Por José Teles
A Sony Music lançou caixa com cinco CDs da série Pau de Sebo, saídos originalmente entre 1967 a 1971, com nomes da segunda geração do forró, a que surgiu lodo depois de Luiz Gonzaga. A alguns destes artista ele ajudou a deflagrar carreiras, como aconteceu com o casal Marinês e Abdias, que até se hospedaram na casa do Rei do Baião quando vieram de Campina (PB), para o Rio, na segunda metade dos anos 50.
O álbum que estreou a série, em 1967, é primoroso. Tem Abdias, Marinês, Trio Nordestino, Jacinto Silva, Osvaldo Oliveira, e o Coroné Ludugero. Destes, apenas o Trio Nordestino ainda continua em atividade, mas sem nenhum dos três integrantes originais, Lindú, Coroné e Cobrinha, já falecidos (entre 1982 e 2005). O Coroné Ludugero, hoje pouco lembrado, foi um dos maiores fenômenos de popularidade do Norte e Nordeste nos anos 60. Cantor e comediante (com textos escritos por Luiz Queiroga, o patriarca da Queirogada, também precocemente falecido), surgido no rádio em Caruaru, virou uma lenda.
Osvaldo Oliveira é outro igual e injustamente esquecido. Os que tanto cultuam a música do Pará, até mesmo os paraenses, parece que o ignoram. Oliveira (falecido em 2010) seguia a escola de fraseado suingado de Jackson do Pandeiro. No final da década, assim como o conterrâneo Ari Lobo, se voltou para os ritmos de sua terra (é o interprete do merengue A Deusa do Mercado São José, pelo visto tudo que as novas gerações conhecem dele).
O alagoano Jacinto Silva (1933/2001) foi resgatado no final da carreira por Zé da Flauta, que o produziu, e Silvério Pessoa que gravou um disco inteiro, Bate o Mancá (2000) com cocos, e rojões pinçados da sua obra.
O Trio Nordestino, modelado no formato criado por Luiz Gonzaga, foi o principal de todos os trios que ainda hoje animam arrasta-pés país afora. Marinês (1935/2007), a Rainha do Xaxado, competia com Luiz Gonzaga em popularidade e vendas, deixou dezenas de clássicos, e Abdias (1933/1991) foi o mais popular dos tocadores de oito baixos, além de ser um empreendedor, que aglutinava forrozeiros e compositores em torno dele na CBS.
O Pau de Sebo de 1968, repete o elenco, quase os mesmos compositores (Onildo Almeida, Antônio Barros, Juarez Santiago, Jacinto Silva). porém é ainda mais direcionado para o período junino, com quase todo o disco centrado nas marchinhas de roda, hoje quase esquecidas. No acompanhamento se vai além do básico, zabumba, triângulo, e sanfona. Marinês canta Aproveita Pessoá (Juvenal Lopes), com violão caprichando na baixaria, flauta (provavelmente do alagoano João do Pife, e tuba). É deste LP um dos maiores clássicos nordestinos, Naquele São João (Antonio Barros), com O Trio Nordestino (Eu Fiquei tão triste/eu fiquei tão triste/naquele São João”)
O mesmo time foi escalado nas edições de 1969 e 1970. Em 1971, houve algumas alterações. Luis Jacinto, o Coroné Ludugero, faleceu (com 41 anos), com quase toda sua trupe, em um acidente aéreo em 14 de março de 1970, no Pará. Imediatamente surgiram vários imitadores. O Coroné Ludru foi o que mais se aproximou do original, inclusive com textos e músicas de Luiz Queiroga. Ele integrou o Pau de Sebo de 1971, que traz ainda como novidades Jackson do Pandeiro, João do Pife, tocando solo, Elino Julião.
Curioso é que o projeto Pau de Sebo não resvalou para o duplo sentido que a partir de 1969 tomou conta do forró, e andou de braços dados com a grossura em meados dos anos 70. Pouca conhecem a obra de, por exemplo, Genival Lacerda ou Zenilton antes do duplo sentido. A série chegou até o começo da década de 80, já sem a mesma força.
A primeira série de forró foi da Rozenblit, que começou em 1958, o Viva São João, com Mêves Gama, Toinho da Sanfona, e Jair Pimentel, entre outros. Nas edições seguintes entrariam Genival Lacerda, Carlos Diniz, Jacinto Silva, Onildo Almeida, e Luis Jacinto, o Coroné Ludugero. Mas aí é outro capítulo do forró que merece e precisa ser resgatado. Outras gravadoras também séries começaram séries assemelhadas antes da CBS.
Porém foi esta gravadora, que fez mais sucesso com este tipo de compilação, na qual tinha uma antecessora campeã de vendagem, a série As 14 Mais, iniciada em 1960, com rock baladas, boleros, bossas novas, e que foi dominada pela turma da Jovem Guarda entre 1965 e meados dos anos 70. O Pau de Sebo recebia o mesmo tratamento, e ainda ia mais longe, literalmente. Os artistas que participavam do projeto, viajavam pelo Brasil, sobretudo pelo Norte e Nordeste, em caravana.
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