Movimento idealizado por Ariano Suassuna fez 45 anos em 2015
Por José Teles
Guerra-Peixe rege OACP; à direita, Cussy de Almeida, com o violino
Polêmica, mas inquestionavelmente bela, a música armorial, tem partituras do seu repertório fundamental editadas em Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco 45 anos (CEPE Editora), organizado pelo músico e professor Sérgio Nilsen Barba. São três volumes, iniciados com um texto que historia e contextualiza o armorialismo e a OACP. No primeiro, volume composições de Cussy de Almeida, Benny Wolkoff (só ou em parceria com Henrique Annes), Radamés Gnattali e Waldemar de Almeida. No segundo, Jarbas Maciel, Clóvis Pereira, José Tavares do Amorim, Antônio José de Madureira. O terceiro, é dedicado a Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa), e GuerraPeixe.
No primeiro volume, um texto conciso e preciso sobre as origens e desenvolvimento da Orquestra Armorial de Câmara de Pernambuco, sem deixar de lado um detalhe importante: a música armorial foi bem acolhida pelo regime da época, e quase institucionalizada como a música oficial de Pernambuco durante o governo Eraldo Gueiros (de 1971 a 1975). Um caso de proposta estética servindo, intencionalmente, ou não, a uma proposta ideológica. Barba não doura a pílula da história. Inclui em seu texto, inclusive, um concerto especial da OACP em 1971, no Grande Hotel, no Recife, para o general Garrastazu Médici. O que obviamente não tira o brilho nem qualidade da música.Criada pelo violinista e maestro Cussy de Almeida, quando assumiu o Conservatório Pernambucano de Música, a orquestra receberia o nome de batismo do escritor Ariano Suassuna.
A preocupação contra a internacionalização da música popular era preocupante para nacionalistas, como o compositor e cantor Geraldo Vandré, que demonizou o tropicalismo desde que testemunhou sua manifestações iniciais, no festival de MPB, da TV Record, em 1967. No ano seguinte, quando o tropicalismo foi finalmente equacionado pelo seus integrantes, Vandré empreendeu, uma cruzada por universidades debatendo com estudantes sobre a descaracterização da cultura brasileira, contra o tropicalismo. Não chegou a ir muito longe nestas catilinárias, por causa do AI5, que o forçou a sair do país.
Sem tomar conhecimento da cruzada de Vandré, No Recife, o professor e teatrólogo Ariano Suassuna, da corrente nacionalista na cultura brasileira, idealizou um corpo de ideias, batizado de armorial, com uma simbologia complexa, baseada em signos medievais, ao mesmo tempo em que refutava toda influência dos movimentos modernos, tropicalismo incluso, obviamente. Grosso modo, sua arte baseavase na cultura nordestina, sertaneja, ainda não corrompida pelos meios de comunicação. Carismático e influente, ele conseguiu reunir em torno do armorialismo um seleto time de criadores, escritores, artistas plásticos, compositores, músicos, que logo trabalhariam não sob sua orientação, como que abrigados numa grande redoma blindada para evitar e rechaçar os efeitos dos estrangeirismos.
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