Por José Teles
A Warner Music anuncia a caixinha As Frenéticas – 40 Anos de Dancin’ Days, que chegará às lojas como uma homenagem, não premeditada, à vocalista Lidoka, uma das integrantes da formação original do grupo, falecida ontem, 23 de julho, aos 66 anos, em São Paulo.
Assim como as também fundadoras das Frenéticas, Regina e Leiloca, Lidoka fez parte do antológico Dzi Croquettes. O grupo tinha ainda Dhu Moraes, Edy de Castro, e Sandra Pera, irmã de Marília Pera, na época mulher de Nelson Motta, idealizador do sexteto, que explodiu com furor uterino na música popular brasileira no final dos anos 70, em plena era da disco music.
As Frenéticas – 40 anos de Dancin’ Days, com organização do pesquisador e produtor Rodrigo Faour, reúne os quatro primeiros LPs da banda, Frenéticas (1977), Caia na Gandaia (1978), Soltas na Vida (1979) e Babando Lamartine (1980). Com exceção ao tributo a Lamartine Babo, os outros refletem o Brasil da época da abertura lenta e gradual do presidente Geisel, à que as moças imprimem velocidade. Gravaram canções de versos que forçaram a abertura na censura: “Eu vou fazer você ficar louco/ficar louco/muito louco/dentro de mim” (do final de Perigosa, Nelson Motta/Rita Lee).
São reflexos também, e sobretudo, do ambiente onde As Frenéticas nasceram, a discoteque Frenetic Dancin Days, um espaço no Shopping Gávea, transformado por Nelson Motta numa contraparte carioca, e tropicalizada, da nova-iorquina Studio 54. Casa que acabou acabou inspirando novela global.
As Frenéticas inicialmente eram as garçonetes cantoras. Entre servir doses, coquetéis e pratinhos, elas cantavam três ou quatro músicas. Agradaram tanto, que a Warner Music convidou para gravarem um álbum inteiro, ensaiadas pelo guitarrista Roberto de Carvalho, que encetava namoro com Rita Lee.
Sorte das Frenéticas que ganharam músicas inéditas da ex-Mutante, que inaugura parceria com o quase marido guitarrista. Duas no álbum de estreia, Fonte da Juventude (Rita Lee) e Perigosa, maior sucesso do grupo, de Rita Lee, Roberto Carvalho e Nelson Motta, que repetem a parceria em Perigosíssima, no álbum Soltas na Vida (1979). Os três primeiros LPs são o que de melhor o sexteto fez.
A caixa traz também 17 faixas extras, um caleidoscópio da alegria do grupo, com jingles, chamadas para rádio, versões alternativas, e três inéditas, uma delas Açúcar Candy (Sueli Costa/Tite Lemos), do primeiro álbum solo de Ney Matogrosso.
Maliciosas, sensuais, com um repertório de regravações, e inéditas, cedidas por, entre outros, Gilberto Gil (Sonho Molhado), Roberto e Erasmo (Macho), Flaviola (com Fernando Pinto, O Que Não Mata Engorda), Luhli e Lucina (É Que Nesta Encarnação Eu Nasci Manga), A Frenéticas foram muito além da moda disco, e da nela de altíssima audiência Dancin Days, que tinha Perigosa como tema.
O sexteto antecipa também o Brock dos anos 80, na euforia de uma liberdade de expressão readquirida, e a luz da democracia pintando no fim do túnel (em 1979 veio a anistia e o fim da censura). Não por acaso, As Frenéticas foram produzidas por Liminha, é o início do trabalho dele, o artífice de estúdio do rock oitentista, como produtor.
PS – A paulista Maria Lidia Martuceslli, a esfuziante loura de cabelos encaracolados, a Lidoka, faleceu em consequência de um câncer, contra o qual lutava há dez anos. Em 2012, lançou a autobiografia, Uma Vida Frenética, e participou de todas as formações do grupo.
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