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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

ALCEU, ELBA E GERALDO AZEVEDO LANÇAM CD E DVD DA TURNÊ GRANDE ENCONTRO

Por Thales de Menezes




A turnê "Grande Encontro: 20 Anos", de Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo, poderia ser chamada "Grande Reencontro". Os três artistas reeditam os shows que fizeram juntos em 1996, um projeto que na época contou também com Zé Ramalho. Mas outro título possível, na base da brincadeira, seria "Grande Desencontro".

A piada é disparada por Geraldo durante uma de muitas discussões na entrevista do trio à Folha, no apartamento de Alceu, no Leblon. Foi em um dos momentos nos quais ele deixou o sofá para tomar água de coco e fugir um pouco da azucrinação de Alceu. Este fala pelos cotovelos, de um jeito divertido e errático que enlouquece Geraldo.

Elba, mais tranquila, tenta manter os meninos na linha, mas faz questão de rebater cutucadas de Alceu. Por exemplo, quando ele critica a parceira que, ainda adolescente, tocava bateria numa banda de garotas que seguia o repertório da jovem guarda.

Ela fala do talento pop de Renato e Seus Blue Caps, e Alceu interrompe. "É melhor do que Tom Jobim? É melhor do que João Gilberto?", diz em tom exaltado, provocador.

Não adianta Elba falar em seguida de sua paixão pela bossa nova. Alceu já está em outra, relembrando o tempo em que morou na França, conjecturando sobre a Cuba pós-Fidel ou simplesmente cantando alguma música.

Alceu afirma que não consumiu drogas, "como todos na minha geração, incluindo esses dois". E reclama que ele é quem leva a fama de maluco. "Mas você é maluco naturalmente", diz Geraldo. "Alceu é feito o Obelix, que caiu na poção quando era pequeno e não precisa tomar mais."

A conversa é elétrica, sim, mas o bate-boca é muito carinhoso. Por trás das diferenças em vários temas, transparece a intimidade decorrente de vidas entrelaçadas.




SHOW NO RÉVEILLON

Cada um é muito importante na carreira do outro, o que explica a cumplicidade e o afeto mostrados na turnê, que viaja pelo Brasil desde setembro e continua no ano que vem. Os três vão fazer o show do Réveillon de Copacabana.

A química entre os três nordestinos está acessível a um público maior a partir de sexta (9), quando é lançado o registro da turnê em CD e DVD.

São quase 30 músicas nos shows, que começam com "Anunciação", grande hit de Alceu, e terminam com as explosivas "Banho de Cheiro" e "Frevo Mulher".

"Grande Encontro: 20 Anos" é, também, uma prova irrefutável do enorme talento de Elba Ramalho.

Os pernambucanos Alceu, 70, e Geraldo, 71, são compositores. O primeiro, mais roqueiro, esfuziante. O segundo, mais romântico, encantador. No palco, estão em zona de conforto, pinçando peças de seus cancioneiros.

A paraibana Elba, 65, transita entre o repertório dos dois amigos, o que exige cantar em tons diferentes de seu habitual. "Tenho que me adaptar, corro atrás do que é confortável para eles." Geraldo concorda: "Ela se sacrifica".

Elba é responsável pela fatia do show que resgata grandes nomes da canção nordestina, interpretando Zé Ramalho, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e Gonzagão. De Gonzaguinha canta "Sangrando", um dos momentos mais emocionantes do show.

Essa dedicação ao projeto é fruto de quatro décadas de amizade. "Eu vim para o Rio convidado pela cantora Eliana Pittman e com ela fiz várias temporadas, nos anos 1960", conta Geraldo.




DYLAN BRASILEIRO

Alceu assistia ao futuro parceiro em shows e programas da TV pernambucana. Estudante de direito, foi fazer um curso em Harvard. Amigo de hippies em Boston, tocava violão e foi visto por um jornalista americano. "Fui parar no jornal. Estava escrito que eu fazia 'protest songs' e era o 'Brazilian Bob Dylan'".

Na volta, Alceu desistiu do direito e foi ser jornalista no Rio. Encontrou Geraldo e disse: "Estive nos Estados Unidos e cantei uma música sua". Era "Aquela Rosa", que Elba gravaria anos depois.

Elba conta seu encontro com os amigos. "Geraldo é o elo, é a nossa Faixa de Gaza. Vim ao Rio para um show com o Quinteto Violado e fiquei. Fui tentar um papel numa peça e conheci Geraldo, que fazia direção musical."

Eles ficaram muito amigos, e Alceu também tinha música na peça. "Eu e Geraldo terminamos alugando apartamento juntos, vizinhos de Alceu", segue Elba. "Quando a fome apertava, a gente ia comer na casa de Alceu."

Talvez daí venha a força do "Grande Encontro". Como define o dito popular, essa entusiasmada celebração da música nordestina junta a fome com a vontade de comer.

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Box de LPs reúne álbuns de Alceu antes do sucesso

Alceu Valença tem também um resgate particular de sua carreira. Ele começou a percorrer o Brasil com a turnê "Vivo! Revivo!", em que canta o repertório de seus primeiros discos. O show está saindo em CD e DVD (R$ 25 e R$ 34, respectivamente, pela Deck).

As gravações originais também sairão numa caixa de LPs, "Alceu Valença 70". São os álbuns "Molhado de Suor" (1974), "Vivo!" (1976), "Espelho Cristalino" (1977), e "Saudades de Pernambuco", disco pouco ouvido, gravado na França, em 1979. Essa quadra retrata Alceu antes do sucesso dos anos 1980.

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GRANDE ENCONTRO: 20 ANOS
ARTISTAS Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
LANÇAMENTO Sony Music
QUANTO R$ 25 (CD), R$ 33 (DVD)

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