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domingo, 5 de novembro de 2017

CHIQUINHA GONZAGA, INSPIRAÇÃO PARA O DIA NACIONAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA

Por Mila Ramos



Destaque na história da música brasileira por ser a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, e pioneira na luta pela liberdade no país, Chiquinha Gonzaga enfrentou com coragem a opressora sociedade patriarcal na virada do século XX. Nascida em 17 de outubro de 1847, no Rio de Janeiro, é fruto da união do militar José Basileu Neves Gonzaga com Rosa, filha de escrava. Além de regente foi também pianista e compositora, o que causou muito escândalo em seu tempo, já que era uma profissão incomum às senhoras de sua época, em especial pelo tipo de música que produzia para os salões de dança.

Casada aos 16 anos, por exigência de seu pai, com um jovem e rico oficial da Marinha, Jacinto Ribeiro do Amaral, Chiquinha continuou incorporando ao seu piano toda a diversidade que encontrava, para desagrado de seu marido que detestava música. No ano de 1866, é obrigada por ele a acompanha-lo no transporte de escravos, armas e soldados para a Guerra do Paraguai. As ordens eram rígidas: ela não poderia se envolver com música. Insatisfeita com a situação, a forte e decidida Chiquinha Gonzaga se rebelou, decidindo voltar com seus filhos para a casa dos pais, descobrindo estar novamente grávida. A decisão de se separar após 6 anos de casamento fez com que ela sofresse maldição familiar, sendo expulsa de casa por seu pai; era uma aberração para a sociedade do século XIX-XX uma mulher desquitada. Levou consigo apenas João (4), o filho mais velho, deixando Maria (3) e Hilário (1) com a família.

Nesta mesma época se apaixonou pelo engenheiro João Batista de Carvalho Júnior, com quem passou a viver. Junto a ele e seu filho, foram morar em Minas Gerais, onde nasceu Alice, em 1876, filha do casal. Mas pouco depois, enciumada e traída pelo marido, separa-se pela segunda vez e volta a morar no Rio de Janeiro.

Com o fim do casamento, Chiquinha Gonzaga precisa sobreviver do que sabe fazer: música. Começou a dar aula aulas de piano em casas de família e a apresentar-se em festas da boemia carioca, juntando-se a um conjunto de músicos de choro. 

Inquieta e ousada, continuou praticando piano, até mesmo compondo e publicando suas canções. A atividade exigia talento, dedicação e coragem – qualidades que não faltavam a Chiquinha Gonzaga. Foi então que aos 29 anos veio um fato inédito para a sociedade da época: estreou o seu primeiro sucesso com o animado choro “Atraente”, cuja repercussão foi mais um fardo para a sua reputação. Sofreu preconceitos ao se dedicar em musicar peças para o Teatro da Revista mas, em 1885, Chiquinha Gonzaga finalmente iniciou sua carreira de maestrina no Teatro Príncipe Imperial, com a opereta “A corte na roça”. Foi um sucesso estrondoso! Ao longo da sua carreira musicou dezenas de peças de teatro dos mais variados gêneros. Uma delas, “Forrobodó”, atingiu 1500 apresentações, com músicas cantadas por toda a cidade, virando o maior sucesso teatral de Chiquinha.

1921 - Chiquinha Gonzaga ao lado de autores teatrais. Fonte: Chiquinha Gonzaga, uma história de vida, por Edinha Diniz, Editora Zahar, 2009.


No início do século XX, Chiquinha conhece o músico português João Batista Fernandes Lage, 40 anos mais novo que ela e que seria seu companheiro para o resto da vida. Os dois começam a viver um romance e, para não enfrentar a o moralismo civil do século XX, ele foi registrado como seu filho. Viveram juntos e felizes, mas protegiam a sua privacidade. 

Sua carreira ganhou prestígio em 1899, com autoria da inesquecível “Ó Abre Alas”, popularizando a primeira marchinha de carnaval. E foi no ano de 1914 que seu nome esteve envolvido em mais um escândalo, só que dessa vez político, com a composição do tango “Gaúcho”, mais conhecido como “Corta-Jaca”, executado no Palácio do Catete. Era a primeira vez que esse tipo de música penetrava nos salões elegantes da elite, esse fato deu “alforria” à música popular brasileira. 

Em 2012, a data de nascimento de Chiquinha Gonzaga foi escolhida para comemorar o Dia Nacional da Música Popular Brasileira. Uma justa homenagem para a mulher que abriu alas para ajudar a definir a genuína música brasileira. Chiquinha faleceu no Rio de Janeiro no dia 28 de fevereiro de 1935.

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