Páginas

terça-feira, 4 de julho de 2017

JOYCE MORENO LANÇA PALAVRA E SOM, COM 13 CANÇÕES INÉDITAS DE SUA AUTORIA


Álbum saiu primeiro no Japão e a artista critica: ''falta de política cultural decente'' e lamenta descaso do Brasil com sua produção musical 

Por Ana Clara Brant 



Para Joyce Moreno, a música é a palavra dançando na boca do cantor. A frase não só resume o que a cantora e compositora carioca pensa a respeito da canção, como define seu mais novo disco, Palavra e som, lançado pela Biscoito fino. Quando foi batizar o trabalho, essa ideia não era a mais recorrente, mas nem por isso deixou de se encaixar perfeitamente à proposta. “A música é feita de palavra e som. No meu caso, a melodia brota espontaneamente; basta pega no violão que ela vem. Depois vem o processo da palavra, que é mais lento. Palavra e som acabam sendo a conclusão do meu processo de composição. Por isso escolhi essa faixa para encerrar o projeto”, comenta.

Lançado primeiramente no Japão, no ano passado, onde Joyce é conhecida há pelo menos 30 anos, o álbum traz 13 músicas inéditas que refletem o atual momento da autora de Clareana e Feminina. “Componho compulsivamente, mas demoro para montar um repertório. Quando fui escolher quais entrariam no disco, dei preferência para aquelas em que eu tinha feito letra e música. Claro que muita coisa ficou de fora, mas as músicas refletem muito do que eu queria dizer e os assuntos que mais me interessam atualmente”, afirma.


SAMBA 

Na faixa de abertura Joyce exibe sua ginga e sua ligação de longa data com o samba. No mistério do samba foi a única feita por encomenda. Maria Rita pediu a canção para integrar o disco Coração a batucar (2014). Um dos destaques é a belíssima Forrobodó das meninas, dedicada a Chiquinha Gonzaga. “Toda mulher gosta dessa música”, observa. Outra figura feminina, Nossa Senhora, é celebrada em Ave Maria serena, cuja letra diz: “Ave maria serena/ Tantas Marias morenas/ Vêm te pedir proteção/ Maria, mulher sagrada/ Dentre as mulheres amada/Padroeira da nação”. Das 13 canções, apenas três foram feitas em parceria: Dia lindo, com João Cavalcanti, e que conta com o vozeirão de Dori Caymmi; Casa da flor, ao lado de Paulo César Pinheiro, e O poeta nasce feito, com Torquato Neto.

Em 2000, Joyce deu uma entrevista a Ziraldo que provocou certa polêmica. A cantora afirmou que a canção, no formato que todos conheciam, havia acabado. Chico Buarque fez análise semelhante em 2004. A artista chegou a se arrepender da declaração, mas acredita que o auge da canção, esse sim, já passou. “A música é uma forma muito específica de arte. O século 20 foi o século da canção e, hoje em dia, a gente só acha coisa boa pelas frestas, meio underground. Temos uma cena criativa bem atuante no país, mas ninguém está na grande mídia que, infelizmente, é movida por outras questões, como o agronegócio, a igreja evangélica”, lamenta.

Joyce Moreno diz ainda que, lá fora, o interesse pela boa música brasileira é crescente e que acha uma pena isso não ocorrer por aqui. “É um tesouro brasileiro que a gente está deixando escapar. E não há interesse, porque há anos não temos uma política cultural decente. É triste, porque é um valor que é sonegado à população. Você chega numa escola e ninguém conhece Chico Buarque, Elis Regina, Tom Jobim. O Gil tem uma frase que acho que resume muito bem isso: ‘O povo sabe o que quer. Mas o povo também quer o que não sabe.’ Deixar o mercado dirigir o que você pode ou não ouvir é antidemocrático”, desabafa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário