Miguelangelo Cavalcanti vive há 30 anos na Europa e realiza temporadas de óperasem diversos países
Por Adriana Victor
Miguelangelo Cavalcanti em encenação de O Torvador (Verdi), em Praga
Cantor lírico, o barítono Miguelangelo Cavalcanti nasceu e cresceu no Recife. Também foi na cidade que começou a cantar. Mas quem quiser assistir a uma de suas apresentações precisará viajar para outros continentes, como Ásia e Europa. Palcos de países como França, Áustria, Inglaterra, Portugal, República Checa, Coreia do Sul e Japão já receberam espetáculos de ópera com o pernambucano no elenco principal. Há 30 anos morando fora do Brasil, o artista cujos primeiros passos foram guiados por um maestro de frevo é quase um desconhecido em sua terra. “Para mim, é uma situação mais triste do que estranha. E garanto que não sou a único a viver isso”, afirma ele.
Aos 54 anos, fazia 21 que Miguelangelo não visitava o Recife. De volta ao local de nascimento, tentou mostrar por aqui o que vem apresentando a plateias estrangeiras: entrou em contato com o Conservatório Pernambucano de Música, chegou a oferecer um concerto gratuito. Ouviu como resposta que a pauta estava lotada. Um acaso proporcionou aos pernambucanos a sua única apresentação na terra natal, a convite da pianista Elyanna Caldas. No domingo (28/8), ele substituiu um cantor que não pôde participar de concerto na Academia Pernambucana de Letras. A troca deu certo: o recital foi um sucesso. “Miguelangelo é meu amigo desde a encenação da ópera Bastien et Bastienne, de Mozart, na década de 80”, lembra a pianista. “Depois partiu para a Europa onde estudou e iniciou a sua brilhante carreira. O reencontro me encheu de orgulho e emoção.”
Na sua passagem pelo Brasil, ele chegou a ministrar aulas para profissionais e também para crianças carentes em Belém (PA), cidade que tem grande tradição operística, trabalho encabeçado pela Fundação Carlos Gomes.
TRAJETÓRIA
Foi ainda na infância, nas rodas de violão em festas de família, que a voz de Miguelangelo começou a ser notada. O maestro Fernando Borges (1938-1998), um dos grandes do frevo de Pernambuco, decidiu que o menino talentoso precisava estudar e levou-o ao Conservatório. “Comecei a cantar com o maestro José Guedes, depois fiz um curso de música sacra no Seminário Teológico e, por fim, a Universidade Federal de Pernambuco”, lembra o barítono.
A paixão inicial foi a música barroca – cantar óperas não estava nos seus planos. “Era um sonho muito longínquo. Mas cada pessoa que me escutava, dizia: ‘Menino, você tem que ir embora. Vá pra fora.’ Aí eu fui.” O caminho de canto Miguelangelo em terra estrangeira foi trilhado pela Europa: Portugal, Áustria, Suíça e República Checa, onde vive há 15 anos na capital, Praga. “Sou solista residente do Teatro Nacional de Praga. A minha vida é cantar. Eu vivo do canto.”
Sua estreia em óperas na Europa foi grandiosa: “Meu debute foi ao lado da grande (mezzo-soprano espanhola) Teresa Berganza, cantando uma ópera de Händel, Rinaldo. Também tive a sorte de fazer todas as óperas de Mozart no papel de barítono”. Só doDon Giovanni, ele conta, foram cerca de 150 recitais. O repertório do artista também inclui encenações de obras como Carmem, As Bodas de Fígaro, O Trovador e La Traviata.
Em 7 de setembro, data em que o Brasil comemora o Dia da Independência, ele já estará de volta a um palco eropeu. Miguelangelo tem apresentação marcada no Teatro Nacional de Praga com a ópera Aida, de Giuseppe Verdi. Há mais seis apresentações agendadas na cidade até o final do ano e a temporada de 2017 também já está reservada. “Os convites chegam com, no mínimo, um ano de antecedência”, revela.
Um deles o levará a França para um concerto de Natal com um maestro suíço. Miguelangelo fala seis idiomas, além do português: espanhol, italiano, francês, alemão, inglês e checo. Também canta em latim. O artista não pretende mais ficar tanto tempo longe do Recife: tem convite para ministrar masterclass, em 2017, no curso de música da Universidade Federal de Pernambuco. Do que sente falta vivendo lá fora? “Do coração do povo brasileiro e da minha comida nordestina. Disso eu sinto muita falta.”
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