Inhotim, o maior museu a céu aberto do mundo: na entrada, obra “Abre a Porta”, de John Ahearn e Rigoberto Torres, 2006
Instado frequentemente por Marina, minha filha, rata de museus e galerias e atenta às artes em geral, que sempre me intimou a conhecer Inhotim, no município de Brumadinho-MG, sinto-me agora ”com o dever cumprido”. Faz alguns anos que cobra a viagem!
Deu-se o momento. Queria conhecer Minas, sua parte histórica e ver tudo o que a terra de Guimarães Rosa e Carlos Drummond tem para dar, lincando aí a ida a Brumadinho.
Então fomos, eu e minha navegadora, traçar os planos: deixamos BH como sede-principal e começamos os dois roteiros. Primeiro Sabará, parte importante das cidades histórias – que nenhum de nós sabia pertencer à grande Belo Horizonte e, – dia seguinte, viagem para o museu-floresta.
Chegamos muito cedo, antes mesmo de abrir. O clima já estava mais agradável que em BH, uns dois graus a menos.
No burburinho da entrada – por mais bem sinalizada que fosse a recepção e oferecidas instruções, sempre surgem as perguntas, como “quer dizer que aqui tem um pouco de tudo?’ – pergunta um brasileiro que nunca fora a Minas, como eu! – “Me disseram que junta Serra do Mar (Hum), Serra do Espinhaço, Mata Atlântica e Serra da Mantiqueira, respondeu um cidadão de óculos, aparentando meia idade, com cara de entomologista!” (Foi colega de Vanzolini).
Doutro lado, num barranco que dava acesso à entrada, ainda impedida pelo guarda da instituição, pois a hora certa para abrir era às 9h30 e nós chegamos às 9h10, portanto com tempo para jogar conversa fora. Mas do outro, como dizia, as senhoras, moças e juvenis procuravam logo se assegurar dos banheiros mais próximos, mapas de toaletes e indicações para lavabos, no caso de refazer a cútis ou lavar as mãos. Tão prudentes, quanto corretas, as nossas companheiras de aventura.
Nosso guarda, vai com sua maneirice mineira que Deus lhe deu, e avisa: pronto, tá aberto! Como quem diz: “ôh gente apressada essa que vem por aqui, ainda nem perceberam que tão no mato”. Certamente, penso eu, ainda nem se deram conta dos 140 hectares de terra e das obras de arte de 700 artistas de 200 países que estão ali para ver.
– Sempre que tenho a felicidade de conhecer um novo lugar, mágico, sinto a necessidade de alcançar, descobrir o som perfeito, correspondente, que aproximaria meu companheiro de leitura ao lugar, pela música, com sons da natureza, reproduzindo cheiro, cor, ventos, sensações. Achei Villa-Lobos apropriado, inda mais tocada por este fantástico grupo mineiro “Uakti”, que me ensinou o gosto brasileiro da flauta de pan. Reproduzo aqui, se quiser usar o fone de ouvido:
Ária 5, de Bachianas Brasileiras, de Villa-Lobos, interpretada pelo grupo mineiro Uakti (1978-2015)
A primeira intervenção que vimos foi a que mais deu o que falar desde que Inhotim foi inaugurado, há alguns anos. É o cartão-postal.
Troca Troca, Jarbas Lopes, 2002
De fato, ao ver apenas por foto, a gente sai com aquele tradicional “oxente, que diabo é isso – todo mundo não conhece o fusquinha?” – É meu camarada, mas fuscas assim, envelhecidos pelo tempo e todinho colorido, antes mesmo de Romero Britto se tornar um nome mundial, isso eu nunca tinha visto não. E não é que gostei!
Helio Oiticica, 1977, “A Invenção da Cor – Square Magic 5”
Helio Oiticica era da minha geração, tinha o maior respeito pelo trabalho dele, um dos pioneiros da Arte Contemporânea no Brasil. Pena que a foto esteja distante, mas esse trabalho é muito bonito.
Beam Drop Inhotim, de Chris Burden, 2008
Na medida em que a gente vai invadindo e se deixando tomar pela brisa e o ar incolor de Brumadinho, com um céu quase imaculado, percebe-se que dali em diante nunca mais Inhotim vai deixar você.
Nos 140 hectares, subimos de 725m a 970m. O Museu abre de terça a domingo das 9h30 às 16h30 ou 17h30. Às quartas, é totalmente gratuito. Os mapas e orientações para visitação indicam a necessidade de que as pessoas devem levar de 2 a 4 dias para visitar o museu o jardim botânico.
Importante informar que o Instituto oferece um serviço de transporte, bem ao gosto dos gramados e trilhas de lá, que pode levar os visitantes por todas as atrações. Claro que é indispensável para idosos, pessoas com dificuldades de locomoção e pacientes de DPOC, como esse amigo que vos fala. É uma mão na roda…
Carrinhos de golfe estão sempre à disposição para a locomoção dos visitantes (4 e 6 lugares)
Em Brumadinho, existem inúmeras pousadas e hotéis. Em breve, o Instituto terá dois hotéis dentro de suas instalações.
História
O Instituto Inhotim começou a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. A propriedade tornou-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes.
Os acervos são mobilizados para o desenvolvimento de atividade educativas e sociais para públicos de faixas etárias distintas.
Brumadinho
Localizada no Vale do Paraobepa, Brumadinho possui belezas naturais, riquezas históricas e culturais. Com uma população de 35 mil habitantes, a cidade tem uma área de 634,4 km² e está situado no maciço do Espinhaço e início do Tabuleiro do Oeste. Começou a ser colonizado quando os “insubmissos” da Guerra dos Emboabas se dirigiram para lá, fugindo da repressão, a fim de garimpar ouro, livre dos elevados tributos da Coroa.
– Ah, deixo aqui um QUIZ (sem trema, né!) para a próxima coluna: Como se formou a palavra “Inhotim”. Até lá…
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