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sábado, 9 de julho de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA: SÉRIE DOSE DUPLA III – DUAS VERSÕES DA MESMA MÚSICA



Por Joaquim Macedo Júnior


Brasil Pandeiro


“Brasil Pandeiro”, de Assis Valente, é uma das canções-hino do Brasil, no nível de ‘Aquarela do Brasil’, ‘Cidade Maravilhosa’, ‘Samba da Minha Terra’…

Foi escrita em 1940, por este baiano genial, que tem uma biografia recheada de fatos duros, difíceis e pesados viveu menos de 50 anos. Depressivo, suicidou-se em 1958, no Rio de Janeiro (*).

A música, de 1940, feita especialmente para Carmen Miranda, acabou sendo gravada pelos “Anjos do Inferno”, justamente o conjunto que acompanhava a ‘pequena notável’ em muitas excursões.

Assis Valente apresentou a famosa canção e outra chamada “Recenseamento”. Pois Carmen -eventualmente preocupada com os versos que falam de Tio Sam -, não quis gravar “Brasil Pandeiro”, vez que a grande estrela estava no auge do sucesso nos EUA. Gravou a outra.

É importante lembrar que Carmen Miranda gravou 25 sambas e marchas de Valente. A seguir, “Brasil Pandeiro”, com o conjunto “Anjos do Inferno”, que contava com Miltinho como um dos componentes:



A canção foi regravada inúmeras vezes por grandes intérpretes e cantores como Maria Betânia, Chico Buarque, Nara Leão, entre outros.

A Letra

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui à Penha, fui pedir ao Padroeiro para me ajudar
Salve o Morro do Vintém, Pendura a saia eu quero ver
Eu quero ver o tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar

O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato
Vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente
Num batuque de matar
Batucada, reunir nossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressão que não tem par, ó meu Brasil

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar!

Ô, ô, sambar.
Ô, ô, sambar…

Carmen Miranda


Porém a mais importante e revolucionária versão de “Brasil Pandeiro” é obra dos extraordinários “Novos Baianos”, que além de trazerem músicas belas e inovadoras de sua própria lavra, resgatou para a juventude de então e para os mais recentes interessantes na boa música brasileira uma versão moderníssima e definitiva. Fez isso com “Brasil Pandeiro”, fez isso com “Samba da Minha Terra’’.



Os que acompanham esta coluna sabem do apreço que seu autor tem pela boa música brasileira e do estímulo que dispõe àqueles grupos, cantores e cantoras que novos, modernos, inovadores misturam seu repertório próprio com grandes momentos do cancioneiro nacional, como fazem e fizeram “Os Novos Baianos”, Marisa Monte e o excelente “Casuarina”.


Esse era o ‘Dose Dupla’ que mais esperava publicar.


Semana que vem tem mais..

(*) Breve perfil de Assis Valente.

Os dados estão fundamentados nas seguintes fontes: Dicionário Ricardo Cravo Albim; wikipedia, Vagalume, Emanoel Araújo (curador do museu Afro-Brasil, natural de Santo Amaro da Purificação-BA)

O nascimento de Assis Valente sempre foi cercado de lendas. Até a data de seu nascimento é incerta. Algumas fontes citam 19 de março de 1908; outras, 19 de março de 1911. Consoante seu próprio relato, ele teria nascido quando sua mãe fazia uma viagem de Bom Jardim à cidade de Patioba (Bahia), no Sul da Bahia, “em plena areia quente”. Só que ele também dizia ser natural de Campo da Pólvora, em Salvador, filho de José de Assis Valente e de Maria Esteves Valente, pais que ele efetivamente pouco conheceu, pois, aos seis anos de idade, teria sido sequestrado por um tal de Laurindo e entregue para ser criado por uma família residente na cidade de Alagoinhas, a família Canna Brasil.

A maioria de biografias e perfis, no entanto, informa que Assis Valente era de Santo Amaro da Purificação-BA, portanto conterrâneo de Caetano e Betânia.

Alguns artigos sobre a vida do artista consideram que “talvez ele tenha tido uma das mais trágicas vidas da história da música brasileira.

Assis Valente sofria de profunda depressão quando tentou suicídio pulando do Corcovado, de uma altura de 800 metros, em 12 de maio de 1941. Felizmente ficou preso na copa de uma árvore brotada da pedra, 70 metros abaixo”.

O autor de “O mundo não se acabou” foi resgatado com vida, mas não desistiu de acabar com a vida. Tentaria mais cinco vezes até conseguir, em 1958, ao beber um refrigerante batizado com veneno para ratos”.

José de Assis Valente era filho de uma empregada com um homem casado. Mudou-se para o Rio em 1927, com 19 anos. Montou um laboratório de próteses dentárias. Compôs 155 músicas, a maioria sambas e marchas.

A data mais constante para seu nascimento é 19 de março de 1911. Morreu no Rio de Janeiro em 6 de março de 1958.

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