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domingo, 3 de abril de 2016

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DA MPB

Por Bruno Negromonte



Nascido em Niterói, o carioca Jessé Florentino Santos foi criado em Brasília, de onde saiu para São Paulo já adulto. No período em que residiu na Capital Federal teve a oportunidade de corroborar com desejo do pai, que tinha a intenção de fundar uma Igreja no local onde moravam. De fato o pai realizou tal desejo ao fundar a Igreja Presbiteriana independente do Cruzeiro, onde Jessé arregaçou as mangas aos nove anos de idade e deu uma de carpinteiro, ajudando além de carregar os instrumentos, construir os primeiros assentos do local. Foi nesta Igreja as suas primeiras incursões no universo musical. No entanto foi a partir do sr. Cesarino, vizinho do pretenso artista, que obteve os seus primeiro aprendizados musicais teóricos. Jessé, como ficou conhecido nacionalmente a partir dos anos de 1980, começou a sua carreira na década anterior ao seu estrondoso sucesso nacional quando atuava como crooner em boates e casas de eventos de todo o país em grupos como o Corrente de Força e o Placa Luminosa (mesmo grupo que anos mais tarde viria a estourar em todo o território nacional a partir da execução da canção "Fica comigo"). Ainda nos anos de 1970 chegou a gravar em inglês canções como "If You Could Remember" (entre outras) sob o pseudônimo de Tony Stevens. No entanto, apesar de tal registro fonográfico o sucesso e o seu nome de batismo só viria a ser revelado ao grande público em 1980, no Festival MPB Shell da Rede Globo com a música "Porto Solidão" (canção oferecida pelo autor Zeca Bahia a nomes como Gilliard e Fábio Jr., que se negaram a gravar), sem dúvida alguma o seu maior sucesso. Com esta interpretação, o então concorrente além de ganhar o prêmio de melhor intérprete também teve a oportunidade de lançar, pela RGE, seu primeiro LP de título homônimo ao seu nome e que trazia, além de "Porto Solidão", faixas como "Voa liberdade" e "Palavra de honra", de autoria de Accioly Neto. Ao longo dos dois anos posteriores fez dois registros fonográficos que mantiveram o seu nome em evidência em todo o território nacional, até que em 1983 Jessé ganha o XII Festival da Canção Organização realizado em Washington.

O Brasil não tinha representante para o festival, Jessé resolveu por conta própria participar. No entanto para isso precisava de uma canção para levar aos Estados Unidos. Na véspera da viagem, por volta das 21 horas pega o seu irmão e vai para casa dar início a composição. Por volta das 23 horas liga para Elifas Andreato e pede que ele escreva uma letra para a nova composição. Elifas, mesmo acreditando que não daria conta, acaba por escrever uma letra para Jessé e a manda para o intérprete por volta das 02 horas da madrugada. Sete horas depois, às 09 da manhã, Jessé embarca para os EUA para arrebatar o jurado de modo ímpar, o cantor e compositor traz para o Brasil os prêmios de melhor intérprete, melhor canção e melhor arranjo para "Estrelas de Papel", canção de parceria inusitada entre o próprio intérprete e o artista plástico Elifas Andreato. A dupla ainda foi responsável pela composição da canção "Uma mulher", também gravada pelo cantor. De voz muito potente, Jessé sempre chamou a atenção do grande público por interpretações viscerais e emotivas, o que o acabou tornando bastante popular. Dentre seus registros fonográficos estão composições de nomes como Tom Jobim, Wagner Tiso, Chico Buarque, Belchior, Milton Nascimento, Sá e Guarabira, Angela Rô-Rô, Capiba, Fernando Brant, Jonh Lennon, Paul MacCartney, Pablo Milanés, Caetano Veloso, Carlinhos Vergueiro, Guilherme Arantes, Silvio Caldas, Orestes Barbosa entre outros ao longo dos anos em que atuou em palcos de todo o país, assim como também nos 12 discos que deixou como legado, dentre eles os álbuns duplos "O sorriso ao pé da escada" e "Sobre todas as coisas"Jessé faleceu após um trágico acidente automobilístico no dia 29 de março de 1993 no município paulista de Ourinhos quando estava a caminho do Paraná, onde iria se apresentar. Acompanhado da esposa (que estava grávida de cinco meses), o artista perdeu o controle do carro e capotou, fazendo com que a esposa perdesse o bebê e também ficasse em estado grave. Transferido para a santa casa municipal. o cantor que no acidente sofreu traumatismo craniano não resistiu e acabou tendo morte cerebral. Após decretada a sua condição, teve o seu corpo transferido para São Paulo afim de atender ao seu último desejo: a doação dos seus órgãos.

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