Após algumas semanas sem trazer o nome de Taiguara ao centro de nossa coluna, retomo novamente a abordagem a este que é sem dúvida alguma um dos maiores nomes de sua geração (apesar de tão injustiçado pelos grandes meios de comunicação que insistem em não apresentar ao grande público todo o legado deixado por ele ao longo de pouco mais de três décadas de carreira). Sobre essa realidade, o pai do saudoso músico, Ubirajara Silva, um dos maiores bandoneonistas que se tem notícias existente no Brasil, acredita na seguinte teoria: "Depois que Taiguara voltou a cantar, a mídia passou a ignorá-lo, como até hoje o ignora. Houve aí uma rejeição, em relação ao comunismo, socialismo, enfim, suas posições políticas. Taiguara criticava personalidades ainda vivas. Ele não poupava nem a Rede Globo, que tanto o promoveu no início de sua carreira. Pode ser que um dia venha um reconhecimento por tudo o que ele fez. Não sei se o Brasil vai mudar, parece que está mudando para pior, mas um dia pode ser que mude para melhor". O próprio Taiguara reconhecia a falta de memória existente no Brasil quando em certa entrevista desabafou: "Ainda estamos sem memória. Somos um país desmemoriado. Nossos artistas estão cantando para os militares, para as multinacionais. E isso pra mim é falta de memória. Duvido que esses artistas lembrem hoje porque entraram nessa". Assim como Wilson Simonal, Taiguara também foi jogado em uma espécie de limbo. Enquanto um foi )e ainda é por muitos) acusado de colaborar com o Regime Militar naquele momento; o outro foi renegado por conta de sua opção política radical, na corrente prestista de esquerda. E mesmo após a sua morte, diferente de Simonal, o artista Taiguara não foi reavaliado.
Como já foi registrado anteriormente aqui mesmo nesta coluna, a história de Taiguara Chalar da Silva começa a 09 de outubro de 1945 em Montevidéu e termina em São Paulo, Capital, a 14 de fevereiro de 1996, quando tinha 50 anos e 4 meses. Seu último disco, "Brasil Afri", foi lançado em 1994 e conta com catorze faixas, dentre elas, "O cavaleiro da esperança", canção composta em homenagem a Luís Carlos Prestes. Vindo a falecer em 1996, Taiguara foi autor de grandes sucessos nacionais como "Hoje", 'Universo No Teu Corpo", "Viagem", "Berço De Marcela", "Teu Sonho Não Acabou", "Que As Crianças Cantem Livres", entre outros, e para além do sucesso deixou como legado uma controversa obra para alguns; mas de essencial importância para a história da música popular brasileira. Para Taiguara a arte era um instrumento na luta pela liberdade como certa vez disse o líder africano Amílcar Cabral. Hoje, seguindo os seus passos há o seu talentoso filho, Lenine Guarani (vale registrar que uma das características da personalidade de Taiguara era sua preocupação com as raízes do povo brasileiro, talvez por isso seus filhos tenham herdado nomes de origem indígena), que busca seguir o caminho do pai ao se deixar envolver pela música. Ainda bem que os tempos hoje são outros e é possível ouvir seus lançamentos sem problemas que o seu pai chegou a enfrentar décadas atrás. Ainda bem que hoje se faz possível ouvir projetos como o álbum "Menino da Silva", lançado em 2012, sem restrições. Uma última informação, é a trágica coincidência entre a sua morte e a do seu único irmão. Araguari Chalar da Silva faleceu tão jovem quanto Taiguara, aos 47 anos, vítima de câncer no intestino (a causa da morte de Taiguara foi falência múltipla de órgãos em decorrência de um câncer na bexiga).
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