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sábado, 18 de fevereiro de 2017

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


SÉRIE “ESTRADA REAL” E “CIRCUITO DOS INCONFIDENTES”, MG

Impossível ir a Minas sem pensar em JK


Entre os anos 50 e 60, meu pai, em sua rixa pessoal com Belo Horizonte e Salvador, ficava fulo, quando se dizia que a capital mineira estava ultrapassando o Recife em população e, portanto, empurrando a capital nordestina para a quarta posição importância, além de São Paulo e Rio.

Nesses anos aí, Recife começou a receber uma leva de cento e tantos ônibus elétricos de BH, cidade que possuía uma topografia ruim para o uso dos silenciosos e bojudos veículos.

Eu não sei por que cargas d’água, nem quem era o marqueteiro da época. Tiveram a audácia de colocar uma faixa enorme na frente dos veículos: “PROCEDENTE DE BELO HORIZONTE”. Pronto, meu pai bufou; quis saber o que era aquilo, que diferença fazia o mesmo elétrico de Minas para os elétricos de Pernambuco etc. Fulo da vida, seu Joaquim nunca subiu os degraus de um desses ‘PROCEDENTES’. Vingou-se à sua maneira.

Passadas algumas décadas, as rivalidades já reduzidas, meu pai convivendo com os mineiros falecidos lá no céu, me pus eu, e minha eterna parceira, Eva, a visitar as Minas Gerais. Para mim, que gosta de ser viajar, era uma lacuna não conhecer Bel’ Horizonte e as Minas.

Deixarei para falar de culinária, futebol, hospitalidade, prosódia, cultura e tudo o mais no próximo “Megaphone”.

Desta vez, fico com o encanto anímico, atmosférico e astral que BH causa. Ao lado de nosso hotel, no bairro Savassi, ao lado da praça da Liberdade, ponteada pelo Palácio de mesmo nome e um verde sombreando ruas, travessas, avenidas e becos.

Agradável é palavra pouca para descrever o que senti em BH: um povo para lá de simpático, sô. Sem o contagio da megalópole, embora já seja.

A um quarteirão do hotel estava construído o que a nós nos parecia um réplica do Copan de São Paulo. Será que Niemeyer fez uma série de prédios tortuosos por aí? Vejam:

Edifício Niemeyer, em BH – Construído em 1954/55 para fim residencial


Edifício Copan, em SP – Construído por Niemeyer, a partir de 1951, concluído em 1966


O que mais me chamou a atenção no legado de JK como homem público foi a capacidade de congregar gente da mais alta qualidade em cada área de atuação.

Não vou ficar aqui apontando erros, equívocos que cometeu, por exemplo, ao dar prioridade às rodovias, em detrimento das ferrovias; na construção de Brasília, muitas lacunas orçamentárias a ser respondidas.

Permito-me, nesse momento, homenagear o médico, o militar, o homem público que foi prefeito biônico de Belo Horizonte, eleito de Minas Gerais e eleito presidente da República. Tantas outras mortes que estranhas que levaram outros personagens da história, sugaram também JK.

A mim, me parece correto dizer que estava sempre cercado dos melhores, Burle Marx, Portinari, Guignard, Niemeyer, Joquim Cardoso, Lucio Costa e muitos outros. A cultura era sua linguagem principal e com ela identificou um certo novo Brasil.

Bem, tem muito para contar. Fora dos guias e panfletos de turismo da cidade não havia a indicação do “Bar do Museu do Clube da Esquina”, no bairro, onde perto dali todas as turmas dos Clubes da Esquina, Minas, Gerais, Som Imaginário mantêm, com o empenho e a garra da Virgínia, um lugar especial onde quiser ouvir música de ótima qualidade, no clima e na linguagem da época e ficará alucinado como eu fiquei. E mais: os músicos, descendentes diretos dos ‘esquineiros’ estão lá todos os dias para tocar o que for bom, além da fabulosa música das Minas, é claro.

Semana que vem tem mais. Aí um gostinho para lembrar….


Girassol da Cor de Seu Cabelo, de Lô Borges e Milton Nascimento, 1972


Vento solar e estrelas do mar
A terra azul é a cor de seu vestido?
Vento solar e estrelas do mar
Você ainda quer morar comigo?

Se eu cantar não chore não
É só poesia
Eu só preciso ter você
Por mais um dia
Ainda gosto de dançar
Bom dia
Como vai você?

Sol, girassol, verde, vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar e estrelas do mar
Um girassol é a cor de seu cabelo?

Se eu morrer não chore não
É só a lua
É seu vestido cor de maravilha nua
Ainda moro nesta mesma rua
Como vai você?
Você vem?
Ou será que é tarde demais?

O meu pensamento tem a cor de seu vestido?
Ou um girassol que tem a cor de seu cabelo?

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