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sábado, 24 de setembro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

Por Joaquim Macedo Junior


SÉRIE DOSE DUPLA IV – “A VIOLEIRA”


Elba – a violeira


Inspirado no musical “Pobre Menina Rica”, de Vinícius de Moraes, Miguel Faria Jr dirigiu o filme, comédia musical, “Prá Viver um Grande Amor”, protagonizado por Patrícia Pilar, Djavan e grande elenco.

O filme, de 1984, me veio à mente exclusivamente por contar em sua trilha com uma canção – “A Violeira” -, de Tom Jobim e Chico Buarque – que adoro cantar, cantarolar quando esqueço a letra e, quando dá na telha, botar na vitrola para ouvir com Elba, Mônica Salmaso e Chico Buarque, entre outros que a gravaram.

“A Violeira”, de Chico Buarque e Tom Jobim, com Monica Salmaso:



Desde menina
Caprichosa e nordestina
Que eu sabia, a minha sina
Era no Rio vir morar
Em Araripe
Topei como chofer dum jipe
Que descia pra Sergipe
Pro Serviço Militar
Esse maluco
Me largou em Pernambuco
Quando um cara de trabuco
Me pediu pra namorar
Mais adiante
Num estado interessante
Um caixeiro viajante
Me levou pra Macapá
Uma cigana revelou que a minha sorte
Era ficar naquele Norte
E eu não queria acreditar
Juntei os trapos com um velho marinheiro
Viajei no seu cargueiro
Que encalhou no Ceará
Voltei pro Crato
E fui fazer artesanato
De barro bom e barato
Pra mó de economizar
Eu era um broto
E também fiz muito garoto
Um mais bem feito que o outro
Eles só faltam falar
Juntei a prole e me atirei no São Francisco
Enfrentei raio, corisco
Correnteza e coisa-má
Inda arrumei com um artista em Pirapora
Mais um filho e vim-me embora
Cá no Rio vim parar
Ver Ipanema
Foi que nem beber jurema
Que cenário de cinema
Que poema à beira-mar
E não tem tira
Nem doutor, nem ziguizira
Quero ver que é que tira
Nós aqui desse lugar
Será verdade
Que eu cheguei nessa cidade
Pra primeira autoridade
Resolver me escorraçar
Com tralha inteira
Remontar a Mantiqueira
Até chegar na corredeira
O São Francisco me levar
Me distrair
Nos braços de um barqueiro sonso
Despencar na Paulo Afonso
No oceano me afogar
Perder os filhos
Em Fernando de Noronha
E voltar morta de vergonha
Pro sertão de Quixadá
Tem cabimento
Depois de tanto tormento
Me casar com algum sargento
E todo sonho desmanchar
Não tem carranca
Nem trator, nem alavanca
Quero ver que é que arranca
Nós aqui desse lugar



“A Violeira”, de Chico Buarque e Tom Jobim, com Elba Ramalho


Além da letra típica, o xote gostoso, com sotaque da região, a saga contada na letra leva-me a muitos cantos e me relembra o Nordeste inteiro. Vou escutar de novo.

Se ainda assim, quiserem ouvir pelo letrista, que continuo a considerar um bom intérprete, apesar de tudo, ei-lo:


Quebrando o modelo do ‘Dose Dupla’, dessa vez não me contive e reproduzo três versões do mesmo mote.

O que acham?

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