DE QUEM SÃO ESSES CLÁSSICOS?
Venâncio e Corumba
Em rádio, usa-se muito o verbo ‘desanunciar’, um neologismo típico do mundo radiofônico. O Manual de Comunicação da Secs (Secretaria de Comunicação Social), do Senado Federal, acolhe assim o termo: “Desanunciar música” – Informar o ouvinte sobre o nome e o autor de uma música no momento imediatamente posterior ao que ela foi ao ar. Veja também: “Anunciar música” (rádio).
A pesquisa deixou-me bastante feliz, pois indica que, embora não tão falado quanto se gostaria, o verbo está aí e consta pelo menos de alguns manuais de comunicação.
Volto a tratar de uma prática da comunicação no rádio (também nos demais veículos áudios, visuais e nos mais modernos, como ipods, rádios digitais etc) que, com o passar dos anos, temos piorando em seu descaso: a falta de zelo, o destrato, a inépcia, a preguiça e mesmo a falta de interesse em divulgar os nomes de compositores de músicas e letras de nosso país (das estrangeiras também, mas cuido aqui de nossas canções, órfãs de autores).
O assunto é atual e importantíssimo. Muitas famílias vivem (ou sobrevivem) do que é registrado pelo ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) dos direitos de execução pública das músicas de quem as compôs, de quem executa e de quem interpreta, até 70 anos depois da morte do autor, que é quando a obra cai em domínio público.
Tenho tido contato esporádico com o ECAD e recentemente, soube que Luiz Bandeira, por exemplo, digo sua família, está, sim, recebendo os percentuais sobre os seus maravilhosos sucessos – “Voltei, Recife”, “Quarta-feira Ingrata” (tocados principalmente no Carnaval), mas principalmente pela execução, na maioria das vezes incidental de “Na Cadência do Samba” – usada anos a fio pelo ‘Canal 100’ e ainda muito executada em programas de esportes e outros. Pude manter, recentemente, um contato mais direto com o ECAD, graças à ajuda da Marina Band, advogada do “Senna & Mariano – Advogados Associados”, que cuida especificamente deste e de outros assuntos relacionados a direitos autorais.
A partir da coluna de hoje, passo a me comprometer com a pesquisa detalhada das canções tocadas de forma continuada ou não em nossas rádios, que não se dão ao dever de anunciar e “desanunciar” (ou um dos dois) as músicas que tocam, indicando seus autores de letra e melodia, intérprete e, quando for o caso, arranjo, versão e outros informes.
Darei alguns exemplos práticos, gritantes, surpreendentes para que todos nós recordemos e passemos a reconhecer quem fez alguns dos maiores clássicos, que refrescam nossa alma, satisfazem o nosso desejo, afastam nossas caningas e são bálsamo apropriado para nossa alma, quando não apenas um instante de felicidade prosaica.
Acredito que todos aqui já ouviram o canto de exílio, a canção de resistência, um dos mais belos hinos de coragem e estoicismo de nosso sertanejo, que vem a ser “Último Pau de Arara”. A maioria de nós conheceu assim e não mais dissemos sobre essa obra trazida para o grande público por Luiz Gonzaga ou por Raimundo Fagner.
Último Pau de Arara – Fagner (73), de Venâncio, Corumba e José Guimarães
Agora, prestem atenção nos detalhes: a canção foi gravada e regravada uma centena de vezes por cantores e compositores como Gilberto Gil, Clara Nunes, Ary Lobo, Catulo de Paula, entre outros.
Foi composta por Venâncio, Corumba e José Guimarães, cujos breves perfis dizem:
Venâncio – Marcos Cavalcanti de Albuquerque, o nasceu no Recife-PE em outubro de 1909, falecendo em setembro de 1981. Venâncio iniciou a carreira artística cantando cocos nas festas de São João, Santana e São Pedro. Um dia foi convidado para substituir um ator numa apresentação teatral e acabou gostando tanto que foi fazer curso de teatro no Círculo Operário. Tornou-se diretor teatral do grupo de teatro do próprio círculo.
Corumba – Manoel José do Espírito Santo, também nasceu no Recife-PE, em 11 de junho de 1914. Em 1928, Corumba conheceu Venâncio, formando uma das mais longas parcerias da música nordestina e brasileira.
A dupla – Começou a se apresentar na Rádio Clube de Pernambuco, onde permaneceu durante 11 anos, apresentando programas musicais e humorísticos.
No princípio da década de 1940, os dois resolveram mudar-se para o Rio de Janeiro para dar prosseguimento à carreira artística.
Trabalharam nas rádios Tupi e Tamoio. Em 1950, gravaram a batucada “Sai da frente“, de Enedino Silva, Clementino Barreto e Edgard Amaral. No mesmo ano, integraram o elenco da peça “As rolhas vão rolar“, realizando temporada em São Paulo, onde fixaram residência.
Firmaram contrato com a rádio Nacional paulista e montaram uma empresa para cuidar da carreira de artistas, especialmente nordestinos.
Em 1953, gravaram um de seus maiores sucessos, a deliciosa toada “O boi na Cajarana“.
Em 1956, apresentaram esta que viria a ser um estouro nacional, um clássico da música popular brasileira, o baião “Último pau-de-arara“, em parceria com José Guimarães.
A dupla se desfez em 1968: Corumba tornou-se empresário e Venâncio, por sua vez, continuou a compor, sempre inspirado nos aspectos folclóricos da música nordestina. Criou o grupo “Baianos de Aracaju” e com ele gravou o disco “Brasil com “S”, em 1977, sendo bem recebido por parte da crítica. Criou ainda a gravadora Crazy, que, apesar do nome americano, se especializou em gravar música brasileira.
Chuleado da Vovó – Venâncio e Corumba – Som Brasil, apresentado por Rolando Boldrin – 1982
José Palmeira Guimarães – terceiro compositor, o poeta paraibano é conhecido como Palmeirinha. É o autor da letra de ‘Último Pau de Arara’, gravada originalmente por Venâncio e Corumba em 1956
Fontes:
Como diz a letra, “vou ficando por aqui”, mas semana que vem tem mais Venâncio, Corumba e outras surpresas mais.
Fontes:
Ricardo Cravo Albin;
Wikipedia;
Senna e Mariano Advogados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário