Depois de trazer os dez anos de saudades de Arrelia, vale relembrar este outro artista circense que marcou gerações em nosso país. Para relembrar o famoso palhaço o Musicaria Brasil republica uma reportagem sobre o artista que saiu, originalmente, em 2000 pela passagem dos 85 anos de idade de George Savalla Gomes, o Carequinha
Por Márcia Montojos e André Durão
Primeiro palhaço da televisão brasileira, George Savalla Gomes, o Carequinha, continua em plena atividade aos 85 anos. Todos os fins de semana, ele faz apresentações em alguma cidade do País, por um cachê de R$ 1 mil. “Tá certo ou não tá, garotada?”, repete, com o mesmo entusiasmo da época em que estreou o Circo Bombril, em 1951, na inauguração da extinta TV Tupi. Foram 13 anos de programa ao vivo com os companheiros Fred, Zumbi e o anão Meio Quilo. “Eles fizeram a maior besteira que poderiam ter feito: morreram”, diz, com seu incansável bom humor.
Em 1964, quando saiu da Tupi, foi à Itália receber o título de Palhaço Moderno do Mundo, prêmio conferido pelo governo daquele país. Ele diz ter sido o primeiro a imprimir esperteza ao personagem. “Fiz do palhaço um herói, um ídolo, e não um bobo que só levava farinha na cara”, explica Carequinha, cidadão honorário de oito capitais brasileiras.
O palhaço que fez rir sete gerações de crianças não ficou rico. Ele ganha R$ 1.100 de aposentadoria. Na confortável casa de três quartos, em São Gonçalo, no Rio, moram três de seus quatro filhos, Marlene, Wellington e Sílvia Cristina. “Isso é mania de quem sempre viveu em circo”, comenta. O outro filho de Carequinha chama-se Tayrone. O palhaço tem cinco netos e três bisnetos.
Carequinha surgiu quando o menino George tinha cinco anos e seu padrasto, Osório Portírio, dono de circo, pôs uma peruca careca na cabeça do garoto. E sentenciou. “A partir de hoje você é o Carequinha.” Ele gostou da idéia, sentiu que tinha o dom para fazer rir e não parou mais. Hoje usa tintas apropriadas para maquiar-se, mas houve um tempo em que seu nariz era feito com chiclete mastigado, moldado e pintado, que durava cerca de 90 dias. “Tinha de ser de hortelã, porque o de tutti frutti não dava liga.”
A origem circense acompanha três gerações da família. Seu avô materno era dono de circo no Peru. Sua mãe, Elisa, nascida no Brasil, era trapezista e malabarista. Foi numa das viagens de Carequinha com o circo do padrasto que ele conheceu a mulher, Eufídia Gomes. O encontro deu-se em Poços de Caldas (MG). “Conheci, namorei e casei em quinze dias”, conta. O casal comemorou uma união de 58 anos. Mas o palhaço nunca quis ter seu próprio circo nem que sua mulher ou filhos se dedicassem ao picadeiro. “A vida de artista é muito difícil no Brasil.”
MARCHA POLÊMICA
A saída de Carequinha do picadeiro para a televisão aconteceu por acaso. Em 1950, chegou ao Rio de Janeiro o circo italiano Sarranzi. Os proprietários abriram vagas para alguns brasileiros. E ele foi um dos escolhidos. Depois de um ano de sucesso no Sarranzi, em São Paulo, foi chamado para comandar o programa na Tupi, onde ficou até 1964. Carequinha também fez parte do primeiro elenco da Rede Manchete, inaugurada em 1981. Ficou quase três anos no ar até ser substituído peloClube da Criança, apresentado por Xuxa. Ele diz que não suportou o ritmo de gravações diárias do programa, que tinha Marlene Mattos como assistente de direção. “Era muito estressante”, diz. “A Xuxa é muito bonitinha, mas quem inventou brincar com crianças na televisão foi o Carequinha”, afirma.
O palhaço também se aventurou na carreira fonográfica. Foram 20 discos gravados. Seu primeiro grande sucesso foi em 1958, com a música “Fanzoca de Rádio”, de Miguel Gustavo. Era uma marchinha de carnaval que vários cantores da época se recusaram a gravar. A letra ironizava as donas de casa e empregadas domésticas que paravam o serviço para ficar ouvindo seus ídolos no rádio. Entre eles, a letra mencionava Emilinha Borba, o que causou grande alvoroço.
Diante da polêmica, Emilinha teve de ir às emissoras defender Carequinha e dizer que se sentia homenageada com a música. Como resultado, a música foi a campeã do Carnaval daquele ano, estourando nas rádios do Brasil.
Diretor do Sindicato dos Artistas Circenses, Carequinha desaprova o uso de animais nos atuais espetáculos de circo. “Antes, usavam, no máximo, pombas adestradas”, conta. Ele acredita que os bichos provocam medo nas crianças e considera perigosa a proximidade com a platéia. Também lamenta que os proprietários não sejam artistas, mas empresários. Mas não deixa de aplaudir Beto Carrero e o Circo Garcia, que apresentam superproduções para o público.
“As pessoas querem as novidades”, diz. “Por isso os circos de lona de antigamente não fazem mais sucesso.” Nomes como Arrelia, Piolim, Picolino, Torresmo e Chimarrão são lembrados com admiração, respeito e um pouco de saudosismo por ele. “O palhaço perdeu espaço para a tecnologia.
P.S. - O palhaço mais famoso do Brasil foi premiado na Itália, gravou 20 discos, emplacou marchinhas carnavalescas nas paradas de sucesso e trabalhou com Marlene Mattos na extinta Rede Manchete
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