Ao longo do último mês de outubro um dos maiores intérpretes do século XX estaria completando um século de existência caso estivesse vivo. Falar de Orlando Silva é refazer um percurso significativo de nossa música a partir não apenas do seu legado, mas também em toda a influência que causou em um número sem fim de artistas subsequentes ao seu apogeu artístico, que ocorreu entre os anos de 1930 e 1940. Apesar da carreira do artista ter começado a declinar a partir de 1942, o intérprete carioca fez escola dentro de nosso cancioneiro e dentre os alunos mais dedicados podemos citar nomes como Nelson Gonçalves e João Gilberto, o mito maior da bossa nova. Em seu primeiro disco solo, gravado em 1952, o cantor baiano procura adotar o estilo Orlando Silva de cantar. Nascido no subúrbio carioca do Engenho de Dentro, Orlando era filho do violonista José Celestino da Silva, instrumentista que por diversas vezes tocou ao lado do Pixinguinha no conjunto dos oito batutas. Anda criança tinha por hábito subir em uma Amoreira para imitar o seu ídolo Francisco Alves e tinha por hábito utilizar uma lata de manteiga e os ouvidos tampados com algodão para projetar sua voz, criando assim uma técnica que corroborou para o aperfeiçoamento do seu canto a partir da própria de emissão de sua voz.
Tendo seu pai falecido muito cedo, Orlando por ser muito pobre foi obrigado a procurar manter a família a partir de algumas colocações no mercado de trabalho. Antes de começar a cantar profissionalmente Orlando trabalhou nos mais distintos empregos. Seu primeiro emprego foi de estafeta da Western, com o salário de 3,50 cruzeiros por dia. Também foi sapateiro, vendedor de tecidos, mensageiro entre outros. Em um desses empregos, como office-boy, o jovem Orlando, aos 16 anos, cai do bonde e lesiona gravemente a sua perna. Foi a partir daí que deu-se o seu primeiro contato com a morfina, que lhe era administrada para o alívio das constantes dores ocasionadas pelo acidente. Neste longo período que ficou em casa para recuperar-se, restava-lhe apenas ouvir programas de rádio e cantar as canções dos seus grandes ídolos como Silvio Caldas, Francisco Alves entre outros. Sua janela ficava próxima a um dos pontos de ônibus do bairro e ao interpretar as canções emitidas do rádio acabava chamando a atenção dos transeuntes que apesar de não saberem de quem se tratava, em muitas ocasiões paravam encantados para ouvi-lo. Após recuperar-se do acidente e com dificuldades para caminhar, conseguiu um emprego de cobrador de ônibus. Ao longo de suas viagens, o trocador cantava e encantava não apenas os passageiros, mas também os colegas de trabalho. Impreterivelmente, ao chegar na garagem da empresa para trabalhar, Orlando tinha que cantar algumas canções antes de partir para a primeira viagem.
Vem desse período a sugestão para que procure um teste em alguma emissora de rádio afim de se profissionalizar. É quando, Apesar de tímido, aos 18 anos, ele fez um teste com o Luis Barbosa para a rádio Cajuti. Nesta primeira vez o pretenso artista apresentou-se com o nome artístico de Orlando Navarro e bastou Orlando cantar a valsa “Céu Moreno”, de autoria do potiguar Uriel Lourival, para que todos ali presentes pudessem atestar que estavam diante de uma das maiores promessas da música brasileira (Vale registrar que esta mesma canção acabou ganhando um antológico registro ainda no início da carreira de Orlando na Victor em 01 julho de 1935). Dentre os presentes no estúdio estava o compositor Alberto de Castro Simões da Silva, popularmente conhecido por Bororó (autor de canções como Curare e Da cor do pecado) que prontificou-se a apresentar Orlando a uma “pessoa especial”. O encontro com esta pessoa “especial” se deu no Café Nice, reduto de grandes músicos e compositores na época, e para a surpresa de Orlando tratava-se de ninguém mais, ninguém menos que o seu grande ídolo Francisco Alves. Bastou Orlando entoar a valsa-canção “Lágrimas”, composta por Antônio Picucci e Cândido “Índio” das Neves para que o Rei da voz atestar que estava diante de um talento.
Aos amigos leitores ficam as duas faixas citadas até então desse ícone do nosso cancioneiro popular. A primeira trata-se de “Céu Moreno”, como dito, canção de autoria de Uriel Lourival e gravada por Orlando no 78RPM em 1935:
A segunda canção é “Lágrimas”, faixa também gravada em 1935 e de autoria de Antônio Picucci e Cândido “Índio” das Neves:
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