Rita Benneditto celebra a vida desde que nasceu em São Benedito do Rio Preto, cidade do Maranhão. A origem pautou em 2012 essa nordestina de fé – criada em família de onze irmãos – na escolha do novo nome artístico. Projetada como cantora com o nome artístico de Rita Ribeiro, a artista decidiu adotar o nome de Rita Benneditto há dois anos para homenagear seu pai que se chamava Fausto Benedito Ribeiro, sua cidade natal, e para evitar problemas com homônimos. Por isso, Encanto é o primeiro disco da artista maranhense a apresentá-la oficialmente como Rita Benneditto.
Sexto álbum solo dessa cantora maranhense projetada em escala nacional em 1997, Encanto expõe a devoção de Rita à deusa música, pondo fé num som afro-brasileiro de alcance universal. Disco viabilizado pela Manaxica Produções e distribuído no mercado fonográfico pela gravadora Biscoito Fino, Encanto já traduz no título a amplitude de seu significado na carreira fonográfica da artista.
Aos 15 anos, Rita começou a cantar em corais e seguiu participando de festivais, grupos vocais, cantando na noite em São Luis. Durante o ano que morou no Chile (1986) cantou no Coro Sinfônico da Universidade do Chile, em Santiago, onde estudava canto erudito com a professora e cantora lírica Viviana Herrera. Na volta ao Brasil, depois de ganhar o prêmio de melhor intérprete e o segundo lugar no FUMP (Festival Universitário de Musica Popular, 1987), apresentou em 1989 seu primeiro show solo, Cunhã, com direção musical de Zeca Baleiro no Teatro Municipal Arthur de Azevedo com cobertura da mídia local. No ano seguinte se mudou para São Paulo onde se apresentou em bares, casas de shows e participou de projetos da prefeitura e do Estado.
Em 1997 gravou seu primeiro CD intitulado Rita Ribeiro, com produção de Mario Manga e Zeca Baleiro. O CD e o show, apresentado em várias capitais brasileiras, deram projeção nacional à cantora maranhense.
Surge uma corda única na música pop brasileira [Luís Antônio Giron]
Em 1998, assinou contrato com a MZA Music, gravadora do produtor Marco Mazzola, e ainda sob a batuta do maestro Mário Manga, lançou em 1999 seu segundo CD, Pérolas aos Povos, que recebeu excepcional acolhida de público e crítica. Neste mesmo ano, ao lado de Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Zeca Baleiro e Chico César, apresentou-se na noite brasileira do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e foi convidada para se apresentar no Festival Brasil-Caracas na Venezuela.
Ouvir uma cantora como Rita Ribeiro nos dá uma garantia, a de que temos mais uma grande artista brasileira para o século XXI [Zuza Homem de Mello]
Em 2000, dando continuidade ao lançamento e divulgação do CD Pérolas aos Povos, Rita Benneditto foi convidada a participar do Festival Todos os Cantos do Mundo, dividindo o palco com Lokua Kanza, considerado um dos grandes expoentes da música pop africana. Ainda nesse ano, teve seu CD lançado nos Estados Unidos e Canadá pela gravadora Putumayo World Music, o que resultou na realização de uma turnê internacional. Os shows aconteceram entre agosto e setembro de 2000 nas principais cidades americanas e canadenses, entre elas São Francisco, Los Angeles, Toronto e Montreal, para platéias de 15 mil pessoas.
O resultado desse empreendimento levou Rita Benneditto a ser indicada entre os melhores do mundo ao Grammy Awards 43rd, na categoria de melhor álbum de pop latino, realizado em fevereiro de 2001.
Ainda em 2001, a cantora lançou seu terceiro Cd Comigo, com produção de Marco Mazzola, co-produção dela e do parceiro Pedro Mangabeira, que representou uma mudança em seu visual e uma ampliação de seu público em todo Brasil.
Rita Benneditto é mutante, tropicalista, maranhense, brasileira e muito pop [Patricia Palumbo]
Mas sua popularidade, sempre crescente, aumentou mesmo com o inovador Tecnomacumba, resultado de uma intervenção cultural. O show nasceu em apresentações em uma casa na zona sul carioca, virou um fenômeno independente da mídia. Rita Benneditto fez diversas temporadas de grande sucesso e levou o espetáculo para as maiores casas de show do país. Em 2005 ganhou, por esse projeto, o Prêmio Rival Petrobras de Música na categoria Melhor Show.
Mais uma vez, o que ressalta é a voz de Rita, sua segurança simpática (isso não é fácil nem freqüente), seu timbre cheio, seus ornamentos chiques porque personalíssimos, sua nobreza maranhense [Caetano Veloso]
Ainda nesse ano participou do Ano Brasil na França, pelo Projeto Pixinguinha, ao lado de artistas contemporâneos como o saxofonista Carlos Malta e o compositor Totonho O cabra. No Brasil foi convidada a participar das comemorações de 30 anos do Projeto Pixinguinha realizando uma série de shows pelo Brasil ao lado do cantor e compositor carioca Tantinho da Mangueira.
Em 2006 lançou o CD Tecnomacumba, gravado em estúdio com o repertório do show, com exceção das músicas Moça Bonita e Xangô, o vencedor. Mas os fãs sempre cobraram um registro ao vivo.
Paralelo a esse sucesso Rita Benneditto participa de outros projetos. Ao lado de Jussara Silveira e Teresa Cristina, idealizou e produziu o show Três Meninas do Brasil, com direção musical do maestro Jaime Alem. O espetáculo virou DVD e CD de sucesso, lançado em 2008 pelo selo Quitanda e distribuição da Biscoito Fino. Nesse mesmo ano Rita viaja, ao lado de Eduardo Dussek, com o show 100 anos de Carmen Miranda com direção musical de Luis Felipe de Lima. Ao mesmo tempo refresca seu repertório no shows acústicos.
Três Meninas do Brasil ao Vivo é um dos produtos mais saborosos da seletiva Quitanda
[Mauro Ferreira]
Em 2009 Rita Benneditto lança em DVD e CD o álbum Tecnomacuma – a tempo e ao vivo, gravado em um grande show no Vivo Rio que contou com participação de Maria Bethânia e tem nos extras depoimentos de Alcione, Ney Matogrosso, Angela Leal e Jean Wyllys. O vídeo comemora seis anos de sucesso do projeto, que continua na estrada despertando curiosidade e trazendo cada vez mais pessoas aos shows.
Tecnomacumba – a tempo e ao vivo é uma verdadeira pérola aos povos
[Jean Wyllys]
Por esse trabalho Rita Benneditto ganhou o prêmio de Melhor Cantora – Categoria Canção Popular no 21º Prêmio da Música Brasileira.
Discografia Oficial
Rita Ribeiro (Velas / 1997)
Faixas:
01 - Pé do lajeiro
02 - Cocada
03 - Isso
04 - Missiva
05 - Olhozinho
06 - Impossível acreditar que perdi você
07 - Pra você gostar de mim
08 - O biltre
09 - Divino
10 - Jurema
11 - Lenha
12 - Cortei o dedo
13 - Tem quem queira
14 - Yes (deixa nós ir)
Com o violão samba-rock de Pedro Mangabeira, Rita fez os desenhos do disco. Com requinte e sofisticação, a dupla optou por uma instrumentação mais simples com destaque para a voz clara e limpa Rita Benneditto:"Comigo também tem o sentido de ampliar as minhas possibilidades sonoras", diz. Resultado que ela consegue convidando grandes músicos para essa comunhão. Cada faixa traz surpresas e descobertas: um acordeon de Sivuca, um pífano de Carlos Malta, a gaita e o violão dobro de Tuco Marcondes, os tambores de mina da casa Fanti - Ashanti de São Luís, um arranjo sofisticado para cordas de Mario Manga, os teclados de Paulo Calazans, uma sanfoninha de Zeca Baleiro, a mão de maestro de Eduardo Souto Neto traduzindo o acento Secos e Molhados numa canção, as guitarras Wah Wah de Pedro Mangabeira que ora passeiam pelo Caribe ora pelo folk contemporâneo de Ben Harper e pelo reggae de Finley Quaye, o trombone de Vitor Santos, a percussão de Robertinho Silva. Rita Benneditto canta lindamente. Isso todo mundo já sabe.
Faixas:
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“Nós sabemos que um tanto / de cada é do outro” – diz-se na última canção, “Tom de Voz”, de Cezar Mendes e Quito Ribeiro –, versos que parecem ter sido escritos para esta parceria sublime, de Rita com Jussara, de Jussara com Rita, desta Rita que já é Jussara ou desta Jussara que é já Rita. Obrigado às duas. Obrigado a Alê Siqueira, Wisnik, Guerra e todos aqueles que tornaram possível um milagre tão bonito.
02 - Cocada
03 - Isso
04 - Missiva
05 - Olhozinho
06 - Impossível acreditar que perdi você
07 - Pra você gostar de mim
08 - O biltre
09 - Divino
10 - Jurema
11 - Lenha
12 - Cortei o dedo
13 - Tem quem queira
14 - Yes (deixa nós ir)
Release - Por Lauro Lisboa
A nova promessa da música brasileira vem do Maranhão, terra de Alcione e João do Vale e capital do Reggae no Brasil. Rita Benneditto é o novo canal de acesso aos sons de um dos pedaços nordestinos menos difundidos pelo país afora. Ela vem da mesma safra que frutificou talentos como Chico César e Zeca Baleiro. A cantora está lançando seu álbum de estréia, "Rita Benneditto" pela gravadora Velas, produzido pelo paulista Mário Manga e pelo também maranhense Zeca Baleiro. O disco abre com Pé do Lajeiro, fundindo referências maranhenses de épocas e musicalidades diversas. Um dos autores é João do Vale (em parceria com José Cândido e Paulo Bangu) e o arranjo tem uma levada de reggae, por sugestão de Zeca. 0 Biltre, outro belo reggae, é também de um conterrâneo dela, Josias Sobrinho, que na década de 70 emplacou "Engenho de Flores", na voz da baiana Diana Pequeno. Não é por acaso que o nome de Chico César, Carlos Careqa, e Zeca Baleiro fazem parte do repertório das 14 faixas do CD.
Zeca, o mais constante, divide com Rita uma composição: Divino. É nessa canção que ela mais se inspira no canto das caixeiras maranhenses. De autoria do próprio Zeca Baleiro aparecem três inéditas: o funk Missiva, Olhozinho - um reggae com potencial de hit-, e a balada folk Lenha, além da adaptação de Deixa Nós Ir da Banda de Pífanos de Caruaru. São composições que comprovam a qualidade do autor, um talento ascendente dos anos 90.Outra referência marcante vem em Cortei o Dedo, uma delicada canção do Paranaense Carlos Careqa quecontrasta com as imagens incômodas da letra de Raul Cruz.
A grande revelação, no entanto, é do compositor Antônio Vieira, que tem quase 80 anos e um vasto cancioneiro, parte do qual Rita revela agora ao Brasil por meio destas sedutoras canções: Cocada e Tem Quem Queira. Nas duas Rita esbanja suingue, explorando a malícia das letras e a graça do ritmo, em alusão ao gênero maranhense conhecido como baralho, que tem parentesco com o samba de roda e o lundu. "Vieira é um autor de melodias e letras simples, mas com a mensagem profunda", define Rita. "Nunca ninguém gravou suas músicas antes."
Entre as releituras ressaltam as peculiaridades de Rita, adicionando por exemplo, uma levada de tambor de mina (comum em terreiros de umbanda) à bela Pra Você Gostar de Mim, de Vital Farias, sem falar na citada Pé do Lajeiro.
A canção Isso, de Chico César, ganhou acento bluesístico, em sutil arranjo de cordas e gaita. Sua música conserva muito o canto das caixeiras do Divino Espírito Santo e das inflexões sinuosas das toadas de boiadeiros. Uma de suas influências confessas é Dona Teté, uma dessas cantoras locais que entoam seu canto lamentoso nos tradicionais cortejos religiosos da cidade.Ao mesmo tempo que traz "um lado cultural muito forte", que para ela é muito positivo, sua música toma a liberdade de inserir informações contemporâneas como é o caso de Jurema, um tema de domínio público, que adaptou para as pistas num gênero batizado por ela de "dance-macumba"."Eu cantava essa música desse jeito desde 1989", conta Rita. "É um tema de culto de umbanda e eu sempre fiquei impressionada com o transe dos terreiros. Tenho também uma influência muito grande dos índios, daí a relação com o que ocorre com as pessoas numa pista dançando.
Pérolas aos Povos (MZA Music / 1999)
Faixas:
01 - Tô
02 - Filhos da precisão
03 - Déjà vu
04 - Banho cheiroso
05 - Jamais estive tão segura de mim mesma
06 - Pensar em você
07 - Vendedor de bananas
08 - Mambo da dor
09 - Há mulheres
10 - Muzak
11 - Eclipse em meia lua
12 - Mana Chica
13 - Pérolas aos povos
14 - Na gira
Release - Por Zuza Homem de Mello
Há um marco proeminente na música popular brasileira da última quarta parte deste século:ascensão do regionalismo no eixo Rio-São Paulo. Em grupos ou isoladamente, baianos, pernambucanos, paraíbanos e cearenses saíram de seus estados para fixar carreira no sul, conseguindo ainda se projetar em outros estados, ou seja atingiram o estágio de uma nacionalização do regional.Afora alguns alagoanos e paraenses que também vieram, o grupo dos maranhenses, embora restrito, tem ainda assim dado uma valiosa contribuição nos últimos anos.
Artistas como Zeca Baleiro e Rita Benneditto, na rota inaugurada por João do Vale e desenvolvida entre outros por Alcione, provocam nossa curiosidade em conhecer melhor o que se passa na música e na arte de seu estado.Referências a danças e festanças, novos rítmos ou novas levadas e até mesmo instrumentos próprios nos chegam através deles, como ocorre neste segundo CD de Rita. Sua vivência com a música de rua, com o ambiente sonoro e colorido dos costumes tradicionais de São Luis e cidades do interior do estado, são traduzidos em parte das músicas do disco. A outra parte, digamos a menos maranhense, é explicada pela sua convivência com manifestações de outras regiões - afro, paulistas ou caribenhas - perfeitamente justificáveis quando se trata de uma artista diligente, inquieta e sabedora do que quer.Rita Benneditto está entre o que de melhor surgiu nestes anos de música no Brasil. Fiquei encantado com a maturidade de seu primeiro disco, canta com uma clareza e veracidade admiráveis, e expressando sua natureza feminina com o desejável equílibrio entre as frases das palavras e as frases das notas musicais.
Ela não mostra afetação nem a mínima tendência nessa direção, um gravíssimo vício que parece obcecar as bobocas imitadoras das falsas soul singers, nada mais que branquelas tentando inutilmente se amarronzar.
Tampouco se preocupa em demonstrar um despropositado e frenético transe rítmico fora de hora. Muito pelo contrário, Rita paira leve e com swing decolando e aterrisando sem esforço nos momentos certos. Disso resulta a expressividade da sua interpretação, ou seja a capacidade dela transmitir a essência da canção sem se sobrepor à obra mais sabendo imprimir sua personalidade ao que canta. Em geral são poucas as grandes cantoras que chegam a tal ponto antes de atingir o estágio de amadurecimento da mulher, Rita é exceção, ainda queno Brasil tenha havido uma benfazeja leva de boas revelações na área feminina. Rita Benneditto também não se mostra cantora de um gênero ou estilo.
Não é obrigatoriamente uma forrozeira ou reggueira. Seu repertório abriga um samba tradicionalque faz parte de uma festividade popular, o Lelê de São Simão, original dessa cidade do interior do Maranhão que atinge o ponto culminante no ritual denominado "Pela Porco", onde a carne do animal é saboreada ao som de pandeiro, violão de 7 cordas, cavaquinho e... castanholas. É o Samba Cheiroso do compositor octogenário Antonio Vieira.Com a mesma franqueza canta Jamais estive tão segura de mim mesma uma canção abolerada das primeiras composições de Raul Seixas, quando ainda era o Raulzito, gravada por Núbia Lafayette, uma das vozes que Rita celebra desde a juventude, caso de Márcio Greyck e do rei Reginaldo Rossi. A propósito, sua juventude teve antecedentes no coral da escola e a música que cantou em seu primeiro ensaio foi Mana Chica, uma cantiga de bailado dos escravos do século XVIII, também anexada ao repertório.Rita, que tem o pé nos terreiros de São Luis, presta uma homenagema duas outras cantoras dessa mesma procedência, Clara Nunes e Clementina, em Na Gira,uma envlvente levada dançante com um subliminar cordão umbilical ao rítmo africano. Também dançantes, mas em outras áreas, estão o bolero de seu conterrâneo Zeca Baleiro, Mambo da dor e o reggae Pérolas aos povos da artista plástica pernambucana Isla Jay. Em contraposição ao lado dançante do CD, há bonitas canções mais lentas: uma candidata a "hit" na linha dafase "Beatles com quarteto de cordas", composta por Chico César (Pensar em você). Há Mulheres, da paulista de Cardoso Vania Borges, e Muzak, outra do Zeca.Neste ponto cabe destacar a atuação do arranjador Mário Manga neste CD.
Ao decidir cercar-se dele neste fundamental aspecto de seu segundo trabalho, Rita confirmou que prossegue firme na carreira tão madura quanto despontou, Mário tem mostrado criatividade e respeito nos trabalhos que se envolve, e não existe desapontamento maior para um cantor quanto constatar, anos depois, o equívoco cometido por um arranjador pretensioso capaz de destruir uma boa canção. Deve-se ainda mencionar entre as faixas do CD Pérolas aos Povos, que Filhos da Precisão é um reggae que Rita conheceu na cidade de Imperatriz e passa a aspirar tornar-se "pedra de responsa" nas casas da Jamaica brasileira, que é São Luis. Que Déjà Vu é de uma compositora argentina que compõe inspirada na sua admiração pela música brasileira; que Vendedor de Bananas resulta da admiração de Rita pelo LP "10 anos depois" do grande Jorge Ben; e que Eclipse em meia lua foi ouvida no Festival de Avaré há anos atrás (quando era bom).Resta dizer que este novo CD de Rita chega num momento em que a música popular brasileira está, pode-se dizer, na berlinda. Vocês sabem bem a que estou me referindo. Ouvir uma cantora como RitaRibeiro nos dá uma garantia, a de que temos mais uma grande artista brasileira para o século XXI.
Comigo (MZA Music / 2001) |
Faixas:
01 - Comigo
02 - Parangolé
03 - Uma Noite Sem Você
04 - Essa Dona
05 - Não Tenho Tempo
06 - A Riqueza
07 - Contra o Tempo
08 - O Conforto dos teus Braços
09 - Nego Forro
10 - Românticos
11 - Você está Sumindo
12 - Caramba... Galileu da Galiléia
13 - Moça bonita
Release - Por Patricia Palumbo
Rita Benneditto é mutante, tropicalista, maranhense, brasileira e muito pop. OO terceiro cd da cantora sai agora pela MZA Music com produção deMarco Mazzola (distribuição Abril Music), co-produção de Rita Benneditto e Pedro Mangabeira."Comigo" é o nome do álbum e da composição de ZecaBaleiro que abre este novo trabalho. A direção musical é de PedroMangabeira, excelente violonista e arranjador trabalhando há 5 anos com a cantora. "Comigo" soa diferente dos primeiros trabalhos, é mais pop que os demais. Violões e guitarras é que dão o tom, o acento sonoro.
Rita continua lançando compositores desconhecidos e talentosos,"garimpando a diversidade" como ela mesma diz.Em 1997, no cd "Rita Benneditto" (VELAS) lançava os parceiros Zeca Baleiro e Chico César, além de "seu" Antonio Vieira, compositor popular do Maranhão.Em 1999 com o cd "Pérolas aos Povos" (MZA) ela acrescenta à sua lista de descobertas três compositoras de São Paulo, Isla Jay, Natalia Mallo e Vânia Borges. Em "Comigo" Rita Benneditto continua se cercando muito bem.
Ela apresenta o paraibano João Linhares, o mineiro Vander Lee,os maranhenses Santacruz , César Teixeira, Mano Borges e Alê Muniz, e ainda passeia pelo swing de Jorge Ben, pelo samba brejeiro e clássico de Geraldo Pereira e resgata uma composição do repertório de Angela Maria - Moça Bonita - de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, sucesso na voz da "sapoti" em 1976.É o primeiro trabalho que Rita concebe antes da formação de uma banda.Sua intenção era comungar e experimentar outras impressões musicais.
Com o violão samba-rock de Pedro Mangabeira, Rita fez os desenhos do disco. Com requinte e sofisticação, a dupla optou por uma instrumentação mais simples com destaque para a voz clara e limpa Rita Benneditto:"Comigo também tem o sentido de ampliar as minhas possibilidades sonoras", diz. Resultado que ela consegue convidando grandes músicos para essa comunhão. Cada faixa traz surpresas e descobertas: um acordeon de Sivuca, um pífano de Carlos Malta, a gaita e o violão dobro de Tuco Marcondes, os tambores de mina da casa Fanti - Ashanti de São Luís, um arranjo sofisticado para cordas de Mario Manga, os teclados de Paulo Calazans, uma sanfoninha de Zeca Baleiro, a mão de maestro de Eduardo Souto Neto traduzindo o acento Secos e Molhados numa canção, as guitarras Wah Wah de Pedro Mangabeira que ora passeiam pelo Caribe ora pelo folk contemporâneo de Ben Harper e pelo reggae de Finley Quaye, o trombone de Vitor Santos, a percussão de Robertinho Silva. Rita Benneditto canta lindamente. Isso todo mundo já sabe.
Já no primeiro cd o crítico e historiador musical Zuza Homem de Melo rasgou elogios a sua voz. No novo trabalho Rita Benneditto mostra uma cara mais pop mesmo quando interpreta temas regionais e canta solta em vários "sotaques" (como se define característica rítmica dos diferentes grupos de bumba-meu-boi no no Maranhão). Por mais que seja difícil para nós mortais acompanharmos Rita Benneditto nos refrões que ela não repete, "Comigo" é um convite pra ser aceito depressa.
Tecnomacumba (Manaxica - Biscoito Fino / 2006)
Faixas:
01 - Saudação - Abertura
02 - Domingo 23
03 - Cavaleiro de Aruanda
04 - Babá Alapalá
05 - Oração ao Tempo
06 - Deusa dos Orixás
07 - Iansã
08 - Rainha do Mar
09 - É D'Oxum
10 - Coisa da Antiga
11 - Cocada
12 - Jurema
13 - Tambor de Crioula
14 - Canto para Oxalá
Release - Por Caetano Veloso
Faz algum tempo que venho ouvindo com curiosidade e agrado uma voz de mulher que impressiona pela firmeza, pela limpeza do som, pela naturalidade da afinação. É uma voz que ouvi primeiro casualmente no rádio do carro e que sempre me fez parar para atentar e me perguntar: quem é essa cantora que tem a emissão lisa (sem vibratos) mais impressionante que ouvi em muito tempo? De quem é essa voz encorpada e delicada, de quem são esses glissandos seguros e de grande efeito experimental sem sombra de vulgaridade? Aprendi o nome de Rita Benneditto ao encontrar as respostas a essas perguntas. Agora, em parte num movimento de buscar usos significativos para suas invenções vocais, Rita desenvolveu esse projeto a que deu o nome de Tecnomacumba. Os cantos e toques das religiões afro-brasileiras e sua sintonia com os ritmos desenvolvidos no uso de instrumentos eletrônicos. O resultado é rico, honesto e sugestivo.
O disco é um produto de nível profissional impecável, uma prova de que o Brasil anda com as próprias pernas. As combinações rítmicas e timbrísticas das programações eletrônicas com os instrumentos tocados por gente são equilibradas. O repertório é uma antologia de composições sobre o tema das religiões africanas no Brasil - sempre emolduradas por cantos saídos diretamente dessas práticas religiosas. Às vezes somos levados a nos perguntar coisas como, por exemplo, se o canto sobre Tempo ecoa as lavadeiras de Monsueto ou se o samba de Monsueto é que foi tirado daquele canto. Assim, há um rendado de motivos, uma rede de lembranças e referências que dão uma textura interna especial ao trabalho. O resultado fica mais para um pop elegante, em que uma boa banda de acompanhamento é temperada por sons tecno, do que para um mergulho radical no mundo dos batuques e da eletrônica. Mais uma vez, o que ressalta é a voz de Rita, sua segurança simpática (isso não é fácil nem freqüente), seu timbre cheio, seus ornamentos chiques porque personalíssimos, sua nobreza maranhense.
Esse disco tem um futuro intrigante e pode vir a dizer mais do que parece agora. Vamos ouvir e esperar.
PARA OUVIR, DANÇAR E CELEBRAR - Por Jean Wyllys
Depois de encantar platéias pelo Brasil com o surpreendente show Tecnomacumba, a cantora Rita Benneditto põe na praça, pela gravadora Biscoito Fino, um CD homônimo e igualmente sedutor em sua proposta musical. Tecnomacumba é mais que um disco de músicas. É uma intervenção cultural que coloca a maranhense Rita Benneditto entre as mais musicais, criativas, sensíveis e afinadas intérpretes da MPB surgidas dos anos 90 pra cá. Cada vez mais consciente do caminho que escolheu para trilhar no terreno musical, Rita Benneditto não só assinou com o guitarrista Israel Dantas na produção desse seu quarto CD como arranjou uma de suas canções - o "Canto para Oxalá", de domínio público. Sem perder a qualidade de um disco de música-popular-pop-de-raiz-brasileira, capaz de incendiar as pistas de dança e, ao mesmo tempo, emocionar, Tecnomacumba busca mostrar as intersecções entre a MPB, sons eletrônicos e as cantigas, pontos e rezas das religiões afro-brasileiras (de orixás, voduns e inquices e também as de caboclos e pretos velhos) eivadas de sincretismos católicos e kardecistas.
O prefixo tecno, entretanto, quer dizer menos música eletrônica e mais tecnologia, no sentido de atividade humana que produz a cultura. Graças à tecnologia Oxóssi construiu seu ofá e Ogum forjou, do ferro, as suas armas, segundo a mitologia africana. Graças à tecnologia o homem construiu para si tanto os primitivos tambores quanto os contemporâneos sintetizadores, sem falar dos meios de comunicação capazes de globalizar o que é local e vice-versa. Conexões entre aspectos culturais locais com o que é globalizado não são novidades na história da música. Mas depende de cada artista promover o desvio ou se repetir. Rita Benneditto promove um desvio significativo. Não por acaso ela abre o CD com uma saudação a Exu e, depois de saudar os outros orixás, desfila uma série de pontos e cantos em homenagem às suas diferentes invocações ou nomes (inclusive à sua faceta feminina, a pomba-gira), já que nada se faz sem Exu, nem ruptura nem repetição. Exu é aquele orixá que pode romper a tradição e promover a mudança. Ele é o próprio movimento da vida. E, em consonância com Exu, Tecnomacumba não é tradição - é tradução.
Rita Benneditto retoma aquele sentido amplo que a música tem para os negros africanos: o de que a música não se presta apenas à fruição estética e ao prazer - ela é meio de transmissão de conhecimentos entre diferentes gerações, logo, fundamental para a cultura de um povo; aquele sentido de que a música é um meio de comunicação entre o mundo dos homens e o mundo sagrado (por isso, canta-se muito nos terreiros de candomblé e umbanda, sobretudo, para celebrar o prazer de viver, dançar e se divertir); o sentido de que a música - sempre produzida pelos tambores - é condutora de axé, a força sagrada da vida.
Tecnomacumba resgata o sentido amplo da música e revela que a MPB deve muito às religiões afro-brasileiras. E, para tanto, Rita Benneditto não canta só aquilo que é evidente nesse sentido, como as canções "Rainha do mar", clássico de Dorival Caymmi, e "Iansã", de Caetano Veloso. Ela apresenta, totalmente recriadas, canções quase esquecidas como "Domingo 23", do mestre Jorge Benjor; "Cavaleiro de Aruanda", de Tony Osanah, gravada em 1973 por Ronnie Von; e "Coisa da antiga", de Wilson Moreira e Nei Lopes, já gravada por Clara Nunes (aliás, nesta, Rita Benneditto, de maneira genial, reconhece uma reverência aos pretos velhos da umbanda).
As interpretações e a textura musical de cada canção são de uma riqueza que só mesmo uma artista com o talento e a criatividade de Rita Benneditto poderia produzir. E não se trata só da mistura que ela faz de música popular, cantigas e pontos das entidades e sons eletrônicos, mas do fato de Rita Benneditto colocar a interpretação e a sonoridade à mercê do orixá ou entidade reverenciada: ela é sublime ao interpretar "Oração ao Tempo", de Caetano Veloso, contando com o auxílio luxuoso do violinista Nicolas Krassik; ri e é sensual quando canta "É D'Oxum" (Gerônimo/Vevé Calazans); coloca ecos na voz ao cantar "Baba Alapalá", de Gilberto Gil, para saudar Xangô, o orixá ancestral do reino de Daomé e senhor dos trovões; e põe tambores vibrantes como são os ventos de Iansã em "A Deusa dos Orixás" (Toninho/Romildo), também pinçada do repertório de Clara Nunes. Sem contar que "Jurema" - ponto de domínio-público já gravado por Rita Benneditto em seu primeiro disco - aparece totalmente recriado, mas não menos impactante. Aliás, foi a curiosidade das pessoas em relação à sonoridade de "Jurema" que levou a cantora a cunhar o termo "tecnomacumba" para explicá-la. Outra canção já gravada por Rita Benneditto em seu primeiro disco é "Cocada" (Antônio Vieira), agora recriada em levada drum'bass e dedicada aos erês.
Tecnomacumba ainda tem o mérito de ser uma representação positiva da livre convivência entre os credos num momento de crescente intolerância religiosa. E não esperem dele o rigor de uma pesquisa acadêmica nem a chatice de um disco hermético, para poucos. Tecnomacumba tem o sabor da tradição oral. Veio para cair na boca do povo. Oxalá, tomara! Oxalá, Deus queira!
Três Meninas do Brasil (Quitanda - Biscoito Fino / 2008)
Faixas:
01 - Meninas do Brasil
02 - Menina Amanhã de Manhã
03 - Seo Zé
04 - Mulher nova bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor
05 - Na cabecinha da Dora | Nega do cabelo duro
06 - Para ver as meninas
07 - Maiúsculo
08 - Dama do cassino
09 - Cantar
10 - Maria, Mariazinha
11 - Chula cortada
12 - Isso aqui tá bom demais
13 - Homem de saia
14 - Minha tribo sou eu
15 - Deixa a gira girar
TERESA CRISTINA, JUSSARA SILVEIRA E RITA BENNEDITTO JUNTAS EM “TRÊS MENINAS DO BRASIL”
Uma é maranhense, a outra carioca, a outra mezzo baiana, mezzo mineira. Juntas, Rita Benneditto, Teresa Cristina e Jussara Silveira formam as Três Meninas do Brasil, uma viagem pela diversidade da música feita nos quatro cantos do país, com direção musical de Jaime Alem, maestro de Maria Bethânia há quase duas décadas. O espetáculo registrado no dia 24 de agosto de 2008, no Teatro Municipal de Niterói, sai agora, em CD e DVD, pela Quitanda, selo de Maria Bethânia.
As três cantoras – donas de longas e sólidas carreiras – dispensam apresentações. Jussara Silveira, mineira de nascimento, mas naturalizada baiana, passeia pelas nuances da canção popular mais sofisticada. Arnaldo Antunes a define como uma intérprete “de densidade emocional extrema, que não deságua em dramaticidade”.
A maranhense Rita Benneditto traduz, em sua música, uma mistura de MPB, cultura pop e a chamada “música popular de raiz” - o que já lhe rendeu uma indicação ao Grammy Awards. Seu quarto e mais recente disco - Tecnomacumba – é um bem-sucedido mergulho nas influências das religiões africanas na música brasileira.
Já a carioca Teresa Cristina construiu sua premiada carreira na fronteira criativa entre as diferentes vertentes do samba e a música popular de raiz. É uma das mais elogiadas intérpretes do mestre Paulinho da Viola. O trabalho ao lado do Grupo Semente teve forte influência na revitalização da Lapa carioca. Pelo seu segundo cd "A vida me fez assim", Teresa Cristina ganhou o prêmio APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte.
A semente de Três meninas do Brasil nasceudo interesse de Teresa Cristina e Rita Benneditto em compor algumas canções em parceria. Já nos primeiros encontros das duas, surgiu a idéia de um show em trio e a decisão de convidar Jussara Silveira para ser o terceiro vértice do triângulo musical. “Além de gostar do trabalho delas, de ser fã mesmo, de admirá-las e respeitá-las como artistas, eu sou amiga de ambas, tenho intimidade e, por isso, sempre quis fazer algo junto com elas”, explica Teresa Cristina.
“Como Jussara e Teresa estavam ocupadas com outros compromissos, tomei a iniciativa de elaborar o projeto, marquei uma reunião com Teresa e convidei Jean Wyllys a formatar o projeto conosco”, continua Rita Benneditto.
“Jean acabou assumindo a direção artística do espetáculo que originou estes cd e dvd, mas precisávamos de um diretor musical que traduzisse nossas convergências e divergências musicais. Aí, a Rita sugeriu o nome do maestro Jaime Alem e nós aprovamos na hora. E tivemos a sorte de ele aceitar”, completa Jussara Silveira. “Aceitei o convite porque reconheço o talento e a seriedade das meninas. E porque achei que o encontro delas seria lindo e memorável”, acrescenta o maestro.
O repertório do show reflete a diversidade cultural do trabalho das três cantoras e faz um passeio pela riqueza da música brasileira, colocando lado a lado clássicos com canções pouco conhecidas. Convivem em harmonia Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Antônio Vieira, Sérgio Sampaio, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Chico Buarque, Caetano Veloso, Zé Ramalho e Tom Zé, entre outros. Há também composições próprias e um resgate de sucessos considerados mais populares, como Pôxa, de Gilson, e Impossível Acreditar Que Perdi Você, de Márcio Greyck.
O roteiro inclui ainda uma homenagem aos Tincoãs (grupo vocal composto pelos baianos Mateus, Dadinho e Heraldo que, nos anos 1970, fizeram relativo sucesso entoando músicas inspiradas nas religiões afro-brasileiras) e ao Trio Nordestino, também composto por três músicos baianos.
A banda pilotada pelo maestro Jaime Alem é formada por Rômulo Gomes (baixo e vocais), Cláudio Brito e Thiago da Serrinha (percussão), Marcelo Costa (bateria e percussão), além de Israel Dantas (violões, guitarra e cavaquinho). A direção do DVD é de Daniel Ferro e Rafael Mellin.
Tecnomacumba - A tempo e ao vivo (Manaxica - Biscoito Fino / 2009)
Faixas:
01 - Saudação - Abertura
02 - Moça Bonita
03 - Domingo 23
04 - Cavaleiro de Aruanda
05 - Babá Alapalá
06 - Xangô, o vencedor
07 - A Deusa dos Orixás
08 - Iansã - part. especial: Maria Bethânia
09 - Rainha do Mar
10 - É D'Oxum
11 - Coisa da Antiga
12 - Jurema
13 - Tambor de Crioula
14 - Canto para Oxalá / Oxalá novo remix
Encanto (Manaxica Biscoito Fino / 2014)
01 - Centro da Mata
02 - Guerreiro do Mar
03 - Santa Clara Clareou
04 - Pedra do Tempo
05 - Água
06 - Banho de Manjericão
07 - Babalu
08 - Estrela é Lua Nova
09 - Fé
10 - Extra
11 - Filha de Tupinambá
12 - De Mina
13 - O que é dela é Meu
A expansão da fé através da deusa música
Regravação em tom roqueiro de sucesso de Roberto Carlos impulsiona Encanto, disco de estúdio em que Rita Benneditto apresenta músicas inéditas entre ousadas releituras de canções de compositores como Djavan, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor
A música é a religião de Rita Benneditto. É para a música que Rita Benneditto bate cabeça! Sexto álbum solo dessa cantora maranhense projetada em escala nacional em 1997, Encanto expõe a devoção de Rita à deusa música, pondo fé num som afro-brasileiro de alcance universal e em repertório que, entre músicas inéditas como Guerreiro do mar (Márcio Local e Felipe Pinaud), alinha ousadas releituras de títulos conhecidos dos cancioneiros de compositores como Djavan, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor e Roberto Carlos. Disco viabilizado pela Manaxica Produções e distribuído no mercado fonográfico pela gravadora Biscoito Fino, Encanto já traduz no título a amplitude de seu significado na carreira fonográfica da artista. Encanto, a palavra, pode significar tanto maravilhamento como remeter a encantaria, nome de evento religioso do Maranhão, ou mesmo ao ato de (en)cantar.
Acima de tudo, o álbum Encanto pode ser entendido também como um desdobramento de Tecnomacumba, vitorioso projeto da carreira de Rita Benneditto. O ponto mais forte na trajetória de uma intérprete saudada também por sua voz extremamente afinada, de emissão límpida, e pela coerência com que vem pautando sua carreira e fazendo suas escolhas. Para quem porventura ainda desconheça o fenômeno, Tecnomacumba foi um show que a cantora estreou em 2003 para uma temporada inicial de um mês, na extinta casa carioca Ballroom. Temporada que, por conta da adesão fervorosa do público brasileiro, já se estende por onze anos, tendo gerado disco de estúdio em 2006 e registro ao vivo do show editado em CD e DVD em 2009.
Ao beber da rica fonte da espiritualidade brasileira, Tecnomacumba extrapolou a questão musical, sem propor ou buscar conversões, mas chamando atenção para todo um rico universo cultural e religioso que parecia adormecido na mídia. Encanto desenvolve esse universo, expandindo o conceito e a fé na boa música através de repertório que abarca todos os credos. É uma nova celebração da vida através da música.
Rita Benneditto celebra a vida desde que nasceu em São Benedito do Rio Preto, cidade do Maranhão. A origem pautou em 2012 essa nordestina de fé – criada em família de onze irmãos - na escolha do novo nome artístico. Projetada como cantora com o nome artístico de Rita Ribeiro, a artista decidiu adotar o nome de Rita Benneditto há dois anos para evitar problemas com homônimos. Por isso, Encanto é o primeiro disco da artista maranhense a apresentá-la oficialmente como Rita Benneditto. “Já incorporei o Benneditto. A mudança do nome foi coerente com minha trajetória”, sentencia a artista, cantora versátil, com múltiplas possibilidades além do universo do Tecnomacumba, projeto que ampliou seu público e lhe deu legitimidade mercadológica.
Encanto aponta para algumas dessas múltiplas possibilidades através da seta da entidade Jurema, que direciona o disco a partir da primeira faixa,Centro da mata, tema de domínio público adaptado por Rita com Felipe Pinaud, que assina a produção de Encanto ao lado de Lancaster Lopes. Pinaud é um multi-instrumentista que, além de tocar sua guitarra, faz arranjos de cordas e flautas. Lancaster pilota baixo e programações. Ao lado de Rita, coprodutora de Encanto, a dupla criou a sonoridade contemporânea do disco. “São caras inteligentes, visionários, modernos”, caracteriza a cantora, parceria dos produtores em Pedra do tempo.
A figura de Jurema – uma “índia intergaláctica” na definição de Rita Benneditto – na abertura de Encanto puxa o fio da meada, evocando o primeiro álbum da cantora, cujo repertório já trazia adaptação (feita pela própria artista) do ponto intitulado Jurema. Já a presença de uma música de Roberto Carlos e Erasmo Carlos – Fé, lançada pelo Rei da canção brasileira em seu álbum de 1978 – corrobora a amplitude do conceito estético, musical e cultural que pauta Encanto. No imaginário do povo brasileiro, Roberto é um dos símbolos mais perenes da fé católica, da reverência à figura de Maria, mãe de Jesus. Na leitura rocker de Fé feita por Rita Benneditto, a música expande seu significado, podendo ser entendida também (e até) como uma declaração de amor de um cônjuge e/ou namorado para outro. A evocação do ritmo do rock complementa tal intenção, já que o rock é – mais do que um gênero – uma atitude que agrega os devotos desse ritmo de tom já universal e atemporal. Fé, a propósito, é o primeiro single do álbum Encanto a ganhar as rádios e a web.
A pluralidade e a amplitude do conceito de fé em Encanto são ratificadas por Extra, a recriação da música lançada por seu compositor Gilberto Gil em álbum de 1983, também intitulado Extra e gravado na fase mais pop da discografia do artista baiano. Com a leveza típica do reggae, ritmo que já é do mundo desde que extrapolou as fronteiras da Jamaica nos anos 1970, Rita Benneditto oferece uma visão transcendental da existência humana. Um padre jamaicano rastafári – Priest Tiger - encarna o mensageiro da fé ao ler o Salmo 24 (oração do Evangelho) na faixa. Detalhe técnico: no registro original de Gil, Extra foi gravado em compasso ternário. Na gravação de Rita Benneditto, feita com a adesão do grupo carioca Reggae B (liderado pelo baixista paralama Bi Ribeiro), o tempo da música é em 4.
Em Água, releitura da música lançada por Djavan em 1978, Rita Benneditto inverte novamente o tempo original (4 na gravação do artista alagoano e três no registro da cantora). É a primeira vez que a cantora grava uma música de Djavan. Aditivada com citação de Eu e água (Caetano Veloso), música lançada em 1988 pela divindade Maria Bethânia, Água é uma reverência a um elemento da natureza essencial para a preservação da espécie humana. É a água que cura e que mantém a vida, mas que também pode matar, nas ondas furiosas da natureza tão maltratada pelo próprio Homem.
A água também está entranhada, como elemento de renovação, em Banho de manjericão (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), sucesso em 1979 da cantora mineira Clara Nunes (1942 – 1983), voz fundamental na propagação da música e da cultura afro-brasileira na década de 1970. O universo da umbanda, evocado nos versos do samba, é reforçado por Rita Benneditto nessa gravação em que o babalorixá Oboromin T’ogunjá incorpora o Pai Benedito das Almas de Angola para ressaltar que o mundo carece de fé, que pode ser renovada com um banho. Na gravação, Rita Benneditto e os produtores de Encanto estilizam o terecô, ritmo da Umbanda praticada no Maranhão, derivado do tambor-de-mina. O percussionista Papete toca os tambores que fazem Banho de manjericão baixar com força no terreiro de Rita Benneditto.
Música lançada por Jorge Ben Jor em álbum de 1981, Santa Clara clareou ilumina a habilidade de Rita Benneditto de renovar em Encanto músicas já enraizadas na memória afetiva do povo brasileiro. Quando a cantora dá voz a uma música já conhecida, a intérprete redimensiona essa música no universo musical nacional. Santa Clara clareou, por exemplo, é entronizada em contexto mais sagrado no compasso 6/8 do tambor de mina, ritmo do Maranhão. Na visão de Rita Benneditto, Santa Clara clareou é uma oração, um canto para os arquétipos femininos do universo afro-brasileiro. O que justifica a inserção na faixa, como tema incidental, de Iansã guerreira, canto da própria Rita, adaptado pela cantora com Felipe Pinaud. O disco Encanto, a propósito, está repleto de citações e de temas incidentais que sublinham e ampliam o significado das músicas. Sucesso tropicalista de Gilbeto Gil em 1968, Bat macumba adorna o registro da música mais antiga do disco, Estrela é lua nova, tema em que o compositor carioca Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) apresenta visão pioneira dos rituais afro-brasileiros. Música editada em 1929, Estrela é lua nova expõe a erudição de Villa-Lobos no trato das canções brasileiras de matriz popular. A junção dos dois temas dilui pré-conceitos e negatividades sobre a palavra macumba.
Extrapolando as fronteiras do Brasil, sem perder a fé, Encanto apresenta releitura do mambo Babalu (1939), um dos grandes sucessos da compositora cubana Margarita Lecuona (1910 – 1981), propagado no Brasil a partir de 1958 na voz emblemática da cantora fluminense Ângela Maria. Em Encanto, Rita Benneditto joga Babalu em pistas contemporâneas com direito a um arranjo de cordas que evoca o som black da gravadora Motown nessa gravação que possibilita remixes, já que é faixa moldada para a dança, para a festa, para a celebração da fé e da vida. Babalu – cabe ressaltar – é uma personagem da santeria cubana (no candomblé brasileiro, Babalu é um dos nomes do orixá Obaluaê). Uma das muitas referências da religiosidade latino-americana originária da mãe África.
Da matriz africana também descende De mina, música de Josias Sobrinho gravada com a guitarra do roqueiro Roberto Frejat. Por embutir na letra a história da religiosidade maranhense de origem africana, De mina traz Rita Benneditto para sua aldeia, tão local quanto universal. É a seta de Juremachegando ao seu destino final, após passar pela faixa-vinheta Filha de Tupinambá, tema de domínio público adaptado por Rita Benneditto com Felipe Pinaud. Com arranjo roqueiro, reforçado pelo toque icônico da guitarra de Frejat, De mina repõe a artista em seu solo sagrado. O que explica e justifica as fotos da capa e encarte do disco, feitas nos Lençóis Maranhenses.
Como a fé e a música nunca tiveram fronteiras, Encanto aporta ao fim no terreirão do samba. O que é dela é meu é um samba do bamba carioca Arlindo Cruz feito especialmente para Rita Benneditto. Com seus parceiros Rogê e Marcelinho Moreira, Cruz não somente fez um samba para Rita – inspirado pelo ponto da cigana – como também gravou a composição com a cantora. É a expansão da fé através da deusa música. É o fecho simbólico deEncanto, disco que não deixa dúvidas de que, em qualquer terreiro ou lugar, a religião de Rita Benneditto é a música.
Mauro Ferreira
Outubro de 2014
Som e Fúria (Maianga Discos / 2015)
Faixas:
01 - O Milagre
02 - Alguém Cantando
03 - A Sílaba | Trilho Trole Trem
04 - Maricotinha | Sambas de Roda
05 - Ave Maria
06 - Outra Noite
07 - Caboclo das Sete Encruzilhadas | Pisei na Terra de Caboclo
08 - Yo Paranã | Saudação a Oxóssi
09 - Para não Contrariar Você | Matriz ou Filial
10 - Rosa de Hiroshima | A Bomba Atômica
11 - Tom de Voz
SOM E FÚRIA - Por Zé Miguel Wisnik
O CD Som e Fúria reuniu as cantoras Jussara Silveira e Rita Benneditto (também conhecida como Rita Ribeiro) num encontro de vozes e repertórios inesperados. As bases instrumentais, discretas e eficazes, sem deixar de ser exuberantes, estão inteiramente a serviço das personalidades vocais das duas cantoras, suas afinidades e suas diferenças, explorando canções matriciais e superposições em tramas polifônicas, que remetem a cânticos arquetípicos e ao mesmo tempo à exploração não convencional das sonoridades.
Rita canta “Milagre”, do repertório do grupo português Madre Deus (“Quero ouvir a sua voz”), que Jussara ecoa com “Alguém cantando”, de Caetano Veloso. As melodias e as vozes se entranham umas nas outras, convidando, propiciando e incitando ao canto. Na sequência, Rita entoa virtuosisticamente “A sílaba”, de Zeca Baleiro, cujas brincadeiras rítmicas, melódicas e fonéticas remetem humoradamente à música árabe, a fanfarras ciganas, a certos padrões universais de cinco notas, chamados “cinquillos”. Passando pela parlenda anônima “Trilho trole trem”, o jogo das sílabas desemboca nos sambas de roda do Recôncavo Baiano chamados por Jussara, tudo atingindo, sem perder a relação com “A sílaba”, uma somatória polifônica intensa.
Jussara canta a “Ave Maria” de Schubert, seguida de “Outra noite”, também de Schubert, na versão de Arthur Nestrovski. A polirritmia da partitura original da “Ave Maria”, unindo pulsações binárias com ternárias, se combina de maneira inesperada, mas envolvente, com percussões de candomblé que atravessam toda a canção e seguem por “Outra noite”, de maneira hipnótica. Unindo-se a esse substrato, e apontando para a música de transe, “Terra de caboclo”, cantada poderosamente por Rita, acompanhada pelos timbres vocais de Jussara na região aguda, conduzem a melodias indígenas (“Iô Paranã)e afro-brasileiras (“Ongorossi”), reunindo os componentes primordiais da mestiçagem brasileira.
Um samba de Paulinho da Viola (“Pra não contrariar você”) se une em contraponto com “Matriz e filial”, que se tornou um clássico da música popular brasileira na voz de Jamelão. Através da frase que lhes é comum – “Quem sou eu?” – os sambas brincam com a pergunta sobre as identidades vocais de cada uma das cantoras, à qual respondem com seus timbres, suas entoações e suas extraordinárias capacidades de atravessarem os mais diferentes gêneros musicais.
Tudo isso se concentra ainda mais em “A rosa de Hiroshima”, com as inflexões modais que ligam a conhecida melodia de Secos & Molhados a escalas pentatônicas indianas, alusões às vozes búlgaras, à força feminina que se irradia esplendorosamente das próprias cantoras, à pungência tocante da aparição de vozes infantis, ao sentimento da tragédia e à força vital que é afirmada ainda pelo poema “A bomba”, do mesmo Vinicius de Moraes, autor do poema de “A rosa de Hiroshima”, enunciado como um rap sob o tapete mágico das vozes.
A singela canção final, “Tom de voz”, comemora e dá um fecho a esse encontro criativo e afetuoso.
O CD foi gravado em quinze dias no Vale do Capão, Chapada Diamantina, no interior da Bahia. A escolha do lugar está ligada ao recolhimento e à concentração buscados por Rita Benneditto e Jussara Silveira para a exploração dos veios musicais de suas vozes, viajando por esse repertório multifacetado juntamente com o músico Mikael Muti e a produção musical e artística de Alê Siqueira, em parceria com José Miguel Wisnik. Não por acaso a primeira frase do disco, “É grande o silêncio”, extrai sua verdade da busca autêntica por um lugar, não apenas físico e geográfico, mas mental e espiritual, capaz de respirar as dimensões contidas nesse tecido de canções matriciais.
Em toda mulher a um princípio de mundo - Por José Eduardo Agualusa
Assim que comecei a ouvir este disco compreendi que ele iria fazer parte do meu futuro. Tenho a certeza de que daqui a muitos anos continuarei a escutar “Som E Fúria” com a mesma emoção com que me chegou aos ouvidos pela primeira vez.
Como o tempo, este é um álbum circular. As canções dialogam umas com as outras, umas continuando as outras, umas justificando as outras, da mesma forma que a voz de Jussara continua e justifica a de Rita, e vice-versa. Quando se chega ao final, está-se de novo no princípio.
“É grande o silêncio / aguardo o milagre” – é com estas palavras que se inicia a viagem: e o milagre vem. “Som e Fúria” organiza-se num comovente elogio à simplicidade, e à complexidade da simplicidade, defendendo um regresso à matriz de toda a música – a voz e a percussão – num tempo em que o excesso de ruído tantas vezes nos impede de escutar a clara beleza do mundo. Não por acaso, foi gravado no Vale do Capão, entre a água e a pedra, entre a luz e a sombra, ali, tão próximo ao coração da terra.
“Nós sabemos que um tanto / de cada é do outro” – diz-se na última canção, “Tom de Voz”, de Cezar Mendes e Quito Ribeiro –, versos que parecem ter sido escritos para esta parceria sublime, de Rita com Jussara, de Jussara com Rita, desta Rita que já é Jussara ou desta Jussara que é já Rita. Obrigado às duas. Obrigado a Alê Siqueira, Wisnik, Guerra e todos aqueles que tornaram possível um milagre tão bonito.
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