Por Tárik de Souza
Assim como Rodrigo Campos propagou sua quebrada em “São Mateus não é um lugar tão longe assim” (2009), Lê Coelho intitula seu segundo solo com o nome do bairro paulistano da zona norte onde foi criado, “Imirim” (Matraca/YBMusic).
Ele começou na Banda de Argila entre a MPB e o rock progressivo, em discos lançados em 2003 e 2010. Em 2009, fundou Os Urubus Malandros, com um disco lançado em 2012 e dois anos depois estreava solo, com o denso “Tuvalu”.
Compositor, violonista, guitarrista, cantor e produtor musical, que passou pelo Conservatório de Imirim, o CLAM (do Zimbo Trio) e formou-se em música popular pela Unicamp, Lê tem uma caligrafia musical de refinado alinhavo harmônico. Trabalha bem os riffs, ostinatos e cantos falados, com o rap subjacente, como na ressignificação do tema “Cotidiano”, de Chico Buarque, nas negaças sambadas de “Canção de todo dia”. “Poesia não carece de sentido/ e a vida não requer maior razão”, filosofa “Cinema”, sua parceria com Zeca Baleiro.
Em “Nas quebradas da vida” (“não tem certo nem errado/ o juízo é peixeira no gibão/ facção é o Estado/ utopia é a Constituição/ a polícia é o crime organizado”) e “João menino” (“quando João sentiu que era sangue/ já não dava mais tempo de correr/ no país da senzala e casa grande/ cada um herda o jeito de morrer”), Lê Coelho traça implacáveis crônicas sociais com a autoridade de quem viveu praticamente confinado no Imirim até os 15 anos.
O roteiro também tem o humor surreal de “Saci”, a pegada pesada de “A barata” e uma participação de Lineker em “Palavra rouca”: “a vida é uma dança/ e o mundo é meu salão”.
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