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sábado, 26 de novembro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA: MOMENTOS MÁGICOS – PERUÍBE – CASAMENTO ECUMÊNICO NA BEIRA DA PRAIA – II


Por Joaquim Macedo Junior


Buffet do casamento: caranguejada (Homenagem a Keitlin Sepúlveda)


Há alguns lugares que, pela intensidade com que frequentamos, de garoto a adulto tornam-se a nossa terra de “Oz”, a escola de Hogwarts, do Harry Potter, que nos habita, e o Shangri-lá, no Himalaia, que nos sublima e se vive o paraíso. Em geral, não nos afastamos no pensamento destes lugares. Carregamo-los como amuleto. Quando não podemos ir a eles, eles estão em nós.

Peruíbe é uma cidade que acaba, a chega um ponto em que se encerra, como se tivesse uma parede (mas isso é uma ilusão, pois parte da Jureia é de Peruíbe). Se seguir além, poderá encontrar mais surpresas de Oz e mais ensinamentos de Hogwarts, mas é necessário vontade superior.

Não basta querer, há que se esforçar. Na direção do Guaraú, a fenomenal praia, já encravada na reserva da Juréia, ia-se com veículos dotados de tração reforçada e espírito selvagem. Depois, sem alternativas, a viagem era a pés, por trilhas, pedras, escorregões, lodo, todas as armadilhas. O ideal era encadearem-se todos, dando-se às mãos para não interromper o passeio por um acidente qualquer.

Para quem gosta do assunto, lembro o caminho de Gaibu para Calhetas e os do Morro de São Paulo, subindo para os morros e descendo para as primeira, segunda, terceira, quarta e quinta praias.

Antes de chegar à praia aberta, passávamos por um ponto, que era parada obrigatória – mais subida, mais íngreme e mais apertado – para se chegar a uma casinhola encravada na rocha, onde morava o ‘Chão de Pedra’, um guru a quem pedíamos a benção, despejávamos um pouco da loção de manacá que nos dava e obtínhamos o ‘alvará’ de entrada para uma viagem em paz, sem acidentes.

A comunidade toda o conhecia ‘Chão de Pedra”. Visita que ainda não o conhecesse, tinha parada obrigatória, era um rito.

Mas, ao chegar no ‘fim’ de Peruíbe, e antes de chegar no ‘Chão de Pedra’ para atravessar o rio em direção ao Grajaú, era imperativo parar na barraca da Sarah.

Além dos pontos ‘sagrados’ de gastronomia, paisagem, aventura, brincadeiras e bem-estar, tínhamos os pontos de encontro de final de dia, atualizando as fofocas, novidades, reclamações em geral, regadas a cerveja, cachaça, tira-gosto e muito, muito reggae. Era época do reggae na praia. Já lhes falei do show de Jimmy Cliff, mas o onipresente era mesmo o grande rastafári Bob Marley.

Esses encontros tinham endereço na barraca do Jorge, número 34, da praia, com permissão, alvará e todos os papéis exigidos pelas autoridades locais.

Ali, variando-se por data da semana, encontrávamos com a tropa: Marcinho, Marcio Levy, Dani McGiver, Federal (o outro), Xuxu, Lulo, Jorge, Marta, Elen, Brother e Jorjão (que subiu pro céu), irmão da linda sereia Soninha.

Ah, esquecer de Menique seria imperdoável. O homem tocara no RC7, com o rei Roberto Carlos, numa de suas primeiras formações. Havia quem não acreditasse. Mas eu sempre dei fé a Menique.


Barraca da Sarah: a melhor ostra da região


Havia duas funções a parada na barraca: comer a deliciosa ostra (a melhor e mais autêntica da região) e aguardar a maré baixar um pouco para atravessar o rio a pé e assim atingir o santuário da Jureia, começando pelo Grajaú. Era algum dos maravilhosos lugares que frequentávamos quando as férias eram Peruíbe.


Vendedor de Caranguejo – Ary Lobo




A caranguejada, que homenageio com a magnífica “Vendedor de Caranguejo”, de Gordurinha, em versão com Ary Lobo não foi uma ideia solta de saborear nosso mais tradicional crustáceo, digerido com a dificuldade composta pelo ritual de trucida-lo. Há quem use o martelinho.

O casamento de Eva e Macedo e de Elen e Jorge, na praia de Peruíbe: conduzido pelo irmão “Brother” (in memorian) que leu o documento de união, proferindo palavras de amor, carinho, solidariedade e parceria para os futuros marido e mulher (25 de janeiro de 1995).


Pois bem, ela se deu como comemoração dos casamentos de Eva e Macedo, além de Elen e Jorge, estes decidindo pela consagração em cima da hora.

A verdade é que o movimento em prol de nosso casório simbólico, porém formal, foi se consolidando ao longo do mês de janeiro e resultou numa cerimônia inusitada, pouco convencional, mas rodeada de carinho, de amor e dos maiores fluidos de uma praia enluarada de lua cheia, com mais de 100 convivas, convidados e penetras do bem.

A cerimônia, filmada, fotografada, com padrinhos e testemunhas tornou-se um marco em Peruíbe por muito tempo. Coube ao irmão Brother, de muita força interior, vivências e karmas fortes e sensibilidade à flor da pele a incumbência de conduzir a cerimônia, sagrada pela vontade de cada um, e profana pela mistura de religiões, ritos, crenças, instituições. Uma epifania entre os envolvidos na solenidade.


No woman no cry – Bob Marley

Havia um cenário, que se fundia entre as pancadas das ondas do mar, com o som do samba e do reggae assoprados da barraca 34, salão de festas do casamento.

Da cenografia, esmerada pelo talento, criatividade e energia do Levy e uma tropa de camaradas, um surpreendente caminho de cerca de 50 metros, ladeado por palhas de coqueiros encurvadas e tochas fazendo fogo e luz em direção ao mar e ao casamento. Entre acessórios, bugigangas, colares e anéis, um pouco de tudo: havaianos, aliança de prata (mar) e coroa de louros. Os trajes dos nubentes: bermudas e blusas leves, sandálias brancas ou descalços, além dos apetrechos.

Por um instante, sentimos um frio na barriga e que, por um passe de mágica, toda a cidade toda estava no templo ao ar livre. Foi muito belo sim.

Soubemos, de ouvir falar, que muitos casais repetiram o ritual para saudar, com esta nova moda, seus casamentos.

Semana que vem um presente no nível do surpreendente casamento. Uma sensação intangível e um amigo que veio do céu!!!!

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