Como todos sabem o samba é um patrimônio nosso. Poucos são os gêneros musicais espalhados ao redor do mundo capazes de traduzir tão bem a identidade de um povo como esse ritmo genuinamente brasileiro. Há quem diga que ao longo do ano passado ele tenha completado um século (fato que eu e muitos pesquisadores de nosso cancioneiro discorda a trazer, por exemplo, a gravação da canção "A viola está magoada", pela cantora Júlia Martins em 1914. Tal registro (que contou com acompanhamento do Grupo da Casa Edison) aparece no selo com a denominação de "samba", quatro anos antes da gravação de "Pelo telefone", que ficou consagrada como o primeiro samba gravado. Fora isso a história da música popular brasileira está intrinsecamente ligada ao gênero a partir não só de antológicas gravações como também devido aos grandes nomes que corroboraram (de um modo ou de outro) para elevar ao patamar que a boa música brasileira ocupa. Nomes como Carlos Cachaça, Noel Rosa, Jorge Goulart, Cartola, Nelson Cavaquinho, Dona Ivone Lara, Clara Nunes, João Nogueira, Paulinho da Viola, Silas de Oliveira, os sambas praianos de Caymmi, Beto sem Braço, Zeca Pagodinho, Adoniran Barbosa, entre tantos outros. Hoje trago para a coluna um nome não menos relevante em sua contribuição para a fazer com que o gênero mantenha-se vivo na memória afetiva do povo brasileiro: Luiz Carlos Baptista, mas que ficou conhecido como quatro cantos do país como Luiz Carlos da Vila. Nascido no bairro carioca de Ramos, o nome artístico "da Vila" foi incorporado em 1977, após sua entrada na ala de compositores da escola de samba Vila Isabel, escola que deu visibilidade ao seu nome devido ao samba-enredo "Kizomba, a festa da raça" (Luiz foi um dos autores).
Sua relação com a música se deu muito cedo, quando ainda pequeno ganhou o seu primeiro instrumento: um acordeão. Pouco tempo depois, um violão acompanhado por aulas que só foram interrompidas devido a crise financeira que atingiu a família. Frequentador assíduo do tradicional bloco carnavalesco Cacique de Ramos no final da década de 1970, o cantor e compositor pode ser considerado um dos formatadores do samba carioca contemporâneo ao lado de nomes como Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Sereno do Cacique, Sombrinha, Sombra, Cláudio Camunguelo, entre outros. Sua primeira música gravada foi "Graças ao mundo", interpretada pelo Conjunto Nosso Samba na década de 1970. Em 1979 compôs em parceria com Rodolpho de Souza, Tião Grande e Jonas Rodrigues, o samba-enredo "Os anos dourados de Carlos Magno", com o qual a Unidos de Vila Isabel ganhou o primeiro lugar do Grupo 1B no desfile daquele ano. Em 1983, produzido por Martinho da Vila, lançou o primeiro disco pela gravadora RCA. Em 1985 lançou seu segundo LP. Em 1997, lançou o CD "Uma festa no samba", figurando nesse trabalho mais como intérprete do que como compositor e no qual interpretou composições de Cláudio Jorge, Nei Lopes, Noca da Portela, Wilson Moreira e Zé Luiz do Império. No ano de 2006, com Cláudio Jorge, lançou pelo Selo Rádio MEC o CD "Matrizes", disco no qual interpretaram composições próprias e de outros autores. Em 2003 criou junto com Dorina e Mauro Diniz o grupo Suburbanistas que cantavam os compositores do Subúrbio Carioca. Em 2012 o selo Discobertas reeditou, em formato CD, seu segundo disco solo “Pra esfriar a cabeça”, lançado em 1985 pela gravadora Arca Som. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se "Kizomba, a festa da raça", "Além da razão", "Por um dia de graça", "O sonho não acabou", "Doce refúgio", "Chorando de saudade" e "A luz do vencedor". A quem não tem conhecimento vale o registro de qe desde 2008 Luiz Carlos não está mais entre nós. Vitimado por um câncer, o cantor e comopositor nos deixou órfãos do seu talento quando ainda tinha 59 anos de idade.
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