O síndico, Cézar Mendes, é o centro gravitacional de Illy Gouveia, mosquito e outras revelações
Por Pedro Henrique França
Por Pedro Henrique França
Basta dizer “Rua Nascimento Silva” que invariavelmente alguém vai cantarolar a canção de Vinicius de Moraes e Toquinho feita para Tom Jobim. A música cita a rua de Ipanema em que o compositor brasileiro mais reconhecido no mundo morou entre 1953 e 1962. Foi ali, em seu apartamento, que, como também lembra a letra, Tom e Vinicius ensinaram Elizeth Cardoso a cantar as faixas do álbum Canção do Amor Demais, considerado marco zero da bossa nova. Foi também no apartamento que nasceu Chega de Saudade e canções da peça Orfeu da Conceição. Durante décadas, 107 foi o número que marcou a Nascimento Silva. Mas a rua, que também foi residência de Renato Russo, ganhou há alguns anos um novo número para um outro Jobim praticamente chamar de seu.
É no 395, a 700m do afamado 107, que Daniel Jobim, neto de Tom, tornou-se mobília. Daniel não mora no predinho, como é chamado carinhosamente por seus moradores, ex-moradores e frequentadores, mas é considerado parte dele de tanto que aparece por lá. A expressão “mobília” vem do baiano Cézar Mendes, o violonista, compositor e cartão de visitas do edifício de quatro andares. Seu apartamento é o menor da torre, mas é o que vive mais cheio de gente e música.
Cezinha, como é conhecido, chama Daniel Jobim de mobília, bem à baiana, porque “Ele é do tipo que liga e eu falo: ‘Passa aqui em casa’, e ele diz: ‘Estou aqui, na janela’”. Não é o único. As cantoras Karine Carvalho e Teresa Cristina estão entre as visitas assíduas. Marisa Monte também dá as caras, seja para conversar com o amigo, para falar de parcerias (seladas desde o tempo dos Tribalistas, que, além de Marisa, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, ainda tinham Cézar e o baixista Dadi Carvalho) ou para buscar o marido, o empresário Diogo Pires Gonçalves, que vira e mexe está por ali. Tom Veloso, filho de Caetano e também parceiro musical de Cézar, é dos que chegam sem tocar o interfone. Anuncia-se, com frequência, atirando pedras na janela. Ali, fizeram juntos Sol, Eu e Tu com o auxílio extra de Caetano e registrada por Carminho.
É no 395, a 700m do afamado 107, que Daniel Jobim, neto de Tom, tornou-se mobília. Daniel não mora no predinho, como é chamado carinhosamente por seus moradores, ex-moradores e frequentadores, mas é considerado parte dele de tanto que aparece por lá. A expressão “mobília” vem do baiano Cézar Mendes, o violonista, compositor e cartão de visitas do edifício de quatro andares. Seu apartamento é o menor da torre, mas é o que vive mais cheio de gente e música.
Cezinha, como é conhecido, chama Daniel Jobim de mobília, bem à baiana, porque “Ele é do tipo que liga e eu falo: ‘Passa aqui em casa’, e ele diz: ‘Estou aqui, na janela’”. Não é o único. As cantoras Karine Carvalho e Teresa Cristina estão entre as visitas assíduas. Marisa Monte também dá as caras, seja para conversar com o amigo, para falar de parcerias (seladas desde o tempo dos Tribalistas, que, além de Marisa, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, ainda tinham Cézar e o baixista Dadi Carvalho) ou para buscar o marido, o empresário Diogo Pires Gonçalves, que vira e mexe está por ali. Tom Veloso, filho de Caetano e também parceiro musical de Cézar, é dos que chegam sem tocar o interfone. Anuncia-se, com frequência, atirando pedras na janela. Ali, fizeram juntos Sol, Eu e Tu com o auxílio extra de Caetano e registrada por Carminho.
“Eu não preciso de muito. E a gente sabe que o povo da música são uns fodidos. Então o pessoal chega aqui, junta um dinheiro, pede uma cerveja e faz uma comida. Ter esses encontros já me faz muito feliz”, diz Cezinha.
Entre os antigos habitantes que já passaram por ali estão o casal Alinne Moraes e Mauro Lima, a cantora Maria Gadu e o rapper Criolo. Os atuais moradores também circulam bastante no apê do síndico. Entre eles, o cineasta Toni Vanzolini, o sambista Mosquito (que bate à porta pelo menos três vezes por dia), o jornalista Jorge Velloso (sobrinho-neto de Caetano) e sua mulher, a cantora-revelação Illy Gouveia. Juntos, formam uma espécie de comunidade. Quando não estão reunidos presencialmente, acompanham a rotina uns dos outros pelos barulhos produzidos em seus próprios apartamentos. Nessas, já surgiu até composição. Outro dia, Mosquito dedilhava ao cavaquinho, arriscando uma letra, quando foi ajudado por Illy, que gritou um verso direto de seu apartamento. “O bom de morar num prédio de músicos é isso: você pode tocar à vontade que ninguém vai se incomodar”, diverte-se o sambista.
Os músicos também se comunicam por gritos, que ecoam pelos vãos do prédio. Recentemente, aumentaram a frequência. Até as panelas entraram na trilha sonora. Nenhuma razão política, diga-se. A algazarra tem motivos financeiros. Trata-se de uma brincadeira interna para comemorar cada vez que toca a música de algum deles na novela. Atualmente, Cézar está com três músicas de sua autoria em produções da TV Globo. Duas delas em A Força do Querer: Flor do Ipê, parceria com Arnaldo Antunes e Tom Veloso, gravada por Marisa Monte, e Mande um Sinal, composta com Ronaldo Bastos e cantada por Djavan.
E ainda tem Se For para Mentir, outra parceria com Arnaldo, interpretada por Roberta Sá e Chico Buarque, que é executada na novela das 19h, Pega Pega. Mosquito também já teve pelo menos três músicas executadas em novela, assim como Illy, que até há pouco tempo era a razão dos gritos com sua gravação de Só Eu e Você, composição de Chico César, trilha da novela Sol Nascente.
Durante a foto para esta reportagem, os outros moradores orbitavam em torno do baiano e de seu inseparável violão (que a atriz Fernanda Torres, sua amiga, chama de “extensão de seu próprio corpo”). A música cantada durante a sessão de fotos chama a atenção: “Traz o violão, vai ter cantoria, só não gosta da Bahia quem não sabe desfrutar / Bota mais farinha, pimenta da boa, já virei mobília, vivo sem patroa / Nessa vida à toa, todo meu afã / Boa noite, Osvaldo, bom descanso e até amanhã”. A letra é do sambista Mosquito e de Teresa Cristina, outra mobília do 395. Feita em homenagem a Cezinha, reúne bordões e trejeitos do baiano que fazem desse ponto de Ipanema encontro de outros músicos e personalidades da cultura.
“Ele tem essa questão geográfica, é a janela de entrada do prédio e uma figura agregadora. Então, todo mundo que vem aqui, mesmo que seja para ir à casa de outra pessoa, acaba passando em Cezinha”, conta o cineasta Toni Vanzolini. Foi o que aconteceu alguns meses atrás, quando a apresentadora Regina Casé passou pelo apartamento da estrela local para esperar Illy e Jorge Velloso terminarem de se arrumar. O trio havia combinado de ir junto a um evento.
“Cezinha é o cacique do prédio. A história aqui começa por ele, e tenho muito a agradecer. Ele me apresentou Dadi, que gravou em meu EP, conheci Marisa por meio dele, assim como Quito (Ribeiro, compositor), que me deu a canção do disco. O predinho ainda me trouxe o Mosquito, que foi o primeiro cara que me convidou a subir num palco no Rio. Nada disso teria acontecido se eu não morasse aqui”, comenta Illy.
Espécie atual de Solar da Fossa (o casarão de Botafogo, no Rio, onde moraram e circularam nos anos 1960 nomes como Tim Maia, Gal Costa, Paulo Coelho e Paulo Leminsky), o predinho da Nascimento Silva tem festa e música, mas não é bagunça. Raramente o barulho ali ultrapassa a barreira das 22h, 23h.
E nem é o caso de a produtora e empresária Paula Lavigne, dona do predinho e razão de tanta gente da cultura morar ou circular por ali, ter que se preocupar. O síndico é atento a qualquer desordem. Morador do local há oito anos, ele tem a paciência de um baiano de Itapuã, que só pode se retar (ficar bravo, em bom baianês) se algo fugir do controle: a água acabar, a luz dar problema ou alguém falar que vai passar em sua casa e der o “zig now”, expressão muito usada por baiano para dar o perdido, dar o bolo. Todos os problemas (dele e de muitos que o visitam em busca de um respiro) se resolvem aos acordes do violão. Deu ruim, é só gritar da rua e cantar com o síndico. No predinho, tudo acaba em música.
Entre os antigos habitantes que já passaram por ali estão o casal Alinne Moraes e Mauro Lima, a cantora Maria Gadu e o rapper Criolo. Os atuais moradores também circulam bastante no apê do síndico. Entre eles, o cineasta Toni Vanzolini, o sambista Mosquito (que bate à porta pelo menos três vezes por dia), o jornalista Jorge Velloso (sobrinho-neto de Caetano) e sua mulher, a cantora-revelação Illy Gouveia. Juntos, formam uma espécie de comunidade. Quando não estão reunidos presencialmente, acompanham a rotina uns dos outros pelos barulhos produzidos em seus próprios apartamentos. Nessas, já surgiu até composição. Outro dia, Mosquito dedilhava ao cavaquinho, arriscando uma letra, quando foi ajudado por Illy, que gritou um verso direto de seu apartamento. “O bom de morar num prédio de músicos é isso: você pode tocar à vontade que ninguém vai se incomodar”, diverte-se o sambista.
Os músicos também se comunicam por gritos, que ecoam pelos vãos do prédio. Recentemente, aumentaram a frequência. Até as panelas entraram na trilha sonora. Nenhuma razão política, diga-se. A algazarra tem motivos financeiros. Trata-se de uma brincadeira interna para comemorar cada vez que toca a música de algum deles na novela. Atualmente, Cézar está com três músicas de sua autoria em produções da TV Globo. Duas delas em A Força do Querer: Flor do Ipê, parceria com Arnaldo Antunes e Tom Veloso, gravada por Marisa Monte, e Mande um Sinal, composta com Ronaldo Bastos e cantada por Djavan.
E ainda tem Se For para Mentir, outra parceria com Arnaldo, interpretada por Roberta Sá e Chico Buarque, que é executada na novela das 19h, Pega Pega. Mosquito também já teve pelo menos três músicas executadas em novela, assim como Illy, que até há pouco tempo era a razão dos gritos com sua gravação de Só Eu e Você, composição de Chico César, trilha da novela Sol Nascente.
Durante a foto para esta reportagem, os outros moradores orbitavam em torno do baiano e de seu inseparável violão (que a atriz Fernanda Torres, sua amiga, chama de “extensão de seu próprio corpo”). A música cantada durante a sessão de fotos chama a atenção: “Traz o violão, vai ter cantoria, só não gosta da Bahia quem não sabe desfrutar / Bota mais farinha, pimenta da boa, já virei mobília, vivo sem patroa / Nessa vida à toa, todo meu afã / Boa noite, Osvaldo, bom descanso e até amanhã”. A letra é do sambista Mosquito e de Teresa Cristina, outra mobília do 395. Feita em homenagem a Cezinha, reúne bordões e trejeitos do baiano que fazem desse ponto de Ipanema encontro de outros músicos e personalidades da cultura.
“Ele tem essa questão geográfica, é a janela de entrada do prédio e uma figura agregadora. Então, todo mundo que vem aqui, mesmo que seja para ir à casa de outra pessoa, acaba passando em Cezinha”, conta o cineasta Toni Vanzolini. Foi o que aconteceu alguns meses atrás, quando a apresentadora Regina Casé passou pelo apartamento da estrela local para esperar Illy e Jorge Velloso terminarem de se arrumar. O trio havia combinado de ir junto a um evento.
“Cezinha é o cacique do prédio. A história aqui começa por ele, e tenho muito a agradecer. Ele me apresentou Dadi, que gravou em meu EP, conheci Marisa por meio dele, assim como Quito (Ribeiro, compositor), que me deu a canção do disco. O predinho ainda me trouxe o Mosquito, que foi o primeiro cara que me convidou a subir num palco no Rio. Nada disso teria acontecido se eu não morasse aqui”, comenta Illy.
Espécie atual de Solar da Fossa (o casarão de Botafogo, no Rio, onde moraram e circularam nos anos 1960 nomes como Tim Maia, Gal Costa, Paulo Coelho e Paulo Leminsky), o predinho da Nascimento Silva tem festa e música, mas não é bagunça. Raramente o barulho ali ultrapassa a barreira das 22h, 23h.
E nem é o caso de a produtora e empresária Paula Lavigne, dona do predinho e razão de tanta gente da cultura morar ou circular por ali, ter que se preocupar. O síndico é atento a qualquer desordem. Morador do local há oito anos, ele tem a paciência de um baiano de Itapuã, que só pode se retar (ficar bravo, em bom baianês) se algo fugir do controle: a água acabar, a luz dar problema ou alguém falar que vai passar em sua casa e der o “zig now”, expressão muito usada por baiano para dar o perdido, dar o bolo. Todos os problemas (dele e de muitos que o visitam em busca de um respiro) se resolvem aos acordes do violão. Deu ruim, é só gritar da rua e cantar com o síndico. No predinho, tudo acaba em música.
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