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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

VÔTE... ESCUTA SÓ: OS PAIS DA BOSSA NOVA



Por Paulo Carvalho



A Bossa Nova movimento musical dos anos cinquenta, nasceu nos apartamentos da zona sul carioca como resultado de uma casualidade. Os vizinhos de Nara Leão reclamavam do barulho daqueles grupos de jovens tocando violão e cantando num clima criado pelo cinema Francês, pela poesia de Vinicius, na pintura de Tarcila do Amaral, tudo ainda no rescaldo da semana de arte moderna.

Fala-se muito em quem foi o pai da bossa, se Tom Jobim, João Gilberto, Carlos Lira, Normando Santos, e Valzinho, este, violonista da rádio Nacional nos anos quarenta, que tinha na sua plateia muitos dos que mais tarde divulgariam para o mundo todo aquela batida diferente. Na verdade todo mundo quer ou queria ser o pai da Bossa Nova. Pra mim, os verdadeiros pais da Bossa Nova, são aqueles, considerados os vizinhos chatos, que gritavam pelas janelas dos apartamentos, pedindo silêncio. Sem eles o surgimento da Bossa Nova estaria seriamente comprometido.

Claro que existem outros fatores que influenciariam no desenrolar do processo, como o surgimento no cenário da música de cantores como Mário Reis, Dick Farney, Lucio Alves, Tito Madi, Johnny Alf e João Gilberto no Brasil, Chet Baker e Joe Mooney no plano internacional, que portadores de voz afinada, mas sem o dó de peito de um Vicente Celestino ou um Caruso necessitavam de espaço e mercado para mostrar sua arte. Eles passariam a ser seguidos e se tornaram ídolos dos jovens de Copacabana e Leblon. Inicialmente, letras simples e até oligofrênicas eram respaldadas por melodias interessantes, acordes inovadores e dissonantes que não tinham nada com o que se tocava até então, ao mesmo tempo em que se aproximava do jazz cultuado pela intelectualidade da época. As letras melhoraram muito com a contribuição de Vinicius de Morais, de Tom Jobim, além deles, apenas tímidas participações de Newton Mendonça, Aloísio de Oliveira e Fernando Lobo.

Favorecidos ainda, pelo outro lado da história, o que é que tinha do outro lado? A Jovem Guarda, com uma imitação barata do rock americano pós-guerra, tendo como carro chefe Elvis Presley e o seu rebolado, na realidade, uma grande voz a serviço do nada, posteriormente nos brindou com alguns clássicos da música pop, são inesquecíveis as suas interpretações de LOVE ME TENDER e KISS ME QUICK.

O resultado de tudo isso foi muito bom, a Bossa Nova levantou a alto estima dos brasileiros, que admitiam ter encontrado uma música própria, original, reconhecida internacionalmente, principalmente depois da famosa apresentação do Carnegie Hall, na verdade um tremendo fiasco que deu certo. Os bossanovistas deixaram bons frutos e boas lembranças, momentos inesquecíveis, e acima de tudo, permitiram o surgimento de músicos, compositores, e cantores de alto nível no Brasil. Mudaram totalmente os rumos e a cara da nossa música. Sinceramente não dá para saber o que seria de nos sem a Bossa Nova, sem João, sem Tom, sem Vinícius.

Pouca coisa, quase nada sobrou de Valzinho no violão, esta música de sua autoria, era compositor de mão cheia, está num vinil de Zezé Gonzaga como faixa bônus, dá pra ver como este violonista já tratava os acordes nos início dos anos quarenta, quando ninguém falava em Bossa Nova.

Valzinho com seu violão

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Viver Sem Ninguém – Valzinho e Marcelo Machado.
Valzinho: Voz e Violão. Part. Zezé Gonzaga

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