Com uma extensa carreira musical e projetos executados no Brasil e no Exterior, Markus Britto busca não se delimitar naquilo que faz a partir dos distintos projetos
Por Bruno Negromonte
Por Bruno Negromonte
A música brasileira como muitos devem saber tem a sua origem a partir de três vertentes: a cultura africana, a cultura indígena e a africana, sendo esta última aquela que mais contribuiu para a musicalidade que hoje temos. A música advinda da África por intermédio dos escravos, seus ritmos e rudimentares instrumentos foram os responsáveis (pelo menos é o que a maioria dos pesquisadores afirmam) pelo mais popular gênero musical existente no país: O samba. Da cultura europeia os colonizadores trouxeram o erudito, a dança de salão, os saraus e a música religiosa; já os índios trouxeram como contribuição aquilo que faz parte de suas mais distintas manifestações, pois a música que produzem estão presentes nas diversas manifestações culturais e sociais de cada etnia, fazendo parte dos rituais de magia, socialização, contato direto com os ancestrais e cura. Tendo predominantemente instrumentos de sopro ou percussão, os índios também aprenderam a usar o próprio corpo é tido como um instrumento musical. Com a batida dos pés eles dão ritmo a melodia dos instrumentos, sendo que até podem utilizar apenas o corpo para determinados rituais. A partir dessas matrizes, a música genuinamente brasileira foi encorpando-se, criando ritmos próprios, tornando-se a música que é hoje, respeitada em todos os lugares do mundo. Por conta disso, os profissionais que a executam e a compõe também usufruem dessa condição. Um bom exemplo é a Bossa Nova, que ao longo dos últimos 50 anos alcançou os mais distintos lugares existentes no planeta a partir de nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Sérgio Mendes e etc. Ainda hoje, mais meio século após lançada, "Garota de Ipanema" é a segunda canção mais executada da História, atrás apenas de "Yesterday", dos Beatles. De acordo com a editora do grupo Universal, que administra a comercialização da música, há mais de 1,5 mil produtos (LPs, CDs, DVDs) com ela.
Todo este retrospecto se deu para que houvesse a oportunidade de entender a música popular brasileira contemporânea a partir dos mais distintos talentos que influenciaram e continuam a nortear a qualidade ímpar e inerente que a MPB apresenta em todos os lugares ao redor do mundo como tem apresentando, dentro desse contexto, o instrumentista, arranjador e compositor Markus Britto que atualmente, residindo no Brasil, faz parte do Bando do Bem, do baterista do Barão Vermelho, Guto Goffi, que está lançando o seu segundo álbum solo. Nascido no Rio de Janeiro, Markus vem na estrada desde 1981 quando deu início à sua carreira profissional compondo e atuando nos bastidores de gravação como produtor a partir do grupo Asgaron, grupo de música pop fazendo fusão de rock progressivo com funk. Em 1984 fez parte do casting da Polygram a partir do 6L6, grupo que teve bastante aceitação por parte do público e por conta disso realizou várias turnês em todo o território nacional. Daí em diante, Markus Britto foi somando diversas experiências ao seu currículo a partir de projetos como o grupo Triboardiente e a temporada que passou na Europa, mais precisamente em Portugal, onde foi convidado a trabalhar com alguns grupos portugueses de diversos estilos musicais dentre eles: Soul Talking (grupo de R&B/Soul, com repertório baseado em covers da black music americana) e A fúria do açucar (Grupo Pop/Skabilly que já conta com 4 álbuns em sua discografia e onde atua como baixista dessa banda desde 1997). Além dessas experiências, o músico atuou ao lado de nomes como o do guitarrista português Joel Xavier e da cantora cabo verdiana Nancy Vieira fazendo apresentações por mutos países da Europa, Cabo Verde e Brasil.
No entanto, o seu mais relevante projeto musical quando ainda estava na Europa foi a Velez, um grupo que traz uma sonoridade pautadas na música brasileira com elementos de MPB/Bossa-Nova mesclados com algum toque jazzístico. Ao lado de três integrantes de nacionalidades distintas, Markus chegou a gravar quatro álbuns: "Natural", editado em 2001 e alcançando, além do mercado europeu, o mercado asiático como a partir de países como China, Japão, Taiwan, Hong-Kong, Malásia entre outros; "Luz in the Night", lançado em 2005 e voltado exclusivamente para o mercado nipônico; "Continuando" lançado pelo selo independente Estoril Sound Label a princípio somente para o mercado lusitano e, posteriormente para a Alemanha, Áustria, Suiça, Bélgica, Holanda e Luxemburgo através do selo alemão Laika Records. Por fim, ainda com o Velez, o músico lançou o álbum "Nossas Novas", primeiro projeto fonográfico do grupo que pela primeira vez chegou ao mercado fonográfico brasileiro e que foi apresentado aqui mesmo ao público do Musicaria Brasil em abril de 2014 a partir da pauta "COM A CARREIRA SEDIMENTADA NA EUROPA AGORA ELES QUEREM ALCANÇAR O BRASIL". De volta ao Brasil desde Julho de 2013, tem realizado trabalhos em estúdios de gravação, produção de jingles e trilhas sonoras diversas e atualmente integra como já dito a Guto Goffi & O Bando Bem.
Apesar de toda a riqueza rítmica existente em nosso país a partir de distintas manifestações, a verdadeira valorização da música de qualidade feita no Brasil ainda deixa muito a desejar. O hostil cenário implementado pelos grandes canais de comunicação e a subvalorização de músicos que trazem consigo características virtuosas faz com que seja necessário mais que talento para firmar-se nesse país de dimensões continentais. Trabalhos de qualidade (por vezes ou em sua grande maioria) são preteridos em relação a tantos outros de boa aceitação comercial. Remando contra a maré, músicos que seguem a cartilha do genial Hermeto Pascoal (que tem por princípio a frase: "Meu valor não são as notas de dinheiro. São as notas musicais") não se deixam abalar e buscam sempre acreditar e imprimir qualidade naquilo que fazem. No entanto, estes trabalhos que passam à margem dos grandes canais de comunicação e que por vezes restringe-se a um público específico corrobora e muito para manter acessa a chama da boa música brasileira nos palcos do mundo como é o caso Markus Britto, músico de talento que vem ao longo das últimas décadas fazendo de modo primoroso o seu papel como defensor de nossa cultura seja nos discos em que participou e que hoje encontram-se espalhados nos mais distintos continentes do planeta ou seja nos diversos palcos no quais se apresentou. Um trabalho árduo que ele enfrenta com o mesmo entusiasmo e coragem de quando começou na década de 1980 e não se deixou abalar pelas mais distintas adversidades que a música de qualidade enfrenta independente de sua nacionalidade. Seja no Brasil, em Portugal ou em qualquer lugar do planeta, a luta é a mesma. E os personagens, anônimos ou não, vão deixando a sua marca a partir de uma trajetória muito bem construída e sedimentada em dom, inspiração e suor na dose certa como é o caso de Markus Britto, mais um grande talento de nossa MPB.
E-mail: markusbritto@yahoo.com.br
Website: www.velezmusic.net
Myspace - www.myspace.com/velezproject
Soundcloud - www.soundcloud.com/velez
Facebook - www.facebook.com/markusbritto
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