Em seu primeiro disco, a cantora e instrumentista carioca Alice Passos apresenta uma verdadeira antologia ao violão brasileiro.
Por Bruno Negromonte
Por Bruno Negromonte
Ninguém sabe ao certo a sua origem, mas o que se tem certeza é que após a sua introdução na música brasileira, o violão passou a ser um dos mais relevantes instrumentos desde então. No Brasil, o primeiro instrumento musical de cordas que se tem notícias há quem afirme que foi a viola de dez cordas – ou cinco cordas duplas – trazida pelos jesuítas portugueses, que a utilizavam durante a catequese dos índios a partir do século XVII em São Paulo. Tempos depois, no século XIX, já com as definitivas seis cordas e o advento do choro (que nascido no Rio de Janeiro ganhou forte expressão nacional tornando-se um símbolo da cultura brasileira e um dos mais originais estilo de música instrumental existente a partir de então), o violão popularizou-se significadamente. Por falar em choro, é válido o registro que tal gênero surgiu aglutinando outros tantos advindos da Europa a exemplo da polca, da valsa, do schottisches, da quadrilha, entre outros. Dessa mescla e estilo de tocar consolidou-se o choro, um dos primeiros gêneros musicais genuinamente brasileiro ao lado do lundu, da modinha e do maxixe e que foi de fundamental importância para a popularização do violão a partir de nomes como Garoto, Quincas Laranjeiras, Eduardo das Neves, Dilermando Reis, João Pernambuco, Tute, Laurindo de Almeida, Catulo da Paixão Cearense, Donga, o maestro Heitor Villa-Lobos entre outros, que de um modo ou de outro contribuíram ao longo de todos estes anos para desdobrar o instrumento abarcando os mais distintos gêneros e subgêneros dentro da música popular brasileira ao longo das últimas décadas tais quais a bossa nova com o inconfundível e arrebatador violão de João Gilberto, os afro-sambas com Baden Powell e toda malemolência baiana e praiana presentes nas músicas e instrumento de Caymmi.
Tal retrospecto é válido para que possamos abarcar a nova geração de instrumentistas brasileiros e todas as influências que os constituem como é o caso da carioca Alice Passos, um promissor nome da música que apesar da pouca idade é respeitada como uma veterana no meio do samba e do choro nos principais redutos dos gêneros de sua cidade, em especial a Lapa, local historicamente cultural da cidade e local propenso ao desenvolvimento de sua paixão pela música. Filha da compositora e instrumentista maranhense Ignez Perdigão, Alice cresceu envolta ao canto, o cavaquinho, a flauta e o violão. E dentre estes instrumentos que permearam a sua infância abraçou em particular dois: a flauta e o violão, fazendo deste último seu principal companheiro neste álbum de estreia. Nos palcos substanciou o seu talento para além da teoria acadêmica, visto que Alice Passos é formada em arranjo musical pela UniRio assim como também dá aulas de música já há alguns anos, e por conta disto já encontra-se muito bem substanciada teoricamente. Estas experiências empíricas, práticas e experimentais alicerçaram o seu primeiro álbum intitulado "Voz e violões", disco que conta com treze faixas e a participação de um verdadeiro dream team do violão brasileiro. Dentre as canções que compõem o disco, há uma mescla entre inéditas e releituras como é o caso "Toque de amor" (João Lyra e Zé Rocha) lançada por Elba Ramalho no álbum "Do jeito que a gente gosta"; "Sem palavras" (Francis Hime e Thiago Amud), originalmente lançada em 2013 no álbum "Eterna alegria" por Alcione e "Mestre", uma parceria de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, registrada pelo autor em 2014 no álbum "Setenta anos", disco alusivo as sete décadas de vida do Dori. Por falar em Pinheiro, seu nome é recorrente dentre os autores presentes no disco. Das treze faixas, assina sete. Além da já citada, apresenta também "Lembrança viva" (em parceria com Julião Pinheiro), "Piraiaguará" (com Mário Gil), "Assombros" e "Samba de Mestre", a primeira em parceria com João Camarero, já a segunda com Maurício Carrilho. O disco ainda conta com "Aparição" (Miguel Rabello e Roberto Didio), "Preta Bá" (Pedro Messina e Chico Alves), "Nem cais, nem barco" (Guinga e Aldir Blanc), "Sertão do vale" (Zé Paulo Becker e Mauro Aguiar) e a inédita "Quadrança" (Sergio Santos e Paulinho Pinheiro).
Lançado pela Fina Flor (nome também sugestivo para os violonistas que a acompanham neste debute fonográfico) e sob produção de Maurício Carrilho, "Voz e violões" traz como marca maior o modo antológico como a jovem e promissora artista apresenta, a partir do violão, a rica sonoridade existente em nosso país priorizando um seleto repertório que nos remete a confins e rincões desse Brasil de dimensões continentais. O curioso é que ela não deixou-se acomodar pela sonoridade cosmopolita que rege o seu cotidiano, e tal qual uma escafandrista, buscou imergir na vastidão sonora que compõe a nossa música. Longe de ser um álbum comercial, "Voz e violões" é antes de tudo um cartão postal sonoro do Brasil, onde busca enaltecer em pouco mais de 45 minutos nossas riquezas naturais, tradições folclóricas, o amor entre outros temas. Nele viajamos do toque da capoeira ao maracatu; do tradicional samba às mais densas harmonias existentes na música urbana e que no disco faz-se tão bem registradas pela altivez do canto de Alice, adornado pelos precisos arranjos presentes em um disco virtuoso, confeccionado de modo singular e alicerçado em premissas nada aceitáveis para um mercado fonográfico cada dia mais supérfluo como o atual.
Trabalhos como este remete-nos a um texto escrito por Nazareno de Brito na contracapa do disco "Abismo de rosas", do Dilermando Reis, e que diz o seguinte: "O violão, em sua simplicidade, mesmo quando o pinho tosco se cobre de vernizes e arabescos em madrepérola e pedrarias, parece ter sido criado para a linguagem sonora e sincera dos simples (...)". Imbuído de verdade e simplicidade, "Voz e violões" nos leva a uma profunda imersão na tradição do violão brasileiro, levando-nos a crer que aquilo que tão bem nos foi apresentado por nomes como Helena de Magalhães Castro, Rosinha de Valença e Helene Meireles atemporalizou-se e hoje perpetua-se a partir de trabalhos como este que reitera a necessidade de voltarmo-nos atenciosamente para uma nova, promissora e talentosa geração, de onde destaca-se este jovem e auspicioso nome. Se Dori Caymmi, Guinga, João Camarero, João Lyra, Julião Pinheiro, Mario Gil, Maurício Carrilho, Miguel Rabello, Pedro Messina, Sergio Santos, Theo de Barros, Thiago Amud e Zé Paulo Becker deram os seus respectivos avais não há como ir de encontro a este consenso. Uma chancela como esta acaba por atestar a importância de Alice Passos para a música popular brasileira daqui para frente.
Maiores informações:
Trabalhos como este remete-nos a um texto escrito por Nazareno de Brito na contracapa do disco "Abismo de rosas", do Dilermando Reis, e que diz o seguinte: "O violão, em sua simplicidade, mesmo quando o pinho tosco se cobre de vernizes e arabescos em madrepérola e pedrarias, parece ter sido criado para a linguagem sonora e sincera dos simples (...)". Imbuído de verdade e simplicidade, "Voz e violões" nos leva a uma profunda imersão na tradição do violão brasileiro, levando-nos a crer que aquilo que tão bem nos foi apresentado por nomes como Helena de Magalhães Castro, Rosinha de Valença e Helene Meireles atemporalizou-se e hoje perpetua-se a partir de trabalhos como este que reitera a necessidade de voltarmo-nos atenciosamente para uma nova, promissora e talentosa geração, de onde destaca-se este jovem e auspicioso nome. Se Dori Caymmi, Guinga, João Camarero, João Lyra, Julião Pinheiro, Mario Gil, Maurício Carrilho, Miguel Rabello, Pedro Messina, Sergio Santos, Theo de Barros, Thiago Amud e Zé Paulo Becker deram os seus respectivos avais não há como ir de encontro a este consenso. Uma chancela como esta acaba por atestar a importância de Alice Passos para a música popular brasileira daqui para frente.
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