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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

ZECA PAGODINHO TEM 20 ANOS DE SAMBA NA CAIXA PARTIDO ALTO

Sambas com a face alegre e bem humorada da periferia carioca

Por Jose Teles



Um dos grandes discos da história do samba chama­se Deixa Vida Me Levar (2002), de Zeca Pagodinho, mistura perfeita de sambas inéditos e clássicos do partido alto. É música ensolarada que combina com fundo de quintal, roda de samba rolando sob os galhos de uma árvore de copa frondosa, churrasquinho e cerveja gelada. E assim é quase toda a obra de Zeca Pagodinho, cujos 20 anos de contrato com a Universal Music são celebrados com a caixa Partido Alto, um conjunto de 20 discos, 17 álbuns lançados pelo selo. Três títulos incluídos na caixa foram gravados na antiga BMG. E ainda uma compilação, feita pelo jornalista pernambucano Cleodon Pedro Coelho, que também assina o texto do encarte que acompanha a coletânea.

O "Pagodinho" no nome artístico faz com que incautos incluam o sambista de Xerém nessa malta que surgiu para o grande público em meio a pagodaria que dominou o mercado musical nacional na primeira metade dos anos 1990, com grupos que diluíram o samba, aproximando­o do sertanejo brega (ou romântico como preferem muitos). No entanto, Zeca Pagodinho foi exatamente o anticorpo que defendeu o gênero dos sambeiros oportunistas, que trocaram o cavaquinho por teclados de churrascaria. Gravando centenas de composições de autores conhecidos, como Monarco, Beto Sem Braço, Ney Lopes, Roque Ferreira, Dona Yvone Lara, Martinho da Vila, ele também trouxe para seus discos uma legião de autores, boa parte dos quais, não fosse por ele, estaria até hoje com sua música engavetada.

Élcio do Pagode, Barbeirinho de Jacarezinho, Alcino "Ratinho" Correia, Beto Gago, Beto Sem Braço, Luiz Grande, Luiz Cláudio Picolé... A lista de fornecedores de sambas para Zeca Pagodinho é longa. A maioria continua desconhecida para além dos subúrbios onde vive, mas com músicas cantadas por milhares. "Você sabe o que é caviar/ nunca vi, nem comi/ eu sou ouço falar", de Caviar (2002), sambão de Luiz Grande, Barbeirinho do Jacarezinho e Marquinhos Diniz. Enquanto poucos saberiam dizer quem é Eri do Cais, pelos bares e rodas de sambas uma parceria dele com Serginho Meriti é reconhecida aos primeiros versos do refrão: "Deixa vida me levar/ vida leva eu" (Deixa a Vida me Levar, 2002).

Neste aspecto, Zeca Pagodinho se aproxima da genialidade de Luiz Gonzaga, que eternizou dezenas de composições de autores que de outra forma permaneceriam inéditos. A caixa acerta dois alvos com um só disparo. Este ano, Zeca Pagodinho completa também 30 anos de estreia em disco (sem contar a participação especial em álbum de Beth Carvalho). A RGE, em 1985, reuniu uma nova geração de sambistas cariocas (nem todos tão jovens assim) com a coletânea Raça Brasileira, que reunia Jovelina Pérola Negra, Elaine Machado, Pedrinho da Flor e Mauro Diniz. Em quatro faixas, Zeca Pagodinho mostra seu talento como intérprete ­ até então era conhecido no meio como compositor ­ e fecha o disco com um dueto com Jovelina Pérola Negra, na contagiante Bagaço da Laranja.

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