Este antológico encontro em disco completa 35 anos ao longo de 2016
Por Luiz Américo Lisboa Junior
Edu & Tom, Tom & Edu (1981)
Um dos temas muito recorrentes entre pais, educadores, psicólogos, historiadores e todos que se dedicam a compreender o desenvolvimento das relações humanas em suas contradições e afinidades é o conflito de gerações, ou a sua influencia no curso do processo evolutivo da criatura humana. Cada época tem suas características próprias e as pessoas que as vivenciam tornam-se protagonistas de um tipo de comportamento/atitudes peculiares ao seu tempo vivido, assimilando seus valores, interesses, visão de mundo, etc. Quando, porem, se chega a madureza, as transformações ocorridas ao longo dos anos provocam uma certa perplexidade e em muitos casos uma difícil assimilação com os novos costumes, modos e atitudes que a sociedade passa a exercer e nesse contexto a dificuldade fica explicita no contato com gerações mais novas cujos valores se diferenciam dos mais velhos, dando-se aí um conflito que se bem trabalhado pode trazer benefícios para os dois lados, já que um aprende com o outro numa troca de experiências muito enriquecedoras, evitando-se assim radicalismo e atitudes que possam dificultar o entendimento e a marcha evolutiva da humanidade.
Mas se o homem em sua trajetória esta fadado a evoluir sempre, ele tem que aprender a conviver com as diferenças, tolerá-las para poder situar-se dentro de seu tempo acompanhando as mudanças e fazendo de sua experiência um modelo positivo para as novas gerações, assim ele estará permanentemente atualizado e a idade só será percebida pelas transformações ocorridas no seu corpo físico, já que o espírito encontra-se jovem e em perfeita sintonia com o tempo presente.
Partindo desses pressupostos verificamos que o encontro de gerações pode contribuir para o enriquecimento da humanidade devendo ser estimulada em todos os níveis, e quando ela ocorre nas artes proporciona invariavelmente momentos de rara beleza, onde se verifica que entre o velho e o novo, só existem uma breve passagem de tempo cronológico entre um e outro, já que o talento não prevalece simplesmente por causa de cabelos brancos ou não.
Foi num desses belos momentos que se deu o encontro de Tom Jobim e Edu Lobo onde a madureza de um e a maturidade do outro se refletiu em momentos de encantamento poético/melódico perpetuados num disco por eles gravado em novembro de 1981 com o simples titulo de Edu & Tom, Tom & Edu, demonstrando que o encontro de gerações como foi dito pode e deve ser estimulado, pois neste caso, cada um trouxe além do talento inigualável, a característica individual que cada um tem sobre o processo de criação, sendo Edu Lobo "filho" da Bossa Nova e Tom Jobim um de seus mais importantes criadores, demonstrando que a fronteira entre gerações neste caso so existe para complementar-se e enriquecer mais ainda o lado belo da vida.
Convidado para participar como pianista numa das faixas de um LP que Edu Lobo estava preparando com a presença de inúmeros músicos e cantores, Tom Jobim ao adentrar nos estúdios iniciou a introdução de Pra dizer adeus, de Edu e Torquato Neto e pediu também para participar da gravação de Canção do amanhecer, de Edu e Vinicius de Moraes. Sob os olhares atentos do produtor Aloysio de Oliveira, este viu que existia uma perfeita sintonia entre os dois artistas e sugeriu então que Edu Lobo e Tom Jobim dividissem inteiramente o disco entre eles, modificando a idéia original da concepção do LP. O resultando foi brilhante, com elogios de ambas as partes, com Edu referindo-se a Tom Jobim como o traço mais amplo e perfeito de todos os arquitetos musicais que conhecia e Tom lembrando-se do menino que viu crescer e que se transformou num homem talentoso e musico respeitável pois, alem de belas canções, arranja, escreve, rege, canta e toca violão.
O repertório do disco é composto de musicas de ambos, todas inesquecíveis como, Ai, quem me dera, Tom Jobim e Marino Pinto; Pra dizer adeus, Edu Lobo e Torquato Neto, Chovendo na roseira, Tom Jobim; Moto contínuo, Edu Lobo e Chico Buarque; Ângela, Tom Jobim; Luiza, Tom Jobim; Canção do amanhecer, Edu Lobo e Vinicius de Moraes; Vento Bravo, Edu Lobo e Paulo César Pinheiro; É preciso dizer adeus, Tom Jobim e Vinicius de Moraes e Canto triste, Edu Lobo e Vinicius de Moraes.
Um disco para se ouvir sempre todas as vezes que se quiser apreciar momentos inesquecíveis da musica popular brasileira.
Músicas:
01 - Ai quem me dera (Tom Jobim - Marino Pinto)
02 - Pra dizer adeus (Edu Lobo - Torquato Neto)
03 - Chovendo na roseira (Tom Jobim)
04 - Moto contínuo (Edu Lobo - Chico Buarque)
05 - Ângela (Tom Jobim)
06 - Luiza (Tom Jobim)
07 - Canção do amanhecer (Edu Lobo - Vinícius de Moraes)
08 - Vento bravo (Edu Lobo - Paulo Cesar Pinheiro)
09 - É preciso dizer adeus (Tom Jobim - Vinícius de Morses)
10 - Canto triste (Edu Lobo - Vinícius de Moraes)
Ficha Técnica
Direção de produção: Aloysio de Oliveira
Técnicos de gravação: Ary Carvalhaes/Luiz Cláudio
Auxiliares: Julinho, Charles, Manuel e Carlos Jorge
Mixagem: Luigi Hoffer
Montagem: Wiliam Tardelli
Fotos: Ana Lontra Jobim/Januário Garcia
Layout e arte final: Jorge Viana
Estúdio: Polygram - Rio de Janeiro
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