A genialidade de Cartola (1908-1980) sempre merecerá os mais calorosos aplausos. O objetivo deste post é destacar algumas das estreias de Cartola: Primeira Composição para a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira; Primeira Composição gravada; Primeiro Hits como compositor; Primeira gravação (voz); Primeiro Compacto Duplo gravado; Primeira Gravação Solo para o mercado fonográfico brasileiro; Primeiro Disco Solo gravado, bem como os demais discos solos.
A Primeira Composição de Cartola para o desfile da Escola Estação Primeira de Mangueira, em 1928.
“Chega de demanda” (Cartola) # Cartola.
Chega!
Com este time temos que ganhar
Somos da Estação Primeira
Salve o Morro de Mangueira
A Primeira Composição de Cartola Gravada, em 1929, pelo cantor Francisco Alves.
“Que infeliz sorte” (Cartola) # Francisco Alves. Disco Odeon (10519-A) / Matriz (3095). Lançamento (dezembro/1929).
que infeliz sorte!
que vale que o meu coração
pra resistir esta paixão é forte.
se não passava
as maiores dores
pela ingratidão
que me fez Dolores.
Passas por mim
rindo, cantando
dás com ombros
arrastando os sapatos
me debochando
e dizes para as outras :
é só para moer
em amor não acho prazer.
Tu não mereces
ser recompensada
me enganaste
e dizes à todos:
estou vingada!
e também é bem fraco
o juízo teu
em acreditar no amor meu.
É o próprio Cartola que relata a historinha de bastidores dessa composição.
“Um carro último tipo estava encostado no pé do morro procurando por mim. Quis saber o que se tratava e o elegante motorista não escondeu. Era o cantor Mário Reis que queria comprar um samba meu. Achei pura maluquice. Então samba se vende? Pensei ganhar uns dez mil-réis, mas o amigo Cláudio mandou que eu pedisse quinhentos. Conversei com o Mário e, envergonhado, pedi trezentos mil réis por ‘Que infeliz sorte’, e ele pagou na hora, sem titubear. Não gravou, mas repassou o samba para Francisco Alves, que acabou se tornando meu maior freguês”.
Cartola ao contrário de outros compositores da época não vendia a autoria das músicas, mas apenas o direito sobre a vendagem dos discos, razão pela qual seus sambas continuavam a sair assinados por ele.
Francisco Alves, em 1933, gravaria o samba “Divina dama”, um dos Primeiros Hits de Cartola como compositor. Segundo o pesquisador Samuel Machado Filho, ele a compôs em homenagem a uma jovem que conhecera durante um carnaval.
“Divina dama” (Cartola) # Francisco Alves. Disco Odeon (10977-B) / Matriz (4575). Gravação (3/1/1933) / Lançamento (janeiro/1933).
A Primeira Gravação com a Voz de Cartola
foi no Disco Native Brazilian Music - Vl. 2 / Faixa 5.
O referido disco não foi comercializado na época no Brasil e trazia informações incompletas sobre o nome das composições, seus intérpretes e autores. Cartola conta que somente chegou a ouvir sua estreia no referido disco vinte anos depois. “O pagamento pela gravação chegou um ano atrasado, e era suficiente para comprar três maços de cigarro de má qualidade”. Em 1987, o disco foi editado pelo Museu Villa-Lobos e, finalmente, lançado no Brasil.
“Quem me vê sorrir” (Cartola/Carlos Cachaça) # Cartola e Coro da Mangueira. Gravado a bordo do Navio SS Uruguay, entre os dias 7 e 8 de agosto de 1940.
Primeiro Compacto Duplo de Cartola e a sua Primeira Gravação no Brasil pelo selo Mocambo (3087), possivelmente em 1964/1965. Aqui Cartola canta dois sambas de sua autoria: “O sol nascerá” e “Amor proibido”. Um samba de Almeidinha - “Bobagem” e um samba de José Caldas e J. R. de Oliveira - “Não quebre meu tamborim”, acompanhado pela Escola de Samba de Almeidinha (o compositor carioca Aníbal Alves de Almeida).
Cartola participou, em 1968, em duas faixas do LP “Fala Mangueira” cantando juntamente com Odete Amaral, Clementina de Jesus, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça, as seguintes composições:
- “Tempos idos” (Cartola/Carlos Cachaça)
- “Ao amanhecer” (Cartola)
- “Alvorada” (Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio Bello de Carvalho)
- “Quem me vê sorrindo” (Cartola/Carlos Cachaça)
- “Alegria” (Cartola/Gradim [Lauro dos Santos])
A Segunda Gravação Solo de Cartola para o mercado fonográfico brasileiro, precisamente no dia 26 de outubro de 1970. Disco História da Música Popular Brasileira - Cartola e Nelson Cavaquinho. Gravadora: Abril Cultural / Produtor J. L. Ferrete/Elifas Andreatto, 1970.
“Preconceito” (Cartola) # Cartola (voz) / Conjunto de Canhoto/Zé Menezes e vários músicos com destaque para o trombone de Raul de Barros, 1970.
É desumanidade, essa perseguição
É o cúmulo da maldade
Se todo mundo sabe que nós nos casaremos, quer queiram, quer
não
Oh, maldito preconceito
Afasta-te no ajeito, a que nada conseguirás
Por quê, recebemos dos céus a benção de Jesus, que é mensagem de
paz
Nosso amor não acaba mais
Viveremos sempre em paz
Cartola e Dona Zica comandaram o histórico Zicartola
(detalhes clicando no nome Zicartola)
Dona Zica e Cartola no Programa MPB Especial
“Peito vazio” (Cartola/Elton Medeiros) / “O sol nascerá [A sorrir]” (Cartola/Elton Medeiros) # Cartola no programa MPB Especial / TV Cultura, gravado em 23/3/1973, dirigido pelo Fernando Faro.
Cartola gravou seu Primeiro Disco Solo, pela gravadora Marcus Pereira, em 1974
Segundo Arley Pereira, o mestre Cartola demorou a gravar, mas contou com um baita time de craques. Produção de J. C. Botezelli (Pelão), texto da contracapa assinado pelo crítico Sérgio Cabral e grandes instrumentistas, o disco foi escolhido como o melhor disco do ano.
“Tive sim” (Cartola) # Cartola (voz) / Canhoto (cavaquinho) / Dino 7 Cordas (arranjos/violão de 7 cordas) / Gilberto D’Ávila (surdo/pandeiro) / Jorginho do Pandeiro (caxixi/pandeiro) / Meira [Jayme Florence] (violão de 6 cordas) e Wilson Canegal (ganzá).
Coube a Juarez Barroso produzir o Segundo Disco Solo de Cartola, em 1976.
“As rosas não falam” (Cartola) # Cartola (voz) / Altamiro Carrilho (flauta) / Canhoto (cavaquinho) / Dino 7 Cordas (violão de 7 cordas) / Elton Medeiros (ganzá) / Meira (violão) / Nenê [Realcino Lima Filho] (agogô).
Segunda edição revista e ampliada da “Nova Coleção da Música Popular Brasileira”, 1977.
“O mundo é um moinho” (Cartola) # Cartola (voz) [destaque para a flauta de Altamiro Carrilho e o violão de Guinga, ambos participantes do conjunto regional de acompanhamento.
Disco Verde que te quero Rosa - 1977
Cartola e Lúcio Rangel
Entre os críticos musicais que saudaram o mestre Cartola, em seus discos, coube a Lúcio Rangel fazê-lo neste Terceiro Disco Solo de Cartola (1977). Autor do apelido “Divino”, Lúcio acompanhou a carreira de Cartola desde o início dos anos de 1930.
“Autonomia” (Cartola) # Cartola (voz) / Aizink Meilach Geller (cordas) / Hélio Capucci (violão) / Radamés Gnattali (arranjos/piano) / Vidal [Pedro Vidal Ramos] (contrabaixo).
Disco Cartola 70 Anos - 1979
Sérgio Cabral foi o produtor responsável pelo Quarto e Último Disco Solo de Cartola, em comemoração aos seus 70 Anos de existência.
“A mesma história” (Cartola/Elton Medeiros) # Cartola (voz) / Alceu Maia (cavaquinho) / Cuscus, Elizeu Felix, Luna, Marçal (ritmo) / Luizão Maia (contrabaixo) / Neco [Daudeth Azevedo] (violão) / Nelsinho [Nelson Martins dos Santos] (arranjos/trombone) / Wilson das Neves (bateria).
Coube ao produtor J. C. Botezelli (Pelão) iniciar e encerrar a carreira discográfica de Cartola em vida, com o seu último e Primeiro LP Gravado ao Vivo, em 30 de dezembro de 1978, no espetáculo ocorrido no “Ópera Cabaré” (São Paulo), lançado em 1982 no LP intitulado - “Cartola - Documento Inédito”, com 8 faixas.
“Que sejas bem feliz” (Cartola) # Cartola. Selo Estúdio Eldorado. Álbum: “Cartola - Documento Inédito”, 1982.
Disco completo: “Cartola - Documento Inédito” - 1982. Vale a pena ouvir a voz e o violão de Cartola.
01-Que sejam bem vindos
02-Autonomia
03-Acontece
04-Senões
05-O inverno do meu tempo
06-Que sejas bem feliz
07-Dê-me, graças Senhora
08-Quem me sorrindo
O Mestre Cartola nos deixou em 30 de novembro de 1980, mas sua vasta produção, permeada de lirismo, continua a nos fascinar e emocionar até hoje. Depois da sua partida inúmeros artistas regravaram suas composições, demonstrando a perenidade da sua obra poética. VIVA CARTOLA!!
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Fontes:
- A Música Brasileira deste século por seus autores e intérpretes, de Arly Pereira e J. C. Botezelli (Pelão). São Paulo: Sesc, 2000.
- Cartola: Semente de amor sei que sou desde nascença, de Arley Pereira/ Prefácio de Elton Medeiros. - 2.ed. rev. - São Paulo: Edições SESC SP, 2008.
- Dicionário Cravo Albin da MPB (Verbete: Cartola).
- Fotomontagens: Laura Macedo / Demais Fotos: Internet.
- Nova História da Música Popular Brasileira: Cartola - Editora Abril, 1977.
- Site Discos do Brasil (AQUI).
- Site YouTube / Canais: “alfeuRIO”, “Bigode Summerbeachsamba”, “BATUKILIN BRASIL”, “Felipe Dias”, “luciano hortencio”, “Socartola”, “CulTube”, “N2010R”, “FALA MANGUEIRA!”, “Jota A. Botelho”, “Canal de amigovelho1000”.
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