MOACIR SANTO I – DO PAJEÚ PARA MÚSICA MUNDIAL
Moacir Santos: genial artista pernambucano, quase um desconhecido, ante a obra e talento monumentais
Quando João Bosco apresentou para amigos músicos, ali pela metade dos anos 1960, alguns trabalhos do maestro Moacir Santos, a reação foi uma só: “não nos perdoamos por não tê-lo conhecido antes”.
No meu caso pessoal, tive a mesma reação ao conhecê-lo somente há 15 anos. Se fosse mais atento não teria deixado passar a quase sutil citação de Vinícius de Moraes, em parceria com Baden Powel, no “Samba da Bênção”, de 1965. Ali, um verso já bradava alto e bom som: ”A bênção, maestro Moacir Santos, que não és um só, és tantos, tantos como meu Brasil de todos os santos”.
Embora já contasse com admiradores tão ilustres e um primeiro álbum arrebatador – “Coisas” – também lançado em 1965, Moacir Santos – pernambucano da região do Pajeú – não viu grandes perspectivas de trabalho em seu próprio país e migrou para os EUA, em 1967.
“Coisa nº 1”, do Álbum “Coisas”, Moacir Santos/Clovis Mello, lançado em 1965, pelo selo Forma e produzido por Roberto Quartin
As peças “Coisas” vão de 1 a 10, mas são dispostas em seu disco original fora de ordem. O LP foi eleito em uma lista da versão brasileira da revista Rolling Stones como o 23º melhor disco brasileiro de todos os tempos.
Nas três décadas seguintes, o maestro seguiu praticamente anônimo para a maioria dos brasileiros. Felizmente, desde a redescoberta de “Coisas”, em 2001, por meio do projeto “Ouro Negro”, Moacir tem sido cada vez mais absorvido pelos artistas jovens.
Idealizado pelo maestro Mario Adnet e o saxofonista Zé Nogueira, o projeto resultou num CD Duplo, em 2001, e um DVD, de 2005, de que falei acima.
Tanto um como outro tiveram participação de amigos e admiradores, como João Bosco, Djavan e Ed Motta. Somem-se a eles, outras iniciativas como lançamento de uma biografia e de outro álbum em homenagem ao maestro.
Sem falar na valorização de seu repertório por iniciativa de jovens músicos. Vamos ouvir, então, já do álbum novo “Ouro Preto”, a canção Oduduá, em parceria com Ney Lopes, com João Bosco:
Para alguns historiadores, como Zuza Homem de Mello, o longo hiato de invisibilidade talvez de justifique pelo vanguardismo de Moacir do que por sua partida para os EUA. Em 2005, no artigo “Coisas Afro-Brasileiras”, Zuza defendeu a tese: “Coisas é o mais desconcertante disco instrumental dos anos 1960. É natural que suas consequências ficassem para muito depois. Na obra do maestro, o primitivo encontra o futuro. O ontem o amanhã”.
Aqui, faço um registro para aplacar a curiosidade de tantos, que quanto eu, se perguntaram por que a maioria de suas músicas era tituladas como “Coisa nº 1”, “Coisa nº 2”, “Coisa nº-8”, etc.
A terminologia “coisa”, para 10 de suas principais peças, nada mais era do que a substituição de opus, que significa número. O próprio Moacir Santos explica no “DVD Ouro Negro”, de 2005, que, até pensou em opus, mas sua modéstia o levou a não se apropriar de termo tão ligado ao erudito, embora não negasse seu desejo de chegar a este patamar.
PS: Nei Lopes
Nascido no Rio de Janeiro, em maio de 1942, Nei Braz Lopes é compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas africanas no continente de origem e na diáspora africana.
Notabilizou-se como sambista, principalmente em parceria com Wilson Moreira. Ligado ao Salgueiro e à Vila Isabel, é compositor desde 1972. Vem, desde os anos 90, esforçando-se para romper a barreira que separa o samba da chamada MPB, em parcerias com Guinga, Zé Renato e Fátima Guedes.
Participou do projeto musical “Ouro Negro”, em homenagem ao ilustre maestro Moacir Santos, escrevendo letras para cinco temas do homenageado, em canções como “Nação do Amor”, “Navegação”, “Sou Eu”, “Oduduá” e “Orfeu”.
Semana que vem mais coisas de Moacir…
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