureza e é condicionada na sua
interpretação? O poema? É clarificado pela música ou relegado para um segundo plano?
São diversas as posições acerca do assunto. Não obstante, torna-se benéfico fazer uma
análise da relação existente entre música e poesia, pois se por um lado se captam as
semelhanças fundamentais entre ambos, por outro, destacam-se as diferenças. O facto da
percepção não ser tão eficaz a nível musical como o é ao nível da linguagem, poderá mesmo
levantar novas questões que poderão vir a ser consideradas no futuro.
Mas como é que duas artes se encontram para a realização de uma obra mais perfeita?
Há um equilíbrio natural entre essas duas artes
ou esse equilíbrio nunca chega verdadeiramente a conseguir-se?
Hugo von Hoffmannsthal
Fica a questão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário