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sábado, 20 de agosto de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA

GRANDES INSTRUMENTISTAS PERNAMBUCANOS (IV) – PAULO RAFAEL

Paulo Rafael: um dos mais importantes guitarristas do país


Ao iniciar esta série, dispensei os grandes instrumentistas de antigamente, entre os quais João Pernambuco, Jacaré, Rossini, Luperce Miranda e outros. A proposta é falar dos novos, de 30 anos para cá. Aí comecei a perceber que deixei de lado outros artistas geniais como Moacir Santos, Felinho etc.

Ainda que tenha que retomar os mais antigos, formadores de uma parte da escola brasileira de instrumentistas, meu foco continua sendo aqueles que recentemente inscreveram seu nome na história do grandes instrumentistas de Pernambuco.

Hoje falo do excelente Paulo Rafael, um músico brilhante, com uma biografia repleta de momentos importantes e definitivos da MPB.


Paulo Rafael nascido em julho de 1955 (61 anos), em Caruaru-PE, é considerado um instrumentista da guitarra pop, com sotaque nordestino.

É o braço direito de Alceu Valença na guitarra e nos arranjos há cerca de 40 anos. Nos anos 1970, tinha como companheiros de música Zé Ramalho, Lula Côrtes e Zé da Flauta.


Dunas, de Paulo Rafael, no Espaço Sergio Porto, Rio de Janeiro, em agosto de 2013, com Lucio Maia e Junior Tostoi:
Fez parte do “Ave Sangria”, conjunto musical brasileiro de rock psicodélico, que tornou-se um dos expoentes da cena musical pernambucana dos anos 1970. Na época, se apresentavam nos palcos recifenses Alceu Valença, o excelente Flaviola e o Bando do Sol, o revolucionário Lula Côrtes, mais Marconi Notaro e Laílson.

É daí que começo a acompanhar e admirar a carreira de Paulo Rafael. Inicialmente, chamado de Tamarineira Village (formado por músicos moradores da Vila dos Comerciários, na Tamarineira, bairro do Recife), o conjunto mudou de nome por sugestão de uma cigana que os integrantes conheceram no interior da Paraíba.

Capa do antológico disco do Ave Sangria (ex-Tamarineira Village)

Era formado por Marco Polo, Ivson Wanderley (Ivinho, falecido agora em junho), Paulo Rafael (guitarra base, sintetizador, violão e vocal, Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Agrício Noya (percussão).

O grupo foi alvo de censura no governo militar. A ilustração da capa do primeiro e único disco (gravado) da banda sofreu modificações. A figura da capa foi definida pelos integrantes como um “papagaio drag queen”.

O trabalho mais conhecido do grupo foi “Ave Sangria – 1974”, gravado em estúdio, que foi revivido ano passado, em alto estilo no Teatro Santa Isabel.

A banda, considerada representativa do underground nordestino é hoje tida como cult na internet.

Paulo Rafael recebeu vários prêmios, entre eles o de Melhor Trilha, na 19ª Jornada de Cinema da Bahia; como produtor, ganhou, ao lado de Alceu, o 8º Prêmio de Música Sharp, de 1994; e do 18º Prêmio Tim de Música Brasileira, em 2007.

Além das produções com Alceu Valença, Paulo Rafael gravou quatro discos solo – “Caruá” (Paulo Rafael e Sé da Flauta)/1976, “Orange”, 1992, “Vagalume”, de 1995 e, o último “Alado”, de 2010, de que gosto muito.

Fez a produção musical do desbravador “Baile Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas, além de ter composto e executado a trilha incidental de “Pátria Amada”, filme de Tisuka Yamasaki.

Solo de Morena Tropicana, em show de Alceu Valença no Carnaval:



Encerro aqui, deixando as palavras de Alceu Valença, seu amigo e companheiro musical de quatro décadas:

Paulo Rafael também é da minha região e, naquele primeiro momento, a geração dele negava um pouco as músicas das nossas raízes. Ele descobriu com a gente que não precisava negar as influências do rock, que também poderia se voltar para o regional. Tornou-se um dos guitarristas mais originais do Brasil e conhece a música do interior, dos violeiros e aboiadores. Isso os guitarristas não conhecem, pois sabem é de balada, não de toada; do rock, e não do xote. Ele é super criativo, tem sonoridade e bom gosto inacreditáveis. Originalíssimo. É uma referência e um grande amigo. Trabalhamos juntos na definição do meu som – ele teve um papel fundamental nisso.

Semana que vem, tem mais..


Fontes:

Radios EBC; Wikipedia; Dicionário Ricardo Cravo Albin; Acervo pessoal; Jc Online; Site UAI, de Belo Horizonte-MG; e Zé da Flauta blogspot.

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