Trio vocal que ganhou notoriedade nacional a partir de boleros há 55 Anos gravava um disco só de sambas
Por Luiz Américo Lisboa Junior
Trio Irakitan - Os Sambas que gostamos de cantar (1961)
Muito já se falou da contribuirão do Nordeste para a música popular brasileira, portanto, qualquer colocação que se queira fazer geralmente irá cair numa explicação já dada, ocorre no entanto que esta região do país ficou largamente conhecida pela divulgação de seus ritmos tradicionais como o baião criado por Luiz Gonzaga, além do forró, xaxado, xote etc. Mas se essa é a face do Nordeste tradicional que todos conhecem e admiram outras vertentes de sua cultura musical devem ser exaltadas e uma delas pouco divulgada diz respeito a formação de grupos vocais dentre eles o Trio Maraya e o Trio Irakitan, este último sem dúvida alguma o de maior expressão da região e um dos mais respeitados e admirados do país.
Surgido na cidade de Natal capital do estado do Rio Grande do Norte em 1947 o grupo era formado por Edinho Reis de França no violão, Paulo Gilvan Duarte Bezerril no afoxé e João da Costa Neto no tantã. Depois de um inicio tímido em Natal iniciaram sua caminhada de sucesso apresentando-se em 1950 na Rádio Clube de Pernambuco estendendo depois a excursão para diversas capitais nordestinas. Curioso é que o Trio Irakitan conquistou fama indo na contra-mão do natural da época que era ir ao Rio de Janeiro. Antes de chegarem a capital do país e em função do êxito de suas apresentações no Nordeste viajaram por alguns anos para as Guianas, América do Sul e Central percorrendo vários países e ao chegarem no México alcançaram enorme popularidade e prestigio cantando musicas brasileiras em castelhano que foram convidados a participar do filme Leva-me em teus braços, estrelado por Ninon Sevilha, interpretando Bannzo, do compositor alagoano Hekel Tavares e O vento, de Dorival Caymmi.
Em 1954 retornaram a Natal sendo recebidos com entusiasmo pela população merecendo inclusive desfile em carro aberto pela cidade, no mesmo ano decidiram finalmente irem ao Rio de Janeiro onde assinaram contratos de exclusividade com a Radio Nacional e a gravadora Odeon. No sul do país reafirmaram seu talento, tornaram-se ídolos nacionais e seus discos eram uma certeza de sucesso garantido, além do mais a simpatia e o carisma do grupo os impulsionava a participarem de vários filmes onde não so representavam como também cantavam as musicas de seu repertório, seu prestigio pode ser medido pelo número de filmes realizados, 17 ao todo entre 1955 e 1961.
Afinadíssimos e possuindo excelentes vozes formaram um conjunto harmônico muito agradável atuando com belos arranjos vocais aliados a um repertório da melhor qualidade, dessa forma a cada novos discos e apresentações seu conceito e fama junto ao publico brasileiro so fazia aumentar. A discografia do Trio Irakitan é uma das mais belas de nosso cancioneiro no quesito grupos vocais, no entanto, em que pese a qualidade de seu trabalho devemos ressaltar um LP que mereceu sucessivas reedições e tornou-se uma de suas referencias, trata-se de Os sambas que gostamos de cantar, lançado em 1961. Neste disco eles interpretam musicas de compositores consagrados e que já haviam alcançado sucesso por ocasião de seu lançamento por outros intérpretes. Com arranjos vocais do próprio trio e do maestro Astor o que ouvimos é um espetáculo de harmonia e talento que so eles eram capazes de realizar.
O repertório que dispensa maiores comentários é uma verdadeira seleção de grandes números musicais, a maioria clássicos da musica brasileira, O orvalho vem caindo, de Noel Rosa e Kid Pepe; Rosa morena, Lá vem a baiana e Samba da minha terra, de Dorival Caymmi; Pra machucar meu coração, No tabuleiro da baiana e Coisas do carnaval, de Ary Barroso; Mulher de malandro, de Heitor dos Prazeres; Agora é cinza, de Bide e Marçal; Tarde na serra, de Lamartine Babo; Diz que vai, vai, vai, de Hanibal Cruz e Ora, ora! de Almanir Grego e Gomes Filho.
O apogeu do Trio Irakitan se estenderia até o ano de 1965 quando ocorreu a morte de Edinho, a partir daí o grupo teria novas formações, continuaria em evidencia, contudo, não alcançaria o êxito dos primeiros tempos, mas isso não se deve unicamente aos percalços em sua trajetória mas também aos novos rumos que ocorriam na musica brasileira, como os Festivais, a Jovem Guarda e a Tropicália que fizeram a diferença nos anos sessenta diminuindo os espaços de mídia aos artistas e conjuntos que se notabilizaram entre o fim dos anos quarenta e por toda a década de cinqüenta.
Muitos consideram o Trio Irakitan uma espécie de versão nacional do famoso grupo mexicano Trio Los Panchos, não pela afinidade rítmica mas pelo repertorio e estilo de interpretação. Porem, se influencias houve, a questão que se pergunta é quem é que não as sofreu em sua atividade artística? O Trio Irakitan, no entanto, em que pese a comparação estabelecida tinha estilo e personalidade própria o que lhes reserva sem sombra de duvida um lugar de destaque entre os maiores grupos vocais de toda história da musica brasileira, ouvi-los em sua plenitude além de ser um grande prazer é um refrigério para alma tamanha é a sua sintonia com o belo nos proporcionando momentos de rara beleza.
O Brasil hoje em dia não produz mais trios vocais o que é uma pena, pois esta é uma das mais marcantes tradições de nosso cancioneiro e que teve no Trio Irakitan um de seus expoentes máximos.
Músicas:
01 - O orvalho vem caindo (Noel Rosa - Kid Pepe)
02 - Rosa morena (Dorival Caymmi)
03 - Pra machucar meu coração (Ary Barroso)
04 - Coisas do carnaval (Ary Barroso)
05 - No tabuleiro da baiana (Ary Barroso)
06 - Mulher de malandro (Heitor dos Prazeres)
07 - Diz que vai, vai, vai (Hanibal Cruz)
08 - Lá vem a baiana (Dorival Caymmi)
09 - Agora é cinza (Alcebiades Barcelos - Armando Marçal)
10 - Ora, ora! (Almanyr Grego - Gomes Filho)
11 - Samba da minha terra (Dorival Caymmi)
12 - Tarde na serra (Lamartine Babo)
Ficha Técnica
Produtor fonográfico: Industrias Elétricas e Musicais Fábrica Odeon
Arranjos orquestrais: Maestro Astor
Arranjos vocais: Trio Irakitan
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