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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

PAUTA MUSICAL: REVELANDO O TALENTOSO NESTOR AMARAL

Por Laura Macedo



As fontes de pesquisas sobre o compositor, cantor e instrumentista Nestor Amaral (16/9/1913 - 26/2/1962) são bastante escassas. Basta dizer que nem verbete no Dicionário Cravo Albin da MPB ele possui. Encontrei algumas poucas referências na Revista Carioca, O Malho e no siteWikipédia as quais compartilho com vocês.

Nestor Amaral além de cantar valsas, sambas, jongo, rumba, marcha, choro, canções e outras formas de música popular, também foi cantor e um baita instrumentista: piano, violão, bandolim, violão tenor e violino.


Sua estreia no rádio foi via Cesar Ladeira (foto acima), na Rádio Record de São Paulo, onde atuou por um ano e meio.

Em São Paulo atuou, também, nas seguintes rádios: Rádio Cruzeiro do Sul (um ano) e Rádio Difusora (oito meses).


Flagrante de uma audição de composições de Edgard Cardoso, em São Paulo, pelo cantor Nestor Amaral em homenagem à Noite Ilustrada.


Sua estreia na Cidade Maravilhosa foi, em 1935, na Rádio Ipanema. Sua “veia de cigano” o levou para a Argentina, onde atuou na Rádio Stentor, de Buenos Aires, e para outros destinos, como Montevidéu e depois Pelotas e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Depois desse “tour” lança âncora, novamente, em São Paulo e, logo depois, no Rio de Janeiro onde atuou na rádioMayrink Veiga.


Depoimento à Revista Carioca (nº139/página 38/1938)

- “Minha primeira visão do Rio de Janeiro foi muito gostosa. Cheguei aqui com a impressão que ficaria deslocado no ambiente radiofônico carioca. Mas logo vi que não. O Rio assusta a quem não procura estudar sua vida e prefere evitar o contato exterior metendo-se na concha como o caracol. Eu cheguei, hesitei e atirei-me a luta”.

Quando bateu a saudade, Nestor Amaral retornou à São Paulo por um tempinho, mas logo não resistiu ao tentador convite para integrar a PRE8 - Rádio Nacional.

Ainda respondendo ao repórter da Revista Carioca no tocante as suas preferências musicais.

- Quais os artistas que mais admira?

- “Antes de tudo admiro Radamés Gnattali com seus arranjos maravilhosos. Considero Radamés o maior artista do piano no ‘broadcasting’ brasileiro: como verdadeiro mágico ele tira lindíssimas dos ritmos mais rústicos e banais”.

Continuando a responder: “Em cada gênero musical eu admiro um artista”:

- Sambista: Aracy de Almeida.

- Cantor de valsas: Orlando Silva.

- Samba Choro: Odete Amaral.

- Canções: Francisco Alves.

- Tangos: Mauro de Almeida.

- Marchas: Carmen Miranda.

- Foxes: Bob Lzzy.

- Humorismo: Sylvinha Melo.

- Dupla: Castro Barbosa e Dircinha Batista.

Vamos conferir algumas das suas gravações da década de 1930.


A morte de um cantador” (Nestor Amaral/Raul Torres) # Nestor Amaral/Raul Torres. Disco Odeon (11238-B) / Matriz (4999). Gravação (18/1/1935) / Lançamento (julho/1935).

Se amas és feliz” (Antenógenes Silva/Osvaldo Santiago) # Nestor Amaral/Antenógenes Silva e Orquestra Odeon. Disco Odeon (11647-B) / Matriz (5677). Gravação (27/6/1938) / Lançamento (outubro/1938).


Sonhador” (Eratóstenes Frazão/Francisco Malfinato) # Nestor Amaral e Orquestra. Disco Columbia (8348-B), 1938.


Garota do dancing” (Alberto Ribeiro/Jorge Faraj) # Nestor Amaral e Conjunto Benedito Lacerda. Disco Columbia (55044-A) / Matriz (137). Lançamento (abril/1939).

Rebola a bola” (Nestor Amaral/Aloysio de Oliveira/Brant Horts) # Carmen Miranda. (incluída no Álbum ‘Carmen Miranda on Films and Airshots'/1999). [Gravação original Disco Decca americana (283580-B), 1941].



Bando da Lua: Da esquerda para a direita: Zé Carioca, Vadico, Nestor Amaral, Carmen Miranda, Afonso, Stênio e Aloysio, durante as filmagens de “Minha secretária brasileira”, em 1942.

No início dos anos de 1940, Nestor Amaral, aceita o convite de Carmen Miranda para acompanhá-la aos Estados Unidos integrando o conjunto “Bando da Lua”, substituindo Aníbal Augusto Sardinha - Garoto -, e participa de alguns dos filmes da Pequena Notável, a exemplo de “Aconteceu em Havana” (1941), “Uma noite no Rio” (1941), “Minha secretária brasileira” (1942), “Entre a loura e a morena” (1943).

Carmen Miranda e o Bando da Lua no filme “Uma noite no Rio”. Nestor Amaral é o primeiro da esquerda para a direita.


Cenas do filme “Uma noite no Rio” (1941). Carmen Miranda cantando “Cai, Cai” (Roberto Martins/Bando da Lua). Disco Decca americana, 1941.

Em 1944 participou da trilha sonora do filme “Você já foi à Bahia?” (“The Three Caballeros”).


Os quindins de Iaiá” (Ary Barroso) # Nestor Amaral com Bando da Lua e Charles Wolcott and his Orchestra. Disco Odeon (288032-A). S/D. [Gravação americana conforme o selo acima].
Na baixa do sapateiro” (Ary Barroso) [versão em inglês: Ray Gilbert] # Nestor Amaral cantando no filme “Você já foi à Bahia?” (The Three Caballeros), 1944.



Nestor Amaral, em 1948, cantando com Doris Day, no filme “Romance em alto mar” a música “It’s Magic”, indicada ao Oscar de melhor canção original.


Os dois vídeos abaixo constam de trechos do filme “Rose Hobart”, de Joseph Cornell produzido em 1936. Trata-se de uma curta metragem experimental de 19 minutos filmado em Bornéu, usando imagens de um documentário sobre um eclipse filmado pelo diretor.

Na década de 1960, o diretor substituiu a trilha sonora original, por músicas do brasileiro Nestor Amaral, extraídas de um disco clássico chamado “Holiday in Brazil” gravado em 1957 e lançado nos Estados Unidos pela “High Fidelity Records”.

As músicas são "Currupaco", "Porto Alegre", "Bamba no Samba", "Ba Tu Ca Da" e outras, interpretadas por Nestor Amaral.

A música de Nestor Amaral na trilha do filme surrealista "Rose Hobart", de 1936. Acesso ao primeiro vídeo AQUI (A incorporação foi desativada).



Nestor Amaral, diferentemente de outros integrantes do Bando da Lua, fincou bandeira na América do Norte, ou seja, não mais retornou ao Brasil. Foi lá que nasceu seu filho - Roy Alan Amaral (25/9/1950) do qual Carmen Miranda foi madrinha de batismo.

Laurindo Almeida e Nestor Amaral eram muito amigos

Nas minhas garimpagens sobre Nestor Amaral descobri um vídeo fantástico com os “Cariocas Boys” (Nestor Amaral, Laurindo Almeida, Zé Carioca e outros) ao lado de grandes mestres do Jazz: Louis Armstrong, Benny Goodman, Golden Gate Quartet, Tommy Dorsey, Lionel Hampton e outros... Uma delícia!




O que é que a baiana tem” (Dorival Caymmi) [Versão: Nacio Herb Brown/Leo Robin) / “Quando eu penso na Bahia (Ary Barroso/Luiz Peixoto) # Carmen Miranda e Bando da Lua. Cena do filme "Greenwich Village" ou "Serenata Boêmia" (1944). [Nestor Amaral no bandolim].



Batuque no morro” (Russo do Pandeiro/Sá Moriz) # The Carioca Boys (Nestor Amaral, Zé Carioca, Russo do Pandeiro e Russinho). Cenas do filme “Road to Rio” (Paramount Pictures, 1947). [Observem Nestor Amaral no violão tenor].

Nestor Amaral lançou, na década de 1950, alguns discos pela gravadora “Tops Records”. Nas minhas pesquisas localizei quatro discos da série: “Nestor Amaral And His Continentals”, batizados de: “Holiday in Brazil”, “Holiday in France”, “Holiday in Spain” e “Holiday in Italy”. Nestas gravações Nestor conta também com a participação de seu amigo, o violonistaLaurindo Almeida.

Tico Tico” (Zequinha de Abreu) # Nestor Amaral. LP Holiday in Brazil - Nestor Amaral and His Continentals, 1957.



Ba tu ca da” (Nestor Amaral) # Nestor Amaral. LP Holiday in Brazil - Nestor Amaral and His Continentals, 1957.




Bamba no samba” (Nestor Amaral) # Nestor Amaral. LP Holiday in Brazil - Nestor Amaral and His Continentals, 1957.

Capas dos LPs “Holiday in Italy” e “Holiday in Spain”


Autumn Leaves” (Johnny Mercer/Joseph Kosma [versão em inglês/Joseph Prevert]) # Nestor Amaral.


Poor people of Paris” (Marguerite Mannot) # Nestor Amaral.


Confesso que há semanas estou envolvida na elaboração deste post em homenagem ao multifacetado artista brasileiro Nestor Amaral. Pesquisei em inúmeras revistas das décadas de 1930/1940. O resultado da garimpagem não é proporcional a brilhante trajetória do Nestor Amaral no seu país de origem. Com o pouco que consegui tentei montar “essa colcha de retalhos” na tentativa de dar uma unidade a sua trajetória dentro e fora do país, o que não foi fácil.

A sensação que fica é a de que a maioria dos brasileiros desconhece o importante papel de Nestor Amaral à cultura brasileira, com ênfase na composição, interpretação vocal e de vários instrumentos musicais.

Vou colocar um ponto final (provisório). Explicando melhor: Vou continuar a garimpagem e peço ajuda dos amigos que tenham mais informações sobre o Nestor Amaral que socializem conosco.

Agradecimentos especiais aos amigos Samuel Machado Filho e Helô Lima pela liberação dos áudios: “Se amas és feliz” e "Ba-Tu-Ca-Da", respectivamente.


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Fontes:

- Documentário “Laurindo Almeida: Muito Prazer”. Direção e texto: Leonardo Dourado / Canal a cabo GNT, em três episódios / Produtora TeleNews, com apresentação do violonista/compositor Toquinho, 1999.

- Fotomontagens: Laura Macedo.

- Revista Carioca: Nº 127/Página 38/1938 / Nº139/Página 38/1938 / Nº596 / Página 19/1947).

- Revista O Malho: Nº266/Página 8/Em 7/7/1938 / Nº267/Página 7/Em 14/7/1938 / Nº282/Página 6/Em 27/10/1938 /Nº 313/Página 8/Em 1/6/1939 / Nº30/Página 10/setembro de 1942 / Nº 52/Página 75/maio de 1944.

- Site YouTube: Canais: (“luciano hortencio”, “Adilson Flávio Santos”, “amarallmusic”, “SenhorDaVoz”, “saopaulo450”, “oocleckboy”, “Doni Sacramento”).

- Site Wikipédia (Aqui).

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