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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ISADORA MELO NUM DISCO COM SABOR DE FADO E SAUDADE


Por José Teles




Vestuário (independente/Funcultura) o primeiro álbum de Isadora Melo é um dos mais inovadores lançamentos de 2016, por sinal, um ano de boa safra. Enquanto parte dos músicos da nova geração da música brasileira procura descobrir alquimias sonoras experimentais, e outra se espelha no passado para compor seu presente, Isadora Melo canta com uma solução instrumental de instrumentos convencionais, mas saindo de um padrão estabelecido. Ela e seu grupo criam uma nova arquitetura para o chamado conjunto regional, com bandolim, acordeom, baixo acústico e violão. Sem percussão.

Um disco que não traz canções de autores consagrados (levando-se em conta que Zé Manoel ainda sendo descoberto pelo Brasil), mas todas de altíssima qualidade, e onze músicas, mais uma reprise de Partilha, fechando o disco. Os jovens autores cantados por Isadora Melo mostram que a canção não está morta, muito menos a melodia bonita, feito a da citada Partilha, daquelas que, lembrando Camões, nos põe na alma “Um não sei quê, que nasce não sei onde/Vem não sei como/ e dói não sei por que”.

Estes sentimentos afloram ao longo do disco, que poderia ser intitulado “Saudade”. Um repertório que tem um quê de fado, destilando a melancolia ancestral do gênero, mas interpretado à brasileira, com arranjos engenhosos e a arquitetura sonora de instrumentos básicos. Eles emolduram quase todas as canções, com poucas exceções, como acontece na ciranda Ave D’Alma, de Mavi Pugliesi, em que entra o celo de Jaques Morelembaum (com participação de Zé Manoel).

Um disco de luz e sombras suaves, com diversos gêneros entrelaçados, mas que não se destacam um dos outros, como em Braseiro, de Juliano e Julio Holanda, que se insinua um samba no inicio, para prosseguir quase como uma modinha. Isadora, que tem voz potente, não vai a tons altos, mas também não canta sussurrado, interpreta com a mesma sutileza dos instrumentos. Sai-se deste clima em Pequena, de Glauco Céar II, que estaria à vontade num álbum do pessoal da Vanguarda Paulistana.

Um disco de MPB de câmera. Isadora e os músicos cedem a preferencial às canções, feito se pedissem que não se tire a atenção delas, e merecidamente. São composições de tessituras delicadas, harmonias sofisticadas, e letras muito boas, como Do Tempo. de Juliano Holanda e Hugo Lins, ou a a faixa apropriadamente intitulada Canção Bonita, de Hugo Coutinho, uma iguaria servida em pequenas frases, pequenas porções.

Com Isadora Melo estão músicos com que ela trilha uma rota que já tem história, aqui, no Sudeste, exterior. Juliano de Holanda é o maestro do disco, cuja produção assina. Se já é talento carimbado como músico, ela se prova um dos mais inspirados compositores da MPB contemporânea, assina (sozinho ou com parceiros), metade da faixas de Vestuário, outro nome, que pontua a trajetória de Isadora é o de Zé Manoel, que participa com um composição, Habanera Hobie Cat Acalanto (com Mavi Pugliese e Kassin).

Em Vestuário, Isadora Melo, que também é atriz, com sua turma renovam a MPB, reforçam o papel da canção, – valorizando letra e melodia – num disco impecável, mas que não surpreende, porque os do Recife, Olinda e adjacências que conhecem a voz de Isadora, com o Arabiano, ou solo, e o talento dos músicos com que gravou, não esperavam outra coisa.

Confiram Isadora Melo em Partilha:


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