Por Luiz Américo Lisboa Junior
Baden Powell - As músicas de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro - "Os cantores de Lapinha" (1970)
Em todos os tempos sempre existiram talentos precoces que se fazem notar pela qualidade de seu trabalho surpreendendo os mais entusiasmados críticos ou as pessoas de um modo geral. Seja na pintura, artes plásticas, musica ou poesia, esses jovens artistas deixaram um legado cultural dos mais valiosos. No Brasil podemos citar Castro Alves na poesia, Noel Rosa na musica popular e Paulo César Pinheiro também na poesia, dedicada especialmente ao nosso cancioneiro. Há outros exemplos mas não necessitamos enumerá-los, basta que saibamos de sua existência, aliás este é um belo exercício de memória e conhecimento.
Um dos poetas mais gravados de toda história da música popular brasileira, Paulo César Pinheiro inicia sua produção muito cedo aos 14 anos de idade em 1964 quando faz a letra da canção Viagem, composta por João de Aquino e gravada por inúmeros intérpretes com muito sucesso, tornando-se um dos clássicos de nosso cancioneiro. Quem não se lembra de seus primeiros versos, "Oh tristeza me desculpe, estou de malas prontas, hoje a poesia vai ao meu encontro, já raiou o dia, vamos viajar..." Com este cartão de visitas, o garoto chamou a atenção de outros músicos de renome e freqüentando, sob as vistas atentas de seu pai, os ambientes musicais cariocas acabou conhecendo o violonista Baden Powell de quem era admirador tornando-se seu parceiro em inúmeras canções.
No ano de 1967 Baden e Paulo César já eram grandes amigos e a afinidade artística começava a se desenhar com mais nitidez até o dia em que o violonista apresentou uma melodia baseada num tema folclórico baiano e pediu que o amigo pusesse uma letra, iniciava-se ali uma fecunda parceria musical que iria proporcionar belos frutos a nossa musica popular. Depois de ouvir a melodia e o refrão folclórico recolhido por Baden, "Quando eu morrer me enterre na Lapinha, calça-culote, paletó almofadinha", Paulo César deu início ao restante da letra e em pouco tempo a música, um samba, ficou pronta levando o título de Lapinha. Inscrita na I Bienal do Samba promovido pela TV Record em 1968, conquistou o primeiro lugar defendida por Elis Regina que a gravou registrando um dos maiores êxitos de sua brilhante carreira.
A partir daí os dois amigos passaram a produzir com muita freqüência. Vivendo um momento tumultuado de sua vida pessoal, bebendo constantemente, Baden Powell acabou separando-se de sua mulher Tereza caindo em profundas depressões, sua fuga, então, era transportar para a música suas mágoas de amor e nesses dias difíceis compôs com Paulo César Pinheiro inúmeras canções como, Violão vadio, Refém da solidão, É de lei, Vou deitar e rolar e Aviso aos navegantes, todas dedicadas a ex esposa e apresentadas no show É de Lei produzido por Mieli e Boscoli estreado no Teatro da Praia em janeiro de 1970.
O repertório da dupla portanto já contava com musicas suficientes para serem registradas em um LP e este acabou sendo lançado ainda em 1970 pelo selo Elenco, já incorporado a CBD - Companhia Brasileira de Discos. Junto com Baden e seu violão para interpretar as dez músicas selecionadas que além das citadas incluía ainda Carta de poeta, Falei e disse, Samba do perdão e Ponto, esta última a única que não era da dupla e composta por Baden e João Mello, que também era o produtor do disco, foi convidada para participar como intérprete Elizete Cardoso, que já estava em estúdio gravando quando teve que declinar do projeto por motivos contratuais, pois era contratada da gravadora Copacabana que não a liberou, sendo então substituída por Cynara e Cyva do Quarteto em Cy e Ruy e Magro do MPB 4. Todas as canções do LP tornaram-se ao longo do tempo clássicos modernos da musica popular brasileira e foram reagravadas por outros intérpretes como Elizete Cardoso que registrou quatro musicas do disco em seu LP Falou e disse, também de 1970 e Elis Regina que fez o Brasil inteiro cantar, Vou deitar e rolar, que tinha como subtítulo Qua quara qua qua. Reunindo artistas de talento indiscutível e um repertório de primeira qualidade este disco traz momentos mágicos de dois grandes mestres de nosso cancioneiro, numa perfeita sintonia entre o poeta e violão.
Músicas:
01 - Aviso aos navegantes (Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
02 - Vou deitar e rolar (Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
03 - Refém da solidão (Ruy/Magro)
04 - Carta de poeta (Ruy/Magro)
05 - Lapinha (Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
06 - É de lei (Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
07 - Falei e disse (Baden/Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
08 - Ponto (Baden)
09 - Violão vadio (Ruy)
10 - Samba do perdão (Baden/Cynara/Cyva/Ruy/Magro)
Todas as musicas são de autoria de Baden Powell e Paulo César Pinheiro exceto Ponto com João Mello.
Ficha Técnica
Estúdio: CBD - Companhia Brasileira de Discos
Técnicos de gravação: Ary Carvalhaes e João dos S. Moreira
Direção artística: João Mello
Foto: Gil Prates
Layout: Nilo Jorge.
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