Antônio Maria (Mar/1921 – Out/1964)
Hoje trarei mais algumas curiosidades sobre o nosso cancioneiro. Ao longo do último mês, tive a oportunidade de aqui, no Musicaria Brasil, contar algumas passagens interessantes na vida do poetinha Vinícius de Moraes, que na ocasião estava completando um século de existência. E abordar o nome do “branco mais preto do Brasil” (como o próprio Vinícius se auto intitulava) me fez lembrar de outra figura do nosso cancioneiro que por muitos anos acompanhou o poeta carioca em sua vida noturna assim como também em algumas situações inusitadas como veremos a seguir.
Quem conhece a biografia do Vinícius não desassocia-o da figura do poeta, cronista, comentarista esportivo e compositor pernambucano Antônio Maria. Parceiro de pena e de copo, Antônio era tão notívago quanto o poetinha, e isso os aproximaram-se de modo bastante intenso e essa aproximação além de uma grande amizade gerou uma parceria musical que rendeu canções como “Quando tu passas por mim”, “Dobrado de amor a São Paulo” e “Bate, coração”. Vale salientar que Antônio Maria foi autor de clássicos do nosso cancioneiro como as canções “Manhã de carnaval”, “Ninguém me ama”, “Frevo Nº 3 do Recife” entre outras.
Começou sua carreira como locutor da Rádio Clube de Pernambuco aos 17 anos. Dois anos depois resolve mudar-se para o Rio de Janeiro e arrisca a carreira de locutor esportivo na Rádio Ipanema. No Rio foi morar no Edifício Souza, na Cinelândia, no apartamento 1005. Este prédio tornou-se famoso por ter entre seus moradores nomes como Dorival Caymmi, Fernando Lobo e Abelardo Barbosa, que então ainda não era o famoso Chacrinha (o poeta e compositor descreve em sua coluna Pernoite, publicada na revista Manchete, um pouco dessa época em que morou no Souza). No entanto, por não ter alavancado a sua carreira passou apenas dez meses na então capital federal e resolveu voltar para o Recife onde acabou casando.
Como funcionário dos Diários Associados muda-se para duas cidades nordestinas: Fortaleza e Salvador. Na primeira vai trabalhar na Rádio Clube do Ceará, já na capital baiana trabalha como diretor. Por volta de 1947 volta ao Rio de Janeiro para trabalhar como diretor artístico na Rádio Tupi. Sendo em seguida convidado pelo próprio Assis Chateaubriand a ser o primeiro diretor de produção da TV Tupi, inaugurada em 20 de janeiro de 1951. No ano seguinte a então maior concorrente da Rádio Tupi, a Rádio Mayrink Veiga, contrata Antônio Maria por 50 mil cruzeiros, o salário mais alto do rádio brasileiro de então.
Vem dessa segunda estadia no Rio a sua aproximação ao então poeta, compositor e ainda diplomata Vinícius de Moraes. Dessa época uma passagem interessante na biografia do pernambucano, que ocorreu quando Maria precisou fazer uma viagem até São Paulo e como morria de medo de aviões passou a noite junto a Vinícius de Moraes que tentava o tranquilizar entre uma dose e outra. Todas as tentativas foram em vão. Vinícius o acompanhou até o aeroporto ainda na esperança de deixar o amigo mais tranquilo. No entanto, Antônio Maria manteve-se apreensivo até o momento do embarque.
Já dentro do avião, Maria senta-se ao lado de uma lindíssima loira que abriu a bolsa e retirou um dos livros do poetinha. Antônio, que sabia a obra de cor e salteado, não perdeu a oportunidade e citou um dos poemas existentes no livro em voz alta chamando atenção da mulher que estava ao seu lado. Ao perceber que a loira havia “caído em sua armadilha”, disse o nome do poema, a página onde ele encontrava-se e apresentou-se como sendo Vinícius de Moraes.
A partir daí o medo de avião esvaiu-se e a investida foi tão bem sucedida que “Vinícius de Moraes” conseguiu marcar um jantar a noite com a loira. A noite rendeu boas conversas e um convite do falsário (prontamente aceito pela loira) de passarem a noite juntos. Na volta ao Rio, Vinícius de Moraes foi recepcionar o amigo e saber como tinha sido a viagem. Encontrou um Antônio bem diferente daquele que havia saído do Rio e o questionou:
– O que lhe fez ficar assim tão animado?
Antônio respondeu:
– Tenho uma notícia boa e outra ruim, qual você quer primeiro Vinícius?
O poetinha responde que queria primeiro a notícia boa, aí então Maria começou a contar:
– Conheci uma baita loira no vôo e ela estava lendo um livro seu. Confesso que me apresentei como você e ela encantou-se por mim…
Vinícius por curiosidade nem deixou Antônio Maria terminar de contar a história e perguntou logo pela notícia ruim que foi respondida da seguinte forma:
– Meu amigo, após o aterrizagem marcamos um jantar e entre uma taça e outra a convidei para irmos até o local onde eu estava hospedado e não é que Vinícius de Moraes falhou…
Fica aqui duas belíssimas canções da lavra de Antônio Maria. A primeira trata-se de "Frevo Nº3", aqui na interpretação do cantor Geraldo Maia:
A segunda canção é outro belíssimo frevo na voz da consagradíssima Maria Bethânia e vem a ser o "Frevo Nº1":
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