Por Joaquim Macedo Junior
Centrão da cidade: praia com 32 km
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora.
Aqui, onde indefinido, agora, que é quase quando.
Quando ser leve ou pesado, deixa de fazer sentido”. (Gilberto Gil)
Pensei nesta canção de Gilberto Gil, compositor de tantas imagens e pensamentos, procurando o mote para explicar a lembrança tão intensa e os muitos momentos mágicos que passei em Peruíbe, litoral Sul de São Paulo.
Gil é vocacionado a timbrar apotegmas de lugar e de existenciais momentos da vida – super-homem, toda menina baiana, em Londres, puxando os cabelos, domingo no parque, olha a faca, abacateiro acataremos teu ato, nós também somos do mato e ‘parabolicamará’, para falar de algumas canções e versos.
O melhor lugar do mundo é aqui e agora, principalmente quando nos achamos perdidos de ser e cansados de procurar e dizemos que aquilo que temos é o melhor. E está certo! Gil tem razão.
Mas não posso deixar de teima, no entanto, que o melhor lugar do mundo é aqui e agora, verdadeiramente quando este lugar é o melhor e o quando é naquele instante que você está feliz e sublime no tempo.
Aí é quando o autor de “se eu quiser falar com Deus” se licencia de sua acomodação espiritual e se vê inevitavelmente no melhor lugar e no pleno agora.
O introito se faz necessário porque não é fácil dizer o quanto se foi feliz e quanto a atmosfera de um lugar contribuiu para esse conjunto de bons fluidos pairasse no mesmo agora sempre, até hoje.
Quando vou a Peruíbe, alguma coisa acontece no meu coração. Pode ser Jimmy Cliiff tocando para todo o mundo num palco à beira da praia; pode ser tomar um banho de mar em qualquer ponto dos 32 km de praia; é deixar-se ficar nas areias duras, fofas, amplas eternas, confundindo-se com marés altas e marés baixas ao longo do dia, sem se afastar do barulho do mar.
A cidade, bucólica, com temperatura boa e agradável, por conta do vento permanente é um atrativo. Houve tempo em que abrir sorveteria era uma febre, o programa da moda. Eu peguei esse tempo. Quanto sabor.
Comecei a ir a Peruíbe pelos idos de 1994 e numa das entradas na longa avenida Padre Anchieta (eita! jesuíta onipresente nesse litoral todo de meu Deus!), eu e minha mulher Eva, escutando “Dia Branco”, de Geraldo Azevedo e Rocha, a vigem inteira, trilha sonora pelos 141 km de viagem, desde São Paulo, pela Imigrantes e Manoel da Nóbrega (outro jesuíta arretado), resolvemos num lapso, depois de cantar de cor a letra quinhentas vezes, declará-la nosso hino oficial de romance – não tínhamos e não temos a mínima pretensão de achar a escolha uma exclusividade nossa – pela beleza e do que fala, como fala e para quem fala ela certamente se encaixa nos encantamentos de muitos enamorados que querem timbrar sua canção de amor. E aquele “Se você vier para o que der e vier comigo, eu te darei o sol….” é inevitável de amor e romanticamente pronta.
O nosso destino era a casa de Levy e Silvia, esta cunhada de minha mulher, Eva, onde numa época ainda de clandestinidade romântica, preferíamos a cautela perante os riscos que um caso daquela ordem pudesse causar.
Era um canto seguro e com muitos fazeres e alegrias. Havia os sobrinhos, a turma da praia, muita cerveja, conversa fiada, o bater o ponto diário na barraca 34, o convívio com uma galera muito eclética, incluindo a facção muito louca.
Pois então “Dia Branco” foi oficializado e em toda roda de violão, alguém pedia a música para homenagear os recém-chegados “Mandiocão e Cenourinha”, alusão clara à nossa tez: branca por dentro e queimada por fora e a outra completamente alaranjada, pois ruiva dos pés à cabeça. Houve maledicências, mas não demos bola para aqueles poluídos sexualmente. Aqui e agora, o “Dia Branco”:
Vida noturna, nos bares da cidade: sol, suor e cerveja
DADOS OFICIAIS DO MUNICÍPIO (Wikipedia e fontes)
Brasão de Peruíbe
Desmembrada de Itanhaém, a “cidade da Juréia” foi fundada em 18 de fevereiro de 1959 (completando, portanto, 57 anos amanhã). Também conhecida como “Terra da eterna juventude”, seu gentílico é ‘peruibense’.
Com IDH de 0,749, considerado alto, tem população de 65 mil habitantes (2014), numa área de 326 km². Está na Região Metropolitana da Baixada Santista e faz fronteira com Iguape, Itanhaém, Itariri e Pedro de Toledo.
Segundo o pesquisador Silveira Bueno, Peruíbe é um vocábulo indígena que significa “no rio dos tubarões”, pela junção dos termos tupis iperu (tubarão), ‘y (rio) e pe (em).
Consta, porém, em alguns documentos, que o nome estaria associado ao modo como José de Anchieta se referia ao lugar, chamando-o de “Tapirema do Peru”, por suas semelhanças com a região peruana onde os jesuítas haviam enfrentado dificuldades no exercício da catequese. (versão não confirmada).
Peruíbe é um dos municípios paulistas considerados estâncias balneárias. O status garante à cidade uma verba maior por parte do estado, para a promoção do turismo.
Um pouco de história: quando do descobrimento do Brasil, pelos portugueses, em 1500, já existia na região a Aldeia dos Índios Peruíbe. No sistema das Capitanias Hereditárias, o território onde hoje está Peruíbe pertencia à Capitania de São Vicente, cujo donatário era Martim Afonso de Souza.
Mas a história de Peruíbe está intimamente ligada ao estabelecimento dos padres jesuítas pelo litoral do estado de São Paulo. Em 1549, chegou o padre Leonardo Nunes para fazer a catequese dos índios, no local onde havia sido construída a Igreja de São Batista.
Os indígenas o apelidaram de “Abarebebê” (padre voador), pois parecia estar em vários locais ao mesmo tempo. Restos da igreja são conhecidos hoje como ruínas de Abarebebê. Em 1554, foi a vez do ‘nosso’ padre José de Anchieta (que também parecia ter o dom da ubiquidade!) chegar ao aldeamento. Em 1640, passou a ser conhecida como Aldeia de São João Batista e, em 1749, os padres jesuítas foram expulsos do Brasil. A aldeia entrou em declínio, tornando-se uma pacata vila de pescadores, submetida ao município de Itanhaém.
Na região, a predominância é de Mata Atlântica, reunindo espécies como jacarandá, jequitibá, ipê, além de orquídeas e bromélias. Manguezais e restinga completam a área litorânea, e mais para o interior há a presença do cerrado.
Peruíbe tem quase a metade de seu território incluído em sete Unidades de Conservação Ambiental, em especial a Juréia-Itatins e o Parque Estadual da Serra do Mar, duas das mais amplas e importantes áreas de preservação de São Paulo.
O clima de Peruíbe é subtropical úmido, sem meses secos, com verões quentes e invernos brandos, sendo o mês de fevereiro o mais quente, com média máxima de 30° e o mais frio de julho, com média mínima de 14°C.
Na semana que vem, o casamento ecumênico-moderno-praieiro. Na praia, com mistura de rituais, beleza, singeleza, novidade que virou moda!
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