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terça-feira, 28 de junho de 2016

MAURO SENISE REALÇANDO MELODIAS DE GILBERTO GIL

Por José Teles



Feliz e ótima coincidência que dois dos melhores instrumentistas em atividade no Brasil lancem, quase simultaneamente, discos interpretando dois dos maiores autores em atividade na música popular brasileira. O bandolinista Hamilton de Holanda, com Samba de Chico (já comentado neste blog), e o saxofonista Mauro Senise, com Amor Até O Fim – Mauro Senise Toca Gilberto Gil (CD e DVD, Fina Flor).

Ambos os compositores pertencem à geração que deu uma nova conotação à letra na MPB, não mais apenas lúdica ou romântica, porém também engajada, instrumento de transformação da sociedade, sobretudo nos anos 60. Parafraseando versos de uma canção da época, vivia-se em um tempo de guerra, em um tempo sem sol (de Tempo de Guerra, Edu Lobo, Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri, de 1965), então a letra adquiriu uma importância que ia além do lirismo, do poético, não poucas vezes, em detrimento da melodia.

É isto que Senise ressalta, a beleza a engenhosidade da música de Gilberto Gil, com quem tocou no começo da carreira, nos anos 70. Ele selecionou 13 músicas (compostas entre 1965 e meados dos anos 80), a mesma quantidade no CD e no DVD, com Gil participando de Preciso Aprender A Só Ser, declamando, na verdade falando, a letra. Senise escreve no encarte que escolheu composições que soassem bem no formato instrumental, e todas se prestam a isto, até porque Gil é ele mesmo um instrumentista talentoso.

Se a seleção tivesse um técnico no estilo Mauro Senise a Copa teria sido outra história. Ele aqui escalou um time irrepreensível de craques, tanto para tocar, quanto para arranjar. Não tinha como não ganhar com nomes feito Romero Lubambo, Leonardo Amuedo, Zeca Assumpção, Rodrigo Villa, Bruno Aguiar, Ricardo Costa e Mingo Araújo, velha e nova guarda do instrumental brasileiro juntas e sintonizadas com o sax de Senise. A ordem é suas a camisa, mas sempre com a bola no pé, sem complicar.

Achando pouco, ele arrebanhou sete arranjadores para dar uma nova roupagem às canções, começando pelo parceiro Gilson Peranzzetta, Jota Moraes, Cristóvão Bastos, Gabriel Geszti, Kiko Horta, Adriano Souza e Roberto Araújo. Depois desta é chutar e é correr para o abraço.

O disco incursiona por antigas canções, os sambas Mancada e Eu Vim Da Bahia, passa por hits, Se Eu Quiser Falar Com Deus ou Drão, algumas mais ou menos conhecidas, Flora e A Linha E O Linho. Em algumas tocam como manda o figurino, sem sair muito do caminho originalmente traçado por Gil, , ou reinventam, feito fazem com Expresso 2222 acentuando a influência que as bandas de pífanos exerceram sobre Gilberto Gil.

O DVD é complemento do CD, o making of. Recomenda-se escutar primeiro o disco, para depois entender a apreciar como ele foi feito.

Confiram Mauro Senise e banda em Procissão:

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