Por José Teles
Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, os donos da Asa Branca
A Avenida Calógeras, região Central do Rio, é conhecida pelo Vilariño, bar e delicatessen onde, em 1956, Tom Jobim foi apresentado a Vinicius de Moraes pelo crítico de música Lúcio Rangel, um encontro histórico. Mas outra dupla fez história dez anos antes. A uns cem metros dali, o advogado cearense Humberto Teixeira e o sanfoneiro pernambucano Luiz Gonzaga se conheceram. Gonzaga já havia falado com ele por telefone e combinaram o encontro no escritório de Teixeira.
Numa artéria curta e muito movimentada, na então capital da República, a partir daquele dia, criaram algumas músicas que desencadeariam a febre do baião no Brasil, entre elas Baião, No Meu Pé de Serra, Juazeiro e Aza Branca (assim, com "z", na época). A gravação de Asa Branca, o hino não oficial do Nordeste, e um dos maiores clássicos de todos os tempos da MPB, completa hoje 70 anos. A toada, que tem versões em dezenas de idiomas, inclusive em japonês e coreano, e é familiar a brasileiros de qualquer região, naquele tempo soava tão estranha que foi motivo de gozação em cima de Gonzaga, pelos músicos do Regional de Canhoto, que participaram da gravação, em 3 de março de 1947.
CANTIGA DE CEGO
Para eles, Asa Branca era a mesma coisa que cantiga de cegos nordestinos, pedindo esmola na rua. Fizeram uma fila, um deles com uma vela acesa, cantando a música. O episódio foi contado por Humberto Teixeira numa célebre entrevista ao conhecido pesquisador cearense Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez. Assim como Juazeiro ou No Meu Pé de Serra, e várias das parcerias iniciais de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, Asa Branca era cantada pelo Sertão nordestino, com letras diferentes, e fazia parte da bagagem que os dois trouxeram consigo para o Rio.
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