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sábado, 5 de agosto de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


LEVINO FERREIRA, UM DOS PRIMEIROS MESTRES

Levino Ferreira, um dos fundadores do frevo

Embora seja um dos fundadores do frevo, Levino Ferreira escreveu sua grande obra: “A Dança do Cavalo Marinho”, por volta de 1940, feita especialmente para a Orquestra Sinfônica do Recife. A obra tornou Levino famoso no mundo inteiro.

Considerada música erudita, de tema do folclore pernambucano, foi apresentada pela Grande Orquestra da P.R.A.- 8, dirigida por Felipe Caparrós, pela BBC de Londres e pela Orchestre Symphonique International, em Paris, 1958, sob a regência do maestro Mário Câncio.

A Dança do Cavalo Marinho, de Levino Ferreira, Orquestra Jovem da Universidade Federal da Paraíba, regência de Guedes Peixoto

O Maestro Levino nasceu no dia 2 de dezembro de 1890 (morreu em janeiro de 1970, no Recife), numa modesta casa da antiga rua da Lama, na cidade de Bom Jardim – terra dos Pau d’arcos, berço natal de grandes musicistas – em Pernambuco.

Aos oito anos de idade, Levino Ferreira da Silva começou a apresentar-se na banda do maestro Tadeu, tocando trompa. Mais tarde aprendeu a executar outros instrumentos de sopro e todos os instrumentos da banda, passando a substituir automaticamente qualquer componente que faltasse aos ensaios ou apresentações.

Em 1910, com 20 anos de idade e já reconhecido como exímio instrumentista, transferiu-se para a cidade de Queimados, atualmente Orobó, em Pernambuco, para assumir o cargo de mestre da banda da cidade. Atuou ainda na mesma década, como mestre da banda ‘Vinte e Dois de Setembro’, recebendo em decorrência disso diversos convites para organizar e dirigir bandas no interior de Pernambuco.

Nesse período começou a compor músicas para o carnaval, embora não apresentasse ainda as influências do frevo. Em 1919, fez sua primeira viagem a Recife. Durante toda a década de 1920 e até meados da década seguinte, apresentou-se em festas e dirigindo bandas, como a de Limoeiro. Já no começo da década de 1930, suas composições começaram a se tornar conhecidas em Recife, uma vez que eram editadas pela ‘Casa de Música Azevedo Júnior’.

Em 1935, aos 45 anos, a convite do maestro Zumba, mudou-se para Recife. No mesmo ano, teve seu frevo “Satanás na onda” escolhido como vencedor do Concurso de Frevos do Recife, sendo, em seguida, gravado pela Orquestra Odeon. Seus frevos passaram a ser cantados por quase todos os blocos e clubes carnavalescos da capital. Passou a ser conhecido como ‘Maestro Vivo’.

Em 1937, teve sua composição “Diabinho de saia” gravada para o carnaval pela Orquestra Diabos do Céu. Trabalhou em diversas rádios recifenses, fazendo parte da Orquestra da Rádio Clube de Pernambuco e da Orquestra Sinfônica do Recife. Integrou ainda o conjunto Ladário Teixeira, do maestro Felinho, como saxofonista e trompetista. Foi escolhido pelos fundadores do Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco como patrono do Museu do Frevo que recebeu o seu nome. Em 2007, “Mexe com tudo” foi incluída no DVD “Passo de anjo ao Vivo”, gravado pela mesma orquestra, no Canecão (RJ).

Em janeiro de 2008, teve dois de seus frevos relançados pela ‘Spok Frevo Orquestra’, no CD “Passo de anjo ao vivo”, gravado ao vivo no Teatro Santa Isabel, na cidade de Recife: “Último dia”, que contou com a participação especial de Armandinho Baiano, e “Lágrima de folião”, que teve a participação de Léo Gandelman.


“Mexe com Tudo”, – Orquestra Spok em Montreux


Viveu e morreu pobre, deixando como única e inalienável riqueza toda sua obra composta de Valsas, Frevos, Maracatus, peças folclóricas e religiosas, que, para desgosto de todos, não conhecemos a sua totalidade.

Capa de disco de Levino


Concluo com relato de nosso companheiro fubânico Leonardo Dantas Silva.:
Último Dia, com maestro Duda


“Numa manhã de verão, levado por João Santiago, eu conheci o Mestre Vivo. Morara no Cordeiro e me pareceu uma figura simples, conversando com um tom de ironia em suas observações.

Era um tipo mulato baixo, mais para gordo, tinha a camisa por fora das calças, trazia no rosto as marcas da varíola e usava um chapéu de massa, mesmo dentro de casa, complementando assim o tipo comum do nosso homem da Zona da Mata.

Estava diante do Rei do Frevo! O lendário Mestre Vivo!

Ninguém foi maior do que Levino Ferreira da Silva, no gênero frevo de rua. Nisso, concordam outros nomes de nossa música, como Capiba, Luiz Bandeira, José Menezes, Edson Rodrigues, Mário Mateus, Mario Guedes Peixoto, Ademir Araújo, Duda e uma infinidade de outros monstros sagrados de nosso frevo instrumental.

Mestre Vivo – Levino Ferreira passa a ser conhecido pelo apelido, que na versão do próprio maestro surgiu assim: ‘Era mestre da banda de música de Limoeiro, quando sofreu um ataque de catalepsia. Tomado por morto, com respiração imperceptível, seu corpo foi colocado num ataúde, ao mesmo tempo em que a comoção tomava conta da cidade e das redondezas.

Tarde da noite, quando familiares e amigos pranteavam seu desparecimento, eis que o morto voltou a si e, sentando-se no caixão exclamou: – Minha gente querem me enterrar vivo!. Ao susto do início, seguiu-se a alegria, o velório transformou-se em Carnaval e um apelido marcou o episódio: ‘Mestre Vivo’”.

Semana que vem, tem mais.

Fontes: O Nordeste; Overmundo (Abílio Neto); Dicionário Ricardo Cravo Albin; Wikipedia.

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