Dentro da música popular brasileira existem alguns nomes que se destacam como verdadeiros representantes do gênero que cantam mesmo que em dado momento flertem com outros do diversificado e rico universo sonoro existente em nosso país. Raul Seixas destacou-se como o Rei do Rock, Luiz Gonzaga como o Rei do Forró, Reginaldo Rossi como Rei do Brega, entre tantos outros nomes ainda hoje presentes na música popular brasileira. Quando se trata de carnaval, os reis não restringem-se apenas aos momos; nomes como Nelson Ferreira e Capiba destacam-se merecidamente como possíveis detentores de tal título monárquico. Outros proeminentes nomes destacaram-se também como responsáveis por animarem bailes e festejos carnavalescos ao redor do Brasil fazendo com que suas músicas se destacassem para além da data como é o caso do artista hoje em questão aqui em minha coluna. Coroado nos anos de 1960 como o ‘Rei das Marchinhas’, João Roberto Kelly ainda se emociona quando vê sua obra embalar os foliões do Carnaval nas ruas e nos salões. “A maior alegria da minha vida é ver minhas músicas passando de uma geração para a outra. Todos os blocos tocam as minhas marchinhas. Não ouço isso com os ouvidos, mas com o coração”, diz o autor de ‘Cabeleira do Zezé’, ‘Colombina’, ‘Mulata Iê-iê-iê’, ‘Maria Sapatão’ e ‘Bole-bole’. Boa parte de sua obra foi composta de modo bastante informal, quando sentado à mesa de bares bebendo, se divertindo e jogando conversa fora com os amigos de boemia, João Roberto inspirava-se em alguma situação ou acontecimento para dar vazão a boa parte de sua obra. Obra esta que caiu no gosto popular e ainda hoje faz-se imprescindível no repertório de qualquer orquestra que se preze anima os bailes carnavalescos de norte ao sul do Brasil.
Nascido no bairro da Gamboa, no centro do Rio de Janeiro, e filho do professor, escritor e jornalista Celso Octávio do Prado Kelly, João Roberto aos onze anos, começou a aprender piano com a mãe Luzia Kelly e com a avó. Mais tarde, buscou estudar e aprimorar-se no instrumento com aulas de música e de piano com a professora Zélia Lima Furtado no Conservatório Brasileiro de Música. Apesar de bacharelar-se em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, foi na música que se achou pleno de felicidade. Sua estreia no universo musical enquanto compositor se deu em 1957 quando seu pai o apresentou ao cronista Leon Eliachar e Geysa Boscoli. Desse contato surgiu o convite para João Roberto musicar a revista Sputnik no morro. A peça estreou no Teatro Jardel no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano. Sua primeira intérprete de renome nacional foi a cantora Elza Soares, que em 1961 gravou em 78 rpm pela Odeon a sua composição Boato e viria a incluir esta mesma música em vários outros LPs, nos anos seguintes. Ainda em 1961 Elizeth Cardoso também chegou a gravar uma canção de sua autoria. É válido destacar que foram estas duas artistas que mas o ajudaram no início da carreira de compositor não apenas fazendo registros inéditos de canções da lavra de João Roberto como também regravando canções. Em ambas situações destacam-se canções como "Boato", "Esmola", "Gamação" e "Se vale a pena". Pelo que se pode ver, apesar de ter se destacado como um dos maiores compositores de marchinhas de todos os tempos em nosso país, João Roberto Kelly começou a sua carreira flertando com outros gêneros. Prova imaterial da diversidade existente em sua prova e atestando aquilo que destaquei no início deste texto.
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