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domingo, 29 de janeiro de 2017

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

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Por vezes pareço-me repetitivo, mas há álbuns artistas que merecem laudas e laudas de destaque como é o caso de Braguinha. Falar de artistas dessa envergadura nunca é demais quando se vive em um país notoriamente conhecido por sua memória curta. Além de se destacar como exitoso compositor da história de nossa música, Braguinha também, como diretor artístico da gravadora Continental, foi responsável pela projeção fonográfica de nomes como Radamés Gnattali, Tom Jobim, Lúcio Alves, Dick Farney, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney, Jorge Goulart e Jamelão entre outros. Como autor outra façanha não destacada em minhas abordagens anteriores é a composição de "Copacabana", cuja gravação de Dick Farney, em 1946, com arranjo de cordas de Radamés Gnattali, seria considerada precursora da bossa nova. Outra composição de destaque é "Balancê", gravada originalmente por Carmem Miranda em 1937, foi regravada por Gal Costa em 1978. No ano seguinte, a marchinha se tornaria a mais tocada no carnaval, com 2357 execuções, segundo dados do ECAD. Multifacetado, ele também arquitetou com delicadeza a mais impressionante coleção de discos infantis até então lançada no Brasil. Na direção da gravadora Continental, Braguinha criou o selo Disquinho, que lançou várias adaptações suas para histórias tradicionais como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas; além de recuperar inúmeras cantigas de roda. Em 1976, a série atingiu a marca dos cinco milhões de cópias editadas. Vinte anos mais tarde, em 1996, a Editora Moderna transformou as histórias criadas por ele em livros coloridos.


Uma passagem interessante na biografia do saudoso compositor aconteceu no jogo Brasil e Espanha ocorrido na copa de 1950. Sentado na cadeira cativa do Maracanã para assistir ao jogo da seleção brasileira, Braguinha não imaginava que uma composição sua iria fazer parte da trilha sonora da torcida presente no estádio. Chegando como favorita, a seleção espanhola levou uma goleada da equipe brasileira. A cada gol era possível ver um público estimado em mais de 150 mil pessoas cantarem:

Eu fui às touradas em Madri
Paraná – tchim – bum – bum – bum
Paraná – tchim – bum – bum – bum
E quase não volto mais aqui
Pra ver Peri
Beijar Ceci”.

Então o ocupante daquela cadeira cativa não consegue mais se conter e chora. E, quando a enorme torcida festeja a vitória final, Braguinha ainda está chorando. Enquanto dezenas de milhares de torcedores brasileiros gozam o time espanhol, ele é o único que naquele momento não consegue cantar de tanta emoção. Em vida, Braguinha ainda teve a oportunidade de usufruir de outras diversas homenagens, dentre elas os dois espetáculos montados em sua homenagem: O Rio amanheceu cantando, em 1975, e Viva Braguinha, na Sala Sidney Miller, em 1983. Em 1984, com a inauguração do Sambódromo, a Mangueira homenageou o compositor com o samba-enredo "Yes, nós temos Braguinha". Com o tema, a escola de samba recebeu o título de Super Campeã daquele ano. (Em 2007, a Mangueira voltou a homenagear o compositor por seu centenário). Destaque ainda para o Prêmio Shell para Música Brasileira que recebeu no Teatro Municipal, em 1985 e a medalha da Ordem do Mérito Cultural com a qual foi agraciado aos 90 anos, em 1997. A condecoração foi entregue pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Nosso eterno Carlos Alberto Ferreira Braga (ou se preferir Braguinha ou João de Barro) faleceu aos 99 anos em 24 de dezembro de 2006, vítima de falência múltipla dos órgãos provocada por infecção generalizada.

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