Cheguei nesse planeta no dia 9 de janeiro, nos idos dos anos 50, na cidade de São Paulo, capricorniana com ascendente em libra, apaixonada por tudo que fosse arte: música, poesia, teatro, literatura, cinema etc. Sempre imaginei que seria jornalista, mas pelo visto, a vida já tinha inventado uma outra história pra mim. Só tive um irmão, que também sonhava com a arte. Queria ser cantor. Acho que não era uma simples coincidência, já que venho de uma família de músicos, por parte de minha mãe. Meu bisavô era maestro, compositor, meu avô também e minha mãe, só não seguiu sua vocação musical porque minha avó não aprovava, de maneira alguma, essa aptidão feminina nos anos 40. Então, por motivos alheios a sua vontade, como diria ela, mamãe acabou se tornando apenas uma incentivadora da arte que meu irmão e eu começamos a fazer desde crianças, quando nossa brincadeira preferida era criar histórias e músicas, para o nosso teatrinho de bonecos.
No decorrer da nossa adolescência, começaram a aparecer os festivais de música, espalhados pelo interior de São Paulo, Minas, Rio e outros mais. Participamos de muitos, perdemos alguns, mas ganhamos vários. Um número suficiente para a gente acreditar que aquele era o nosso caminho. Meu irmão, Milton Carlos, foi convidado a gravar e a partir do seu disco, outros cantores começaram a nos pedir músicas.
Além de festivais, além das músicas, nós fazíamos vocais em estúdios e foi num desses trabalhos que tivemos a oportunidade de enviar uma canção nossa para Roberto Carlos. Algum tempo depois, para nossa surpresa, encontramos no jornal os títulos das músicas que fariam parte do disco do Roberto para aquele ano e entre elas estava lá: “Amigos, amigos” – de Isolda e Milton Carlos. Acredito que tenha sido essa a mola mestra para toda uma carreira, o motivo maior para que levássemos muito mais a sério nossa vida profissional.
Depois dessa, vieram outras, sempre festejadas com a mesma alegria, enquanto outros cantores gravavam nossas composições também. Formávamos uma boa dupla. Meu melhor amigo, por coincidência, era também meu irmão e a gente fazia músicas com o coração, com vontade, unicamente por amor e elas nos retribuíam com a mesma intensidade.
Foram muitas viagens, muitas comemorações, gravações e shows, até a madrugada em que cheguei em casa e fiquei sabendo do acidente que meu irmão havia sofrido. Ele tinha nos deixado, embora pra mim ainda pareça apenas uma viagem demorada, como tantas outras que ele fazia, e que um dia vai estar de volta, como sempre voltava pra casa.
Acho que minha vida se divide em antes e depois desse dia. Pensei em voltar a estudar, em tomar outro rumo, mas no meio dessa tempestade encontrei vários amigos que me abrigaram, emocionalmente, e mesmo sem perceber continuei fazendo sozinha, o que sempre fiz desde menina. Brincar de fazer músicas. Desse momento em diante, sem mais o meu amigo para brincar comigo.
Foi assim que fiz, numa madrugada, uma música desprovida de qualquer ambição futura, uma confidência sincera: “Outra vez”. Gravei essa canção numa fita entre outras e entreguei para Roberto Carlos.
“Outra vez”, é uma canção que nunca mais me abandonou. Ela já fez parte de trilhas para novelas, foi gravada pela maioria dos nossos intérpretes, instrumentada ou cantada nas mais diferentes interpretações e arranjos, ganhou muitos prêmios, inclusive o de música do ano e eu sei que sempre vai me acompanhar.
Tive, tenho e sei que terei, muitos outros parceiros musicais ao longo da minha vida. Continuei a fazer canções sozinha ou acompanhada, gravadas por pessoas que sempre admirei, conseguindo sucessos sempre inesperados e agradecendo aos meus anjos da guarda por cada um deles.
Deixando de lado as decepções, que esqueço até sem querer e que na sua maioria sempre vêm do lado que não é o artístico, só posso concluir que tudo deu muito mais certo do que a gente esperava, o que me faz acreditar que a realidade é muito melhor do que o sonho.
Hoje, ainda moro em São Paulo, continuo compondo, escrevendo, brincando, com as tantas formas de arte que sempre amei, realizei mais um sonho – de gravar minhas próprias canções, da maneira que sempre quis – . Ainda tenho comigo os mesmos antigos amigos e a cada dia encontro mais um, que identifico pela sensibilidade, pela mesma vontade de brincar, que as pessoas chamam de arte.
Fonte: Site Oficia da Artista
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